ESTADOS UNIDOS

O que o Brasil tem a ver com o assassinato de John F. Kennedy?

Documentos relacionados à morte do ex-presidente dos EUA divulgados pelos Arquivos Nacionais do país na última terça-feira (18/3), a pedido de Donald Trump, mencionam Brasil algumas vezes

John Kennedy -  (crédito: Reprodução/WikiCommons)
x
John Kennedy - (crédito: Reprodução/WikiCommons)

Os Arquivos Nacionais dos Estados Unidos publicaram, na terça-feira (18/3), os últimos 2.182 documentos sobre o assassinato do ex-presidente americano John F. Kennedy que ainda permaneciam sigilosos. A ordem foi dada pelo atual governante do país, Donald Trump, logo após a posse, em janeiro deste ano.

Apesar de o órgão ter publicado, nas últimas décadas, cerca de 97% dos arquivos relacionados ao assassinato de JFK em 1963, que alimenta teorias da conspiração até hoje, outros milhares — cerca de 3% — foram retidos por motivo de segurança nacional, a pedido da Agência Central de Inteligência (CIA) e do FBI. 

No dia 23 de janeiro, Trump assinou decreto para retirar o sigilo sobre os arquivos restantes; bem como sobre os relativos aos assassinatos do irmão do ex-presidente, Robert F. Kennedy, e de Martin Luther King Jr. — ambos ocorridos em 1968. 

De acordo com a diretriz do presidente Donald Trump [...], todos os arquivos que previamente eram mantidos como classificados (sigilosos) e que são parte da coleção do assassinato do presidente John F. Kennedy tornam-se públicos”, informou publicação no site da Administração Nacional de Arquivos e Registros. 

Nos documentos, o Brasil é mencionado algumas vezes em trechos relativos à Guerra Fria, ocorrida entre 1947 e 1991, e à influência de Cuba na América Latina. Uma vez que o assassino de JFK, Lee Harvey Oswald, havia desertado para a União Soviética em 1959, há muitos documentos referentes ao comunismo. O levantamento das citações foi feito pelo g1.

Um telegrama da CIA de 1961, por exemplo, menciona a recusa do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola — lider do movimento para garantir a posse de João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros — a oferta de apoio material de China e de Cuba. A informação teria sido fornecida aos EUA por “professor universitário brasileiro com bons contatos entre líderes estudantis comunistas”. 

  •  WASHINGTON, DC - MARCH 04: U.S. President Donald Trump addresses a joint session of Congress at the U.S. Capitol on March 04, 2025 in Washington, DC. President Trump was expected to address Congress on his early achievements of his presidency and his upcoming legislative agenda.   Andrew Harnik/Getty Images/AFP (Photo by Andrew Harnik / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
    WASHINGTON, DC - MARCH 04: U.S. President Donald Trump addresses a joint session of Congress at the U.S. Capitol on March 04, 2025 in Washington, DC. President Trump was expected to address Congress on his early achievements of his presidency and his upcoming legislative agenda. Andrew Harnik/Getty Images/AFP (Photo by Andrew Harnik / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP) Getty Images via AFP
  • Trump mudou o nome do Golfo do México para Golfo da América, além de alterar a nomenclatura do pico Denali, do Alasca, para Monte McKinley. As mudanças foram ordenadas por Trump horas depois de assumir a presidência e cumpriu uma promessa de campanha
    Trump mudou o nome do Golfo do México para Golfo da América, além de alterar a nomenclatura do pico Denali, do Alasca, para Monte McKinley. As mudanças foram ordenadas por Trump horas depois de assumir a presidência e cumpriu uma promessa de campanha Mandel NGAN / AFP
  • Trump concedeu o perdão presidencial para 1.500 
envolvidos na invasão do Capitólio em 6 de janeiro. À época, o republicano chamou os condenados de
    Trump concedeu o perdão presidencial para 1.500 envolvidos na invasão do Capitólio em 6 de janeiro. À época, o republicano chamou os condenados de "reféns do 6 de janeiro" e afirmou que a maioria dos envolvidos "não fez nada de mais" AFP
  • Donald Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris — principal tratado para a redução das emissões de carbono— da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Conselho de Direitos Humanos da ONU e e suspendeu ajuda aos palestinos
    Donald Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris — principal tratado para a redução das emissões de carbono— da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Conselho de Direitos Humanos da ONU e e suspendeu ajuda aos palestinos Jim Watson/Pool/AFP
  • Trump, em janeiro, ofereceu um plano de demissão voluntária para cerca de 2 milhões de servidores do governo federal. O empresário Elon Musk, responsável pela coordenação de eficiência governamental dos EUA, afirmou que a oferta era
    Trump, em janeiro, ofereceu um plano de demissão voluntária para cerca de 2 milhões de servidores do governo federal. O empresário Elon Musk, responsável pela coordenação de eficiência governamental dos EUA, afirmou que a oferta era "muito generosa" Mandel Ngan/AFP
  • O republicano assinou uma ordem executiva que proíbe cidadãos com menos de 19 anos de se submeterem à transição de gênero
    O republicano assinou uma ordem executiva que proíbe cidadãos com menos de 19 anos de se submeterem à transição de gênero Mandel Ngan/AFP
  • De acordo com decreto assinado por Trump em fevereiro, tarifa de 25% sobre aço e alumínio deveriam entrar em vigor a partir de 12 de março. Brasil é um dos principais afetados
    De acordo com decreto assinado por Trump em fevereiro, tarifa de 25% sobre aço e alumínio deveriam entrar em vigor a partir de 12 de março. Brasil é um dos principais afetados Getty Images via AFP
  • Donald Trump ameaçou a tomar o controle da Groenlândia, do Canal do Panamá da Groenlândia, da Faixa de Gaza. Ele chegou a postar um vídeo de IA que mostra Gaza com resorts com estátua de ouro
    Donald Trump ameaçou a tomar o controle da Groenlândia, do Canal do Panamá da Groenlândia, da Faixa de Gaza. Ele chegou a postar um vídeo de IA que mostra Gaza com resorts com estátua de ouro AFP
  • Donald Trump, fez no ínicio de março um discurso com uma hora e quarenta minutos de duração. Em sua fala, o republicano ressaltou as ações que realizou nas primeiras semanas de seu segundo governo
    Donald Trump, fez no ínicio de março um discurso com uma hora e quarenta minutos de duração. Em sua fala, o republicano ressaltou as ações que realizou nas primeiras semanas de seu segundo governo AFP

