Nazismo

Museu do Holocausto: O relato sobre uma descida rumo ao inferno

Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Jerusalém, é visita obrigatória para entender como Hitler e seus comandados arquitetaram o extermínio do povo judeu. Também para não permitir que uma das maiores barbáries da humanidade caia no esquecimento

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"O trabalho liberta": réplica da inscrição que ficava no portão do campo de extermínio de Auschwitz - (crédito: Rodrigo Craveiro/CB)

Não há quem visite Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Jerusalém, e não saia com lágrimas nos olhos e indignação ante tanto horror. Percorrer o corredor e as salas do prédio é como descer ao inferno. Estive lá em março de 2023, sete meses antes do massacre no sul de Israel. Assim que o visitante entra no Yad Vashem, se depara com uma imensa projeção na parede triangular. Canções judias enchem os ouvidos, enquanto se assiste a um vídeo sobre a vida do povo judeu em diferentes países da Europa, antes da Segunda Guerra Mundial. O som das músicas vai se misturando, aos poucos, à voz de Hitler.

O corredor segue em trajeto descendente e o caminho é interrompido por uma pilha de livros incendiados pelos nazistas ou por armamentos usados pelas forças de Hitler para conquistar países europeus e eliminar os judeus. É impossível seguir em frente, e a única saída está na passagem pelas salas anexas, cada uma com um tema diferente.

Um pedaço de um dos vagões de gado usados pelos nazistas para transportas os judeus até o campos de concentração
Um pedaço de um dos vagões de gado usados pelos nazistas para transportas os judeus até o campos de concentração (foto: Rodrigo Craveiro/CB)

A primeira delas contempla a ascensão do nacional socialismo e de Adolf Hitler no poder, assim como a propaganda nazista. Bandeiras originais com a suástica nazista e documentos do Terceiro Reich, além de pôsteres alusivos ao partido de Hitler. Vídeos também exibem os discursos multitudinários de Hitler na Alemanha. Em outra sala, o Yad Vashem aborda o início da perseguição sistemática aos judeus, com a segregação cultural e política. Os nazistas começaram a confiscar os livros e a impedir as aglomerações de judeus. O passo seguinte, retratado pelo Museu do Holocausto, é o confinamento de judeus nos guetos.
Uniformes originais de prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz expostos em vitrine no Yad Vashem
Uniformes originais de prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz expostos em vitrine no Yad Vashem (foto: Rodrigo Craveiro/CB)
Um espaço recria um pedaço do Gueto de Varsóvia, o maior deles. Pelo caminho, o visitante encontra um carrinho de mão original, utilizado pelos nazistas para carregar corpos de judeus que morriam de fome ou acometidos por doenças. Também tem acesso a documentos e fotos que marcam o início de uma resistência contra a opressão nazista. No chão, é possível ver a reprodução da linha férrea cujo destino era Auschwitz, onde 1,1 milhão a 1,5 milhão de judeus foram exterminados na câmara de gás ou no paredão de fuzilamento.
As salas reservadas a Auschwitz e a outros campos de extermínio provocam, no visitante de Yad Vashem, uma sensação semelhante a um soco no estômago. Um pedaço de vagão utilizado pelos nazistas para transportar os judeus, como se fossem animais, até Auschwitz se destaca no ambiente. Ao lado, os beliches de madeira onde mais de um judeu ficava amontoado, sem qualquer tipo de conforto. Uma enorme vitrine exibe os uniformes originais de prisioneiros de Auschwitz — azuis e brancos, com a estrela de Davi. No chão, protegidos por um vidro, milhares de pares de sapatos de mortos nas câmaras de gás. Também é possível ver maquetes das câmaras e cartuchos de Zyklon B, o gás venenoso utilizado para matar até centenas de judeus de uma única vez. 
Após o museu tratar da chamada "Solução Final", o plano de aniquilação total do povo judeu, autorizado pelo nazista Hermann Goering, o visitante começa uma caminhada ascendente. As salas do Yad Vashem passam a tratar da derrota da Alemanha nazista, do suicídio de Adolf Hitler e do fim da Segunda Guerra Mundial. A abordagem, então, passa a ser a recontrução da Europa no pós-conflito, seguida pela            reparação histórica ao povo judeu, com os tribunais de Nuremberg. A última galeria do Yad Vashem impressiona: uma sala com centenas de fotos de vítimas do Holocausto nazista e gavetas onde são guardados documentos. No centro, um poço profundo com um espelho d'água que reflete as fotos. Ao sair dos corredores, o visitante se depara com um bosque e com o canto dos passarinhos; ao fundo, as colinas de Jerusalém. 
Do lado de fora, outra sala provoca choro. Ao segurar em um corrimão, o visitante caminha por um ambiente imerso na completa escuridão. Então, entra em um espaço em que milhares de velas queimam, dos dois lados, e são refletidas por espelhos. Em meio ao silêncio, uma voz pronuncia os nomes e as idades de algumas das 500 mil crianças mortas nas câmaras de gás. 

  • Uniformes originais de prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz expostos em vitrine no Yad Vashem
    Uniformes originais de prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz expostos em vitrine no Yad Vashem Foto: Rodrigo Craveiro/CB
  • Um pedaço de um dos vagões de gado usados pelos nazistas para transportas os judeus até o campos de concentração
    Um pedaço de um dos vagões de gado usados pelos nazistas para transportas os judeus até o campos de concentração Foto: Rodrigo Craveiro/CB
Rodrigo Craveiro
postado em 27/01/2025 16:40 / atualizado em 27/01/2025 16:47