
"Nós vivemos um genocídio, com o assassinato deliberado de mulheres, crianças e idosos. O bloqueio tem sido usado para matar de fome e humilhar a Faixa de Gaza", desabafou ao Correio o palestino Abdullah Omar. Ele classificou a situação como "catastrófica, muito difícil e horrível". "Não há eletricidade nem água potável. Também estamos sem comida, por causa do fechamento da passagem fronteiriça de Rafah, controlada por Israel. Estamos sitiados por todos os lados. Israel bombardeia inocentes e destrói nossa infraestrutura." Até a noite desta quinta-feira (20/3), os ataques aéreos tinham deixado 570 mortos desde a madrugada de terça-feira, quando o cessar-fogo chegou ao fim. As Forças de Defesa de Israel (IDF) ampliaram a ofensiva terrestre, em resposta ao lançamento de foguetes do grupo terrorista Hamas contra Tel Aviv. Na véspera, as tropas tinham reforçado o controle sobre o Corredor Netzarim, cortando a Faixa de Gaza ao meio.
Morador da Cidade de Gaza, Motasem Dalloul, jornalista palestino de 44 anos que perdeu a mulher e dois filhos na guerra, afirmou à reportagem que as forças de Israel prosseguiram com os bombardeios à Faixa de Gaza. "Os ataques se concentram na parte norte de Gaza, mas houve disparos também no sul. O Exército israelense começou as operações terrestres na área de Shabura, em Rafah (sul)", relatou, por telefone. De acordo com ele, todos os hospitais do enclave palestino sofrem com ab grave falta de insumos e equipamentos médicos. "Essas instalações também foram atingidas pelos soldados e operam com capacidade parcial."
Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA (agência da ONU para refugiados palestinos), lamentou à agência France-Presse "um desencadeamento sem fim das provas mais desumanas". Apesar do agravamento da crise humanitária, a Casa Branca anunciou que o presidente Donald Trump "apoia totalmente" a retomada da ofensiva militar em Gaza. Se o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, segue contando com o aval inabalável de seu aliado histórico, no campo doméstico, a tensão aumenta. Manifestantes se reuniram em frente à residência do premiê, em Jerusalém, para protestar contra o fracasso do cessar-fogo e o retorno dos bombardeios. Eles também denunciaram um ataque à democracia realizado por Netanyahu, uma referência ao plano de demissão de Ronen Bar, chefe do Shin Bet, a agência de segurança interna. A polícia reprimiu o ato com canhões d'água.