
Os Estados Unidos ainda estão digerindo uma grave falha de segurança ocorrida no centro do governo Donald Trump.
Trata-se da história de como um jornalista – Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic – foi adicionado a um grupo de mensagens da plataforma Signal que, aparentemente, incluía o vice-presidente americano, J.D. Vance, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, e o Conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz.
O tema que estava sendo discutido era o ataque dos Estados Unidos aos houthis, o grupo iemenita apoiado pelo Irã.
Goldberg declarou ter observado planos militares secretos para os ataques, incluindo envios de armas, alvos e horários, duas horas antes que caíssem as bombas.
Mas, resumidamente, quais são as principais revelações do ocorrido?
1 - Vance questiona ideias de Trump
Goldberg relatou que a conta com o nome J.D. Vance escreveu, sobre a ação militar: "Acho que estamos cometendo um erro."
O vice-presidente declarou que o ataque às forças houthis que enfrentam navios no Canal de Suez atende mais aos interesses europeus do que aos Estados Unidos, já que a Europa detém o maior tráfego comercial pelo canal.
Vance destacou que seu chefe talvez não tivesse conhecimento de como as ações americanas poderiam ajudar a Europa.
"Não tenho certeza de que o presidente sabe como isso é inconsistente com sua mensagem sobre a Europa no momento", disse Vance. "Existe ainda o risco de vermos um pico de moderado a grave dos preços do petróleo."
O vice-presidente prosseguiu, segundo Goldberg, afirmando que ele apoiaria o consenso, mas preferiria atrasar o ataque em um mês.
Goldberg contou na sua reportagem que o porta-voz do vice-presidente enviou a ele uma declaração posterior, destacando que Trump e Vance haviam mantido "conversas subsequentes sobre este assunto e estão em completo acordo".
Desde que chegou ao poder, Trump vem censurando seus aliados europeus da Otan.
O presidente americano os forçou a aumentar seus gastos com a defesa e insiste frequentemente que a Europa precisa assumir a responsabilidade pela proteção dos seus interesses.
2 - Culpa da Europa 'parasita'
Os argumentos a favor do ataque militar contra os houthis e por que os Estados Unidos poderiam – e deveriam – entrar em ação não convenceram J.D. Vance.
O vice-presidente disse ao secretário da Defesa: "Se você acha que devemos fazer, vamos lá. Eu só odeio socorrer a Europa outra vez."
Hegseth respondeu: "Compartilho totalmente seu repúdio pelo parasitismo europeu. É PATÉTICO."
Um membro do grupo, identificado apenas como "SM", sugeriu que, após o ataque, os Estados Unidos deveriam "deixar claro para o Egito e a Europa o que esperamos em troca".
"Se a Europa não nos compensar, o que acontece?", perguntou ele. "Se os Estados Unidos restaurarem com sucesso a liberdade de navegação, com grandes custos, é preciso ter algum ganho econômico adicional extraído em resposta."
3 - Depois do ataque: emojis e orações
Goldberg indica que o chefe de Segurança Nacional dos Estados Unidos postou três emojis após o ataque: "um soco, uma bandeira americana e fogo".
O enviado especial americano para o Oriente Médio, Steve Witkoff, respondeu com cinco emojis, segundo Goldberg: "duas mãos rezando, um dos bíceps flexionado e duas bandeiras americanas".
Já o secretário de Estado, Marco Rubio, e a chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, enviaram mensagens de apoio, segundo o jornalista.
"Farei uma oração pela vitória", declarou Vance, durante as atualizações sobre os ataques. E dois outros membros acrescentaram emojis de oração, segundo Goldberg.
4 - O controle da mensagem: a culpa é de Biden
Sobre as preocupações de Vance de que a ação pudesse ser considerada contrária às mensagens de Trump sobre a Europa, o secretário da Defesa dos Estados Unidos escreveu:
"VP: Entendo suas preocupações – e apoio totalmente que você as levante com POTUS [Trump]. Considerações importantes, a maioria delas difíceis de saber como irão se desenrolar (economia, paz na Ucrânia, Gaza etc.)."
"Acho que transmitir a mensagem será difícil, não importa o que aconteça – ninguém sabe quem são os houthis – e é por isso que precisaríamos nos concentrar em: (1) Biden fracassou e (2) o Irã financiou."
O governo Trump vem frequentemente culpando Joe Biden por ter sido leniente demais com o Irã.
5 - Waltz em destaque
Goldberg afirmou que recebeu um convite não solicitado na plataforma de mensagens Signal no dia 11 de março, de uma conta identificada como sendo de Michael Waltz. E foi adicionado ao grupo de bate-papo sobre o Iêmen dois dias depois.
O presidente não fazia parte deste grupo, mas sim os colaboradores mais próximos de Trump. Inicialmente, Goldberg achou que o grupo fosse falso, mas logo percebeu que era real.
Essa questão aumenta a pressão sobre Waltz, como conselheiro de Segurança Nacional. Deputados e senadores democratas pedem uma investigação urgente.
Questionado sobre o incidente na segunda-feira, Trump respondeu que não sabia de nada, mas defendeu Waltz. E o secretário da Defesa, Pete Hegseth, também declarou que nenhum segredo foi revelado.
"Ninguém estava divulgando planos de guerra", disse Hegseth aos jornalistas.
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