
Em visita a Brasília, Varsen Aghabekian Shaheen, ministra de Estado para Assuntos Exteriores e Expatriados do Estado da Palestina, assinou um Protocolo de Consultas Políticas com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, no Palácio do Itamaraty, na última segunda-feira (17/3). A palestina apresentou a Vieira o plano de reconstrução da Faixa de Gaza e enfatizou a relevância do apoio do Brasil à próxima Conferência Internacional de Paz. Em entrevista ao Correio, Varsen Shaheen falou sobre a retomada dos ataques israelenses à Faixa de Gaza, afirmou que o premiê Benjamin Netanyahu usa a guerra para se perpetuar no poder e garantiu que os palestinos resistirão fortemente contra uma expulsão em direção ao Sinai (no Egito). "Matanças diárias e destruição massiva jamais trarão paz a Israel", declarou a ministra de Estado, pós-doutora em Estudos Políticos e Administrativos pela Universidade de Pittsburgh (EUA).
O que está por trás da tática de Israel de retomar os bombardeios à Faixa de Gaza?
A realidade é que Israel tem violado o cessar-fogo desde o primeiro dia. Quero lembrar-lhe que, depois de 19 de janeiro, quando o cessar-fogo passou a vigorar, Israel matou uma média de três palestinos a cada 24 horas. Todos os dias temos assassinatos e bombardeios a palestinos na Faixa de Gaza. Somente na terça-feira, mais de 400 palestinos foram mortos e 600 ficaram feridos. Esses crimes de guerra cometidos contra nosso povo são parte da ideia de Netanyahu e de seu governo de ampliar essa guerra genocida o tanto quanto possível. Isso para que Netanyahu permaneça no poder e forneça a ilusão de que a manutenção dos ataques massivos à Faixa de Gaza trará paz à região. O que isso faz a Israel e aos povos da região é matar mais pessoas todos os dias. Matanças diárias e destruição massiva jamais trarão paz a Israel. Ele está tentando agradar a si mesmo ao ampliar seu tempo no poder e ao seu governo de extrema-direita.
A senhora vê cumplicidade dos Estados Unidos nos ataques à Faixa de Gaza?
Os EUA têm demonstrado apoio inabalável a Israel durante décadas. Eles têm permanecido ao lado de Israel e de sua não conformidade com o direito internacional. O que gostaríamos de ver, por parte dos EUA, é que eles sigam boa parte dos países e defendam a responsabilização de Israel. Queremos que levem em conta o direito internacional. Não pedimos nada acima ou abaixo disso. Nossos direitos estão consagrados na lei internacional. Queremos que os EUA exerçam sua influência para forjar uma paz verdadeira. O presidente Trump sempre disse que deseja paz para a região. Isso significa respeitar os direitos dos palestinos e o direito de materialização de um Estado palestino soberano em sua própria terra. Essa terra compreende 22% da Palestina histórica. O Estado palestino foi reconhecido por 149 países e pelas Nações Unidas.
Há evidências de que Israel tentará expulsar os palestinos de Gaza para o Sinai, no Egito?
Qualquer expulsão ou deslocamento de palestinos será combatida fortemente por todos os palestinos, sejam eles deslocamentos forçados ou voluntários. Porque realmente não existe tal coisa voluntária. Quando você torna a vida tão difícil para as pessoas, elas se mudam, em busca de um futuro melhor. Mas elas se veem forçadas a fazer isso. Posso assegurar-lhe que cada palestino gostaria de permanecer em sua terra e de resistir ao deslocamento.
O que a comunidade internacional deve fazer para pôr fim aos bombardeios em Gaza?
Queremos que Israel cumpra com as normas da Corte Internacional de Justiça (CIJ), a mais alta autoridade legal no mundo. Ela foi muito clara acerca da ilegalidade da ocupação e da necessidade de desmantelar essa ocupação em um prazo de 12 meses. Todos os países que amam a liberdade pedem o cumprimento dessas normas. Há uma aliança global em prol da materialização do status quo baseado em dois Estados. É hora de empoderar e ajudar o Estado palestino a fortalecer sua presença no terreno. Também teremos uma conferência de paz que será realizada em Nova York e tratará do reconhecimento do Estado palestino e de seu empoderamento. Também haverá a criação de iniciativas de ajuda à reconstrução de Gaza.
Como vê o papel do Brasil nesse contexto?
O Brasil sempre tem apoiado os direitos dos palestinos. Temos uma posição de destaque dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com base no direito internacional. Nós agradecemos todos os países que amam a liberdade que defendem os direitos das pessoas. O Brasil tem oferecido apoio inabalável e pode influenciar países da região e o mundo. Esperamos que, um dia, essa influência nos aproxime da paz no Oriente Médio e da soberania dos palestinos.