
Os Arquivos Nacionais dos Estados Unidos publicaram, na terça-feira (18/3), os últimos 2.182 documentos sobre o assassinato do ex-presidente americano John F. Kennedy que ainda permaneciam sigilosos. A ordem foi dada pelo atual governante do país, Donald Trump, logo após a posse, em janeiro deste ano.
Apesar de o órgão ter publicado, nas últimas décadas, cerca de 97% dos arquivos relacionados ao assassinato de JFK em 1963, que alimenta teorias da conspiração até hoje, outros milhares — cerca de 3% — foram retidos por motivo de segurança nacional, a pedido da Agência Central de Inteligência (CIA) e do FBI.
No dia 23 de janeiro, Trump assinou decreto para retirar o sigilo sobre os arquivos restantes; bem como sobre os relativos aos assassinatos do irmão do ex-presidente, Robert F. Kennedy, e de Martin Luther King Jr. — ambos ocorridos em 1968.
“De acordo com a diretriz do presidente Donald Trump [...], todos os arquivos que previamente eram mantidos como classificados (sigilosos) e que são parte da coleção do assassinato do presidente John F. Kennedy tornam-se públicos”, informou publicação no site da Administração Nacional de Arquivos e Registros.
Nos documentos, o Brasil é mencionado algumas vezes em trechos relativos à Guerra Fria, ocorrida entre 1947 e 1991, e à influência de Cuba na América Latina. Uma vez que o assassino de JFK, Lee Harvey Oswald, havia desertado para a União Soviética em 1959, há muitos documentos referentes ao comunismo. O levantamento das citações foi feito pelo g1.
Um telegrama da CIA de 1961, por exemplo, menciona a recusa do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola — lider do movimento para garantir a posse de João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros — a oferta de apoio material de China e de Cuba. A informação teria sido fornecida aos EUA por “professor universitário brasileiro com bons contatos entre líderes estudantis comunistas”.
Um relatório da agência de 1964, logo após o golpe militar no Brasil, afirma que esforços de “inspiração” de Cuba para revoluções na América Latina falharam várias vezes — inclusive com a derrubada de João Goulart pelo golpe militar, que segundo o arquivo seria “dura derrota” para Havana, capital cubana. Apesar disso, diz o relatório, grupos dentro de países latinos, incluindo o Brasil, continuariam recebendo apoio e financiamento de Cuba.
Além disso, dois diplomatas brasileiros teriam sido usados pelo governo norte-americano, em 1962, para enviar cartas, mapas e dinheiro entre Miami e Havana — cidades onde o Brasil tinha missões diplomáticas.
Outros documentos da CIA apontam ações políticas e de propaganda dos Estados Unidos em países do Caribe e da América Latina, entre eles o Brasil, a fim de conter influência de Cuba em países americanos. Entre as ações, campanhas para influenciar a opinião pública, campanhas de propaganda que mencionavam condições de trabalho em China e em Cuba e outras operações cujo objetivo era enfraquecer a “presença comunista” na região — um dos principais focos de boicote era um encontro da Federação Sindical Unificada para a América Latina previsto para 1964 no Rio de Janeiro.
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Assassinato de Kennedy
No dia 22 de novembro de 1963, o 35º presidente dos Estados Unidos, o republicano John F. Kennedy, de então 46 anos, foi assassinado a tiros durante uma passeata em Dallas, no Texas, enquanto desfilava em um carro conversível com a esposa, Jackie.
À época, a comissão que investigou o crime determinou que o assassino foi o ex-fuzileiro naval Lee Harvey Oswald, que teria agido sozinho e foi assassinado dois dias após matar Kennedy — o que eliminou a principal fonte para a investigação. Oswald havia desertado para a antiga União Soviética em 1959, mas retornou aos Estados Unidos em 1962.
Apesar da resolução, teorias da conspiração, principalmente as que sugeriam um complô, não só não foram eliminadas como ganharam força devido à forma lenta com que os arquivos governamentais eram divulgados.
Com a divulgação dos últimos documentos que ainda restavam sigilosos, especialistas em Kennedy estimam, segundo a agência de notícias France-Presse, que provavelmente não há mais revelações impactantes acerca do assassinato do ex-presidente. Isso porque a maioria dos registros que já haviam sido publicados eram arquivos brutos de inteligência — como relatórios de agentes da CIA e do FBI — que seguiam pistas improdutivas.
Segundo a AFP, a maioria do conteúdo dos documentos já era conhecida, como o fato que, as agências americanas à época obcecadas pelo comunismo, elaboraram vários planos para assassinar o líder cubano Fidel Castro e conter a influência de Cuba em outros países, principalmente nos latinos.
Os especialistas em Kennedy afirmam, porém, que os arquivos divulgados no último dia 18 não vão colocar ponto final em teorias da conspiração sobre o assunto.