Professor da Universidade de Sheffield (Reino Unido), especialista em nazismo e autor de Trump and Hitler: A comparative study in lying ("Trump e Hitler: Um estudo comparativo sobre a mentira"), Henk de Berg advertiu ao Correio que o mundo testemunha a ascensão de ideologias extremistas, oito décadas depois do do Holocausto. "Elas não são exterminadoras, como o nacional-socialismo de Adolf Hitler era. Mas seu terreno fértil não é diferente. Exploram a divisão social, a privação econômica, a confiança nacional abalada, a ansiedade masculina e a perda de fé no sistema político tradicional e nas instituições sociais", explicou. "As respostas que elas dão envolvem, novamente, xenofobia, bode expiatório, teorias da conspiração, crença no poder redentor de um líder e, com muita frequência, um culto à violência. Vários países europeus foram vítimas desse tipo de pensamento. Na Alemanha, o partido populista de direita Alternative für Deutschland está atualmente em segundo lugar nas pesquisas. Nos Estados Unidos, o governo de Donald Trump parece pronto para se tornar muito mais extremo do que seu primeiro governo", acrescentou.
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De Berg classificou o Holocausto como o maior crime na história da humanidade. "Não foi cometido pelo tipo de sádicos de filmes tipo B de Hollywood — oficiais da SS com cicatrizes no rosto torturando cruelmente suas vítimas enquanto gritavam 'Temos maneiras de fazer você cooperar!'. O assassinato em massa dos judeus dependia de um sistema muito maior e altamente organizado de coleta de informações, comunicação, transporte e 'engenhosidade' industrial, bem como da maquinaria de matar dos campos de extermínio", lembrou. "Hitler e outros nazistas famosos deram as ordens, mas a maioria de seus capangas eram burocratas sem rosto e trabalhadores comuns. O sistema também exigia que os alemães que não estavam envolvidos nele não quisessem saber — desviassem o olhar e reprimissem o que tinham visto."
Para o professor de Sheffield, há algo assustador que o Holocausto ensina: quando se enfraquece a estrutura democrática de um país, a atmosfera social tende a mudar também. "Coisas que no passado ninguém diria ou faria se tornam aceitáveis. A violência verbal se torna violência real, e até mesmo pessoas decentes começam a fazer vista grossa. Quando isso acontece, a barbárie está logo ali na esquina", advertiu. De Berg não acha plausível que as ideologias extremistas resultem em campos de extermínio. "Até mesmo o surgimento de uma nova gama de democracias iliberais parece improvável. Mas, podemos realmente ter certeza? O caminho para o Holocausto não foi rápido ou reto. Houve uma preparação de anos antes que os campos de extermínio fossem construídos", comentou.
Segundo De Berg, durante anos, os judeus foram sistematicamente discriminados, privados de seus direitos e maltratados. "Os nazistas amordaçaram a imprensa e cooptaram o judiciário. No entanto, aos olhos de muitos alemães na época, as coisas não pareciam tão ruins, e poucos protestaram", disse.