América do Sul

Argentina: Presidente Javier Milei sinaliza com mais repressão a caminho

Dois dias depois do confronto entre aposentados, torcedores e a polícia, que deixou 45 feridos, presidente Milei avisa que novas prisões serão feitas e agradece à ministra da Segurança Nacional

Javier Milei, presidente da Argentina:
x
Javier Milei, presidente da Argentina: "Os bons são os de azul (polícia) e os filhos da p... que andam com panos na cara e quebram carros (...) vamos colocá-los na prisão" - (crédito: AFP)

O presidente da Argentina, Javier Milei, respaldou a tese de que a manifestação de quarta-feira (12/3) foi uma "tentativa de golpe" e elogiou a decisão de sua ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich, de reprimir o protesto, em Buenos Aires. Também agradeceu-lhe "por seu enorme trabalho defendendo e mantendo os valores da República em todas as áreas que o exigem".

Milei prometeu manter a repressão e não economizou em xingamento ao citar baderneiros. "Os bons são os de azul (polícia), e os filhos da p... que andam com panos na cara e quebram carros, queimam carros e ameaçam todos porque não querem perder os seus trambiques, (...) vamos colocá-los na prisão", avisou, ao discursar na Expoagro, uma feira agropecuária na capital argentina. Os confrontos entre aposentados, apoiados por torcedores de futebol, e a polícia terminaram com um saldo de 124 detidos e 45 feridos. 

Por determinação de Bullrich, o Ministério da Segurança Nacional apresentou uma denúncia na qual elenca os crimes de sedição, atentado à ordem constitucional e à vida democrática e associação ilícita agravada. Entre os acusados, segundo a imprensa argentina, estão dois prefeitos kirchneristas — Fernando Espinoza (de La Matanza) e Federico Otermín (de Lomas de Zamora) — e o líder montonero (grupo esquerdista peronista) Mario Firmenich. O governo Milei ordenou o afastamento da juíza Karina Andrade por ter libertado 114 manifestantes detidos na quarta-feira. 

Para Eduardo Belliboni, líder do movimento Polo Obrero e responsável pela organização de piquetes na Argentina, as declarações de Milei e o apoio a Bullrich representam uma "declaração de guerra contra o povo". "Ele chamou o povo de filho da p... Foi uma alusão a todas as pessoas que protestaram. Ele falou sobre manifestantes que andam com o rosto coberto. Fazem isso por causa dos gases lacrimogêneos e do gás pimenta", disse ao Correio

Eduardo Martínez, 67 anos, integrante do Plenário de Trabalhadores Aposentados, participou do protesto de 12 de março. "Antes da manifestação, a decisão política tinha sido tomada por Milei e por Bullrich de reprimir com força total. Às 17h30, começaram a avançar os caminhões com canhões d'água contra os manifestantes. Depois, houve uma mobilização infernal das forças de segurança. Toda a repressão foi provocada, de modo consciente, como parte de um plano político", afirmou ao Correio.

Ele lembrou que, no ato de 1º de fevereiro, que reuniu 500 mil pessoas, não houve incidentes. "Na quarta-feira passada, houve provocações premeditadas. Milei quer mostrar ao eleitorado que é capaz de reprimir. Ele não tem mais nada para nós, argentinos. Não há êxitos econômicos, não há crescimento."

Risco de convulsão

De acordo com a professora aposentada Liliana Kunis, 70, que marcou presença na marcha de 12 de março, o governo tem muitos problemas, como: o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI); o golpe com criptomoedas; a imensa quantidade de demitidos; o fechamento de fábricas; salários insuficientes; as enchentes na cidade de Bahía Blanca; entre outros. "A população está farta de suportar ajustes. Milei prometeu terminar com a casta política, mas está acabando com as condições de vida dos trabalhadores", desabafou à reportagem. "O governo atua na mais absoluta ilegalidade. As forças de segurança nacionais foram chamadas para reprimir, na quarta-feira, quando no território da cidade de Buenos Aires a intervenção cabe a forças locais. Os distúrbios foram iniciados pelas forças de segurança".

Liliana advertiu que o humor social sofre um processo de mudança. "Ninguém pode prever se haverá uma convulsão social. Ante a repressão no Congresso e na Plaza de Mayo, as pessoas cantavam 'Fora, Milei' e 'Fora todo mundo', como ocorreu em 2001", comentou. "A convulsão social na Argentina está logo ali, na esquina", acrescentou Belliboni. O líder do Polo Obrero disse que existe uma sensação de que "o governo Milei não terminará seu mandato". "Ele está destruindo a economia da Argentina." 

Fotógrafo segue em estado crítico

Pablo Grillo recebe os primeiros socorros por parte de paramédicos
Pablo Grillo recebe os primeiros socorros por parte de paramédicos (foto: Nicolas Suarez/AFP)

O fotógrafo argentino Pablo Grillo, 35 anos, trava uma luta pela vida depois de ter sido atingido com um cartucho de gás lacrimogêneo na cabeça, ao registrar a marcha de aposentados e torcedores na última quarta-feira, em Buenos Aires. O repórter fotográfico Pepe Mateos estava em um ponto próximo e fez imagens de Pablo ferido. "Vi a gendarmeria (policiais) dispararem o gás lacrimogêneo com as escopetas posicionadas horizontalmente. Foi quando acertaram Pablo. Quando cheguei ao local, ele estava estendido no asfalto e era atendido por socorristas. O estado de saúde dele era muito grave. Foi possível perceber isso pelo ferimento e pelo modo como respirava", contou ao Correio. "Os projéteis de gás lacrimogêneo são letais quando acertam uma pessoa, porque explodem. Pablo teve traumatismo craniano e perda de massa encefálica."

  • Aponte a câmera do seu celular para o QR Code e assista a uma reportagem sobre o discurso de Javier Milei
    Aponte a câmera do seu celular para o QR Code e assista a uma reportagem sobre o discurso de Javier Milei Foto: QR Code
  •  Argentinean photojournalist Pablo Grillo receives medical treatment by paramedics after being injured during a protest of pensioners supported by football fans against the government of President Javier Milei in Buenos Aires on March 12, 2025. (Photo by Nicolas SUAREZ / AFP)
      Caption
    Pablo Grillo recebe os primeiros socorros por parte de paramédicos Foto: Nicolas Suarez/AFP
Rodrigo Craveiro
postado em 15/03/2025 06:00