
O Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) advertiu nesta segunda-feira (17) que uma usina energética que pode ser construída no deserto do Atacama, no norte do Chile, teria um impacto "devastador" para os telescópios na região devido a um eventual aumento de poluição luminosa.
"Chegamos à conclusão de que o impacto vai ser devastador, irreversível e não mitigável se o projeto ficar onde pretendem" construi-lo, assegurou a astrônoma e representante do ESO no Chile, Itziar de Gregorio, em coletiva de imprensa em Santiago.
Com um investimento de 10 bilhões de dólares (R$ 57 bilhões), a iniciativa INNA da empresa chilena AES ANDES aguarda a aprovação das autoridades para iniciar sua construção.
O processo de avaliação começou em dezembro, segundo informou a companhia privada, e não há tempo definido para sua conclusão.
A megausina vai produzir hidrogênio e amoníaco verde, e gerar energia solar e eólica.
A empresa e o ESO diferem sobre a distância a que a INNA operaria dos observatórios nas montanhas Paranal e Armazones.
Enquanto a companhia assegura que a região de onde será emanada a luminosidade está entre 20 e 30 km de distância desses observatórios, o ESO sustenta que a INNA estará a 11 km de Paranal e a 20 km de Armazones.
O observatório europeu, que considera o Chile como o melhor lugar para a observação do universo, acredita que a INNA interferiria na operação de Paranal, onde fica o telescópio terrestre mais avançado do mundo.
Também complicaria o trabalho de Armazones, onde está sendo construído o maior telescópio ótico infravermelho do planeta que entrará em operação em 2030.
O ESO alertou em janeiro sobre a ameaça do projeto INNA, mas, agora, uma "análise detalhada" confirmou que o impacto seria irreversível ao provocar uma "poluição luminosa ofuscante".
O excesso de luz afeta a escuridão natural noturna, causando um brilho que limita a visibilidade.
A companhia AES disse que seu projeto incorpora "os mais altos padrões em matéria luminosa".
Atualmente, Paranal e Armazones têm apenas 0,2% de poluição luminosa, o que os coloca em primeiro e segundo lugar no mundo quanto à qualidade do céu astronômico.
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A INNA aumentaria a poluição luminosa para pelo menos 1,49% no Paranal e 2,45% em Armazones, segundo o ESO.
Esse aumento "representa um nível de interferência incompatível com as condições requeridas para as observações astronômicas de primeiro nível", disse o ESO em comunicado.