
O gesto de Elon Musk, antes do discurso de Donald Trump, na segunda-feira (20/1), fez com que o nome do dono da rede social X figurasse nos "Assuntos do Momento" durante boa parte do dia, com 1 milhão de citações. Ao comentar o retorno do republicano à Casa Branca, um eufórico Musk bateu no peito com a mão direita e estendeu o braço, abertamente. Depois, virou-se e repetiu o gesto.
Acusado de fazer uma saudação nazista, o homem mais rico do mundo foi criticado pelo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, durante pronunciamento no Fórum Econômico Mundial, em Davos. "Temos liberdade de expressão na Europa e na Alemanha, todos podem dizer o que quiserem", disse o líder alemão. "O que não aceitamos é que isso seja apoiar posições de extrema-direita, e é isso que eu gostaria de repetir." Musk publicou o vídeo com a declaração de Scholz e respondeu: "Vergonha de você".
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
O Correio entrevistou especialistas em nazismo e fascismo, além de um sobrevivente do Holocausto. Morador de São Paulo, Gabriel Waldman, 86 anos, tinha apenas seis quando a Segunda Guerra Mundial terminou e escapou da morte, ao lado da mãe, em uma Budapeste ocupada pelos nazistas. O pai e toda a família paterna foram assassinados nos campos de concentração. "Não acho que Musk seja antissemita e que tenha sido um gesto deliberado de saudação nazista. Pode ter sido um gesto espontâneo, especialmente sabendo que Trump é amigo de Israel. Mas existem certas coisas que devem ser evitadas, por serem muito estigmatizadas. Por exemplo, a ópera Lohengrin, do compositor alemão Richard Wagner; o braço em riste; e a suástica. Elas lembram o nazismo e os 6 milhões de assassinatos", explicou. "Foi muita ingenuidade de Musk, se realmente foi uma coisa não deliberada."

Estudioso sobre a extrema direita pela Universidade de Dortmund, Diek Borstel admitiu que o gesto pareceu transmitir a ideia de saudação nazista. "Em última análise, garante muita atenção ao bilionário. A reação dele se assemelha à do extremismo de direita moderno: primeiro, provocar as pessoas com gestuais nazistas; depois, ante protestos, afirmar que não era essa a intenção", disse.
Professor de história contemporânea da Universidade de Michigan e autor de Nazism as Fascism: Violence, Ideology, and the Ground of Consent in German (Nazismo como Fascismo: Violência, Ideologia e a Base do Consentimento em Alemão), Geof Elley afirmou crer que, "em um nível vago, mas potencialmente visceral, Musk certamente conhece a saudação de Adolf Hitler e a crueza de seu significado — do nacionalismo branco excludente, xenófobo e racialmente compreendido, com sua ambição política autoritária e autocrática".
"O gesto fornece um símbolo que comunica o poder do momento, seja como mensagem aos simpatizantes, seja como ameaça aos oponentes. "Eu ficaria surpreso se Musk tivesse algum conhecimento ou compreensão bem desenvolvida do que o nazismo representou, historicamente. A sua pior violência antissemita e tendências genocidas, presumivelmente, ainda estão fora de questão. Ele certamente rejeitaria esse conjunto de conotações. Mas, para um homem egoísta e movido pelo poder, como Musk, esse tipo de afiliação detalhada não vem ao caso", avaliou.
Henk de Berg — autor de Trump and Hitler: A comparative study in lying (Trump e Hitler: Um estudo comparativo sobre a mentira) e professor da Universidade de Sheffield (Reino Unido), entende que o gesto pairou entre uma saudação nazista e uma romana. "É possível que ele estivesse tão envolvido por aquele momento, que não sabia o que estava fazendo. Parece-me improvável. Musk participou de eventos em massa e é inteligente para não estar ciente de como seria interpretado. Meu palpite é o de que o gesto foi muito deliberado."
EU ACHO...

"Foi uma espécie de 'apito de cachorro', um apelo a um sentimento amplamente compartilhado entre partes do eleitorado de Trump. Não para mostrar suas cores neonazistas (Musk não é neonazista), mas para provar que ele não tem medo de ser politicamente incorreto. Se ele quisesse fazer uma saudação nazista direta, ele poderia facilmente ter feito isso. Ao deixar as coisas no ar, ele sabia que iria produzir muito mais polêmica. O apoio de Musk a Trump e o uso de técnicas de venda extremistas é o mesmo que brincar de fogo. Muitas vezes, pessoas inteligentes pensaram que poderiam controlar suas criações. Só precisamos olhar para o Dr. Frankenstein para saber que isso pode dar terrivelmente errado."
Henk de Berg, autor de Trump and Hitler: A comparative study in lying ("Trump e Hitler: Um estudo comparativo sobre a mentira") e professor da Universidade de Sheffield (Reino Unido)