
O novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou na quinta-feira (27/3) que o antigo relacionamento do país com os Estados Unidos, "baseado na integração profunda das nossas economias e na estreita cooperação nas áreas militar e de segurança, acabou".
Em entrevista à imprensa em Ottawa, após uma reunião do gabinete ministerial, Carney disse que os canadenses devem "basicamente reimaginar nossa economia" diante das tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump.
Na quarta-feira (26/3), Trump anunciou que aplicaria uma tarifa de 25% sobre as importações de carros e peças de veículos, e avisou: "Isso é permanente".
Carney afirmou que o Canadá vai responder com tarifas retaliatórias que vão ter "impacto máximo" sobre os EUA.
Durante a entrevista, o premiê canadense, que é líder do Partido Liberal, classificou ainda o acordo original entre o Canadá e os EUA sobre produtos automotivos, assinado em 1965, como o acordo mais importante da sua vida.
"Acabou com essas tarifas", ele declarou.
Ele acrescentou que o Canadá pode sustentar um setor automotivo com as tarifas dos EUA, desde que o governo e a comunidade empresarial trabalhem para "reimaginar" e "reformular" a indústria.
O Canadá precisa construir uma economia que os canadenses possam controlar, ele afirmou, e isso incluiria repensar suas relações comerciais com outros parceiros.
E, segundo ele, ainda não se sabe se os canadenses vão poder ter um relacionamento comercial forte com os EUA no futuro.
Carney mudou sua agenda de campanha às vésperas das eleições gerais do próximo mês para lidar com as últimas tarifas de importação impostas por Trump.

Os EUA já impuseram parcialmente uma tarifa geral de 25% sobre os produtos canadenses, assim como uma taxa de 25% sobre todas as importações de alumínio e aço. Até o momento, o Canadá retaliou com cerca de 60 bilhões de dólares canadenses (aproximadamente R$ 240 bilhões) de tarifas sobre os produtos americanos.
As novas tarifas sobre automóveis vão entrar em vigor em 2 de abril, com a cobrança sobre empresas que importam veículos começando no dia seguinte, informou a Casa Branca. Os impostos sobre peças devem começar em maio ou mais adiante.
Na manhã de quinta-feira, Trump alertou o Canadá e a União Europeia para não unirem forças contra os EUA na guerra comercial.
"Se a União Europeia trabalhar com o Canadá para causar danos econômicos aos EUA, tarifas em grande escala, muito maiores do que as atualmente planejadas, vão ser impostas a ambos", ele postou em sua plataforma Truth Social.
Carney se reuniu com seus ministros em Ottawa na manhã de quinta-feira para "discutir opções comerciais". Originalmente, ele havia se programado para fazer campanha em Quebec.
Durante a coletiva de imprensa após a reunião, ele disse que Trump havia entrado em contato com ele na noite anterior para agendar um telefonema, e que isso aconteceria "nos próximos dias":
Se isso acontecer, este será o primeiro telefonema entre os dois.
Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, o principal partido de oposição, chamou as tarifas de "injustificadas e sem motivo".
O NDP, um partido de esquerda que anteriormente ajudou a sustentar o governo minoritário liberal do ex-primeiro-ministro Justin Trudeau, também mudou seus planos de campanha na quinta-feira.
Jagmeet Singh, líder do NDP, passou o dia se reunindo com líderes sindicais e trabalhadores do setor automotivo na cidade canadense de Windsor, em Ontário, um centro de fabricação de automóveis próximo a Detroit, no Estado de Michigan, nos EUA.
Ele disse que as tarifas dos EUA são uma "traição" contra um aliado próximo — "Donald Trump iniciou uma guerra comercial ilegal com o Canadá" por "absolutamente nenhuma razão", segundo ele.
Ele afirmou que qualquer empresa automobilística que transferir suas operações para fora do Canadá por causa das tarifas deveria ser impedida de vender carros no país.
Os canadenses vão às urnas em 28 de abril.
Os EUA importaram cerca de oito milhões de carros no ano passado — o que representa cerca de US$ 240 bilhões em comércio, e aproximadamente metade das vendas totais.

No início deste mês, depois de se tornar líder do Partido Liberal e antes de tomar posse como primeiro-ministro, Carney fez um discurso de vitória no qual criticou o presidente dos EUA.
"Uma pessoa que cultua o altar de Donald Trump vai se ajoelhar diante dele, não vai enfrentá-lo", ele disse, enquanto atacava seu principal adversário, Poilievre.
O México é o principal fornecedor de carros para os EUA, seguido pela Coreia do Sul, Japão, Canadá e Alemanha.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, se recusou a comentar diretamente sobre as novas tarifas automotivas durante uma coletiva de imprensa na manhã de quinta-feira.
Ela prometeu que seu governo "vai sempre defender o México" e lutar para manter a geração de empregos e proteger as empresas mexicanas afetadas pelas tarifas de importação.
Ela disse ainda que o México daria uma "resposta integral" às tarifas do governo Trump em 3 de abril, um dia após muitas delas entrarem em vigor.
Sheinbaum lembrou repetidamente que muitas montadoras dos EUA têm operações no México e no Canadá, que estão vinculadas a um acordo de livre comércio na América do Norte que o próprio Trump negociou durante seu primeiro mandato na Casa Branca.
"É claro que não deveria haver tarifas", afirmou ela na quinta-feira. "Essa é a essência do acordo de livre comércio."
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