Um relatório da agência de 1964, logo após o golpe militar no Brasil, afirma que esforços de “inspiração” de Cuba para revoluções na América Latina falharam várias vezes — inclusive com a derrubada de João Goulart pelo golpe militar, que segundo o arquivo seria “dura derrota” para Havana, capital cubana. Apesar disso, diz o relatório, grupos dentro de países latinos, incluindo o Brasil, continuariam recebendo apoio e financiamento de Cuba. 

Além disso, dois diplomatas brasileiros teriam sido usados pelo governo norte-americano, em 1962, para enviar cartas, mapas e dinheiro entre Miami e Havana — cidades onde o Brasil tinha missões diplomáticas. 

Outros documentos da CIA apontam ações políticas e de propaganda dos Estados Unidos em países do Caribe e da América Latina, entre eles o Brasil, a fim de conter influência de Cuba em países americanos. Entre as ações, campanhas para influenciar a opinião pública, campanhas de propaganda que mencionavam condições de trabalho em China e em Cuba e outras operações cujo objetivo era enfraquecer a “presença comunista” na região — um dos principais focos de boicote era um encontro da Federação Sindical Unificada para a América Latina previsto para 1964 no Rio de Janeiro. 

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Assassinato de Kennedy 

No dia 22 de novembro de 1963, o 35º presidente dos Estados Unidos, o republicano John F. Kennedy, de então 46 anos, foi assassinado a tiros durante uma passeata em Dallas, no Texas, enquanto desfilava em um carro conversível com a esposa, Jackie. 

À época, a comissão que investigou o crime determinou que o assassino foi o ex-fuzileiro naval Lee Harvey Oswald, que teria agido sozinho e foi assassinado dois dias após matar Kennedy — o que eliminou a principal fonte para a investigação. Oswald havia desertado para a antiga União Soviética em 1959, mas retornou aos Estados Unidos em 1962. 

Apesar da resolução, teorias da conspiração, principalmente as que sugeriam um complô, não só não foram eliminadas como ganharam força devido à forma lenta com que os arquivos governamentais eram divulgados. 

Com a divulgação dos últimos documentos que ainda restavam sigilosos, especialistas em Kennedy estimam, segundo a agência de notícias France-Presse, que provavelmente não há mais revelações impactantes acerca do assassinato do ex-presidente. Isso porque a maioria dos registros que já haviam sido publicados eram arquivos brutos de inteligência — como relatórios de agentes da CIA e do FBI — que seguiam pistas improdutivas. 

Segundo a AFP, a maioria do conteúdo dos documentos já era conhecida, como o fato que, as agências americanas à época obcecadas pelo comunismo, elaboraram vários planos para assassinar o líder cubano Fidel Castro e conter a influência de Cuba em outros países, principalmente nos latinos. 

Os especialistas em Kennedy afirmam, porém, que os arquivos divulgados no último dia 18 não vão colocar ponto final em teorias da conspiração sobre o assunto. 

Lara Perpétuo
postado em 19/03/2025 21:53 / atualizado em 19/03/2025 21:54