EUROPA

Alemanha aprova histórico plano de investimento em defesa e infraestrutura

O texto impulsionado pelo futuro chanceler conservador Friedrich Merz pode abrir caminho para gastos em defesa de um trilhão de euros na próxima década

Friedrich Merz (C-L), líder da União Democrata Cristã (CDU) da Alemanha, fala durante uma sessão do Bundestag (câmara baixa do parlamento) em 18 de março de 2025 em Berlim, Alemanha. Os legisladores alemães votarão em um grande aumento de gastos para defesa e infraestrutura proposto pelo futuro chanceler Friedrich Merz em meio à preocupação com o comprometimento dos Estados Unidos com a segurança da Europa. Os planos elaborados às pressas representam uma mudança radical para um país tradicionalmente relutante em assumir grandes quantias de dívida ou gastar pesadamente com as forças armadas, dados os horrores de seu passado nazista. -  (crédito: Tobias SCHWARZ / AFP)
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Friedrich Merz (C-L), líder da União Democrata Cristã (CDU) da Alemanha, fala durante uma sessão do Bundestag (câmara baixa do parlamento) em 18 de março de 2025 em Berlim, Alemanha. Os legisladores alemães votarão em um grande aumento de gastos para defesa e infraestrutura proposto pelo futuro chanceler Friedrich Merz em meio à preocupação com o comprometimento dos Estados Unidos com a segurança da Europa. Os planos elaborados às pressas representam uma mudança radical para um país tradicionalmente relutante em assumir grandes quantias de dívida ou gastar pesadamente com as forças armadas, dados os horrores de seu passado nazista. - (crédito: Tobias SCHWARZ / AFP)

A Câmara Baixa do Parlamento alemão adotou, nesta terça-feira (18), um histórico plano de investimento que permitirá aumentar o gasto em defesa e infraestruturas para modernizar o país e enfrentar as mudanças geopolíticas.

O texto impulsionado pelo futuro chanceler conservador Friedrich Merz - que deve ser ratificado na sexta-feira pelo Bundesrat, a câmara que representa as regiões - foi aprovado por 513 deputados, com 207 abstenções e pode abrir caminho para gastos em defesa de um trilhão de euros (R$ 6,2 trilhões) na próxima década.

Sua aplicação precisa mudar as estritas normas de limite de endividamento da Constituição alemã.

O voto é histórico em um país que durante décadas defendeu um controle orçamentário estrito e que contava com os Estados Unidos para protegê-lo militarmente.

Mas os tempos mudaram e junto à invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, a Alemanha teme a aproximação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do Kremlin e seu distanciamento da Europa.

Tem-se que neutralizar a "guerra contra a Europa" liderada pela Rússia, disse Merz entre os deputados.

"É uma guerra contra a Europa e não somente uma guerra contra a integridade territorial da Ucrânia", acrescentou o líder de 69 anos, citando ataques cibernéticos e sabotagens a infraestruturas atribuídas à Rússia.

Merz definiu o plano como um "primeiro grande passo para uma nova comunidade europeia de defesa" que inclua "países que não são membros da União Europeia", como o Reino Unido e a Noruega.

Mudança de rumo

Frente à imprevisível política de Washington, Merz, líder do bloco conservador CDU/CSU, defende uma mudança de rumo que aumente a independência europeia em defesa.

A "bazuca" de investimentos, como é chamada pela imprensa alemã, é a pedra angular do futuro governo que Merz se comprometeu a formar junto ao Partido Social-Democrata (SPD) após sua vitória nas legislativas de fevereiro.

O texto prevê retirar o gasto em defesa das restritas regras de endividamento da Alemanha e estabelecer um fundo de 500 bilhões de euros (R$ 3,1 trilhões) durante 12 anos para modernizar as infraestruturas, tomar medidas contra a mudança climática e reativar a maior economia europeia, em recessão há dois anos.

Na Dinamarca, a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, disse que a decisão adotada nesta terça-feira era "uma excelente notícia (...) É bom para Alemanha, mas também é bom para a Europa".

Segundo o líder do SPD, Lars Klingbeil, é "dar uma nova direção à história do nosso país, uma renovação positiva para a Alemanha, uma renovação positiva para a Europa".

Merz decidiu apresentar o plano ante o Bundestag em fim de mandato, antes de que se constitua a nova câmara em 25 de março, quando a iniciativa poderia ser bloqueada por partidos de esquerda e de extrema direita.

O plano alemão também deve permitir um apoio militar pendente de 3 bilhões de euros (R$ 18,6 bilhões) para a Ucrânia, com o qual Kiev poderá receber munições de artilharia e granadas "nas próximas semanas", segundo o porta-voz do governo, Steffen Hebestreit.

AFP
postado em 18/03/2025 20:24