AMÉRICA DO NORTE

Premiê do Canadá renuncia; o que acontece agora

Decisão marca o fim de semanas de especulação sobre futuro político de Justin Trudeau, que viu sua popularidade despencar nos últimos meses.

A ex-ministra das Finanças, Chrystia Freeland, renunciou em dezembro -  (crédito: Blair Gable/Reuters)
A ex-ministra das Finanças, Chrystia Freeland, renunciou em dezembro - (crédito: Blair Gable/Reuters)

O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau comunicou nesta segunda-feira (6/1) sua renúncia ao cargo.

"O país merece uma escolha real" na próxima eleição, afirmou em pronunciamento, emendando que, para ele, ficou claro que, se tiver que lutar "batalhas internas", não tem como ser a melhor opção na cédula de voto para os canadenses.

O anúncio foi feito durante uma entrevista coletiva convocada após especulações de que ele deixaria o cargo de líder do Partido Liberal, o que também encerraria seus nove anos como primeiro-ministro. Trudeau renunciou a ambas as posições, tanto a de primeiro-ministro quanto a de líder do partido.

A renúncia ocorre antes da reunião nacional da sigla, prevista para acontecer na quarta-feira (8/1).

A decisão de Justin Trudeau de renunciar marca o fim de semanas de especulação sobre seu futuro político, já que sua popularidade entre seus pares e o público despencou.

O momento de instabilidade política ocorre enquanto o país enfrenta uma série de desafios, entre eles a ameaça econômica representada pela agenda do novo presidente dos EUA, Donald Trump, que toma posse em 20 de janeiro.

Trump prometeu impor tarifa de 25% sobre produtos canadenses se o país não proteger sua fronteira compartilhada contra o fluxo de migrantes irregulares e drogas ilegais - uma alíquota que os economistas alertam que pode ser devastadora para a economia canadense.

O "grave desafio" que isso representa foi mencionado na carta de renúncia da Ministra das Finanças Chrystia Freeland, que deixou o cargo repentinamente em meados de dezembro, dizendo que não tinha certeza se Trudeau levou a ameaça a sério o suficiente.

Trudeau estava sob pressão de membros de seu próprio partido para renunciar desde o meio do ano passado, depois que os liberais sofreram uma derrota histórica em uma eleição suplementar em Toronto para seus rivais conservadores.

Seu desempenho nas pesquisas com eleitores também vinha se deteriorando. Em dezembro, apenas 22% dos canadenses disseram aprovar seu governo, o menor número desde que ele assumiu o poder em 2015.

Chrystia Freeland, ex-ministra das Finanças do Canadá.
Blair Gable/Reuters
A ex-ministra das Finanças, Chrystia Freeland, renunciou em dezembro

Enquanto isso, Pierre Poilievre, o líder do Partido Conservador do Canadá, tem aparecido quase 24 pontos à frente de Trudeau, sinalizando a possibilidade de uma grande derrota para os liberais na próxima eleição.

Embora o Canadá tenha um sistema multipartidário, apenas os conservadores e os liberais conseguiram historicamente formar governos.

Trudeau já havia indicado sua intenção de concorrer como líder liberal no próximo pleito, marcado para 20 de outubro.

Mas após a renúncia de Chrystia Freeland em dezembro, sua principal ministra de gabinete, a pressão sobre o primeiro-ministro cresceu dentro de seu próprio partido para renunciar.

"Ele está delirando se acha que podemos continuar assim", disse o deputado de New Brunswick Wayne Long a repórteres antes do feriado de Natal.

O que acontece agora?

De acordo com a constituição do Partido Liberal, o líder pode apresentar sua renúncia a qualquer momento, desencadeando uma disputa pela liderança.

Esse processo normalmente leva alguns meses. Não está claro se os membros do Partido Liberal tentarão acelerar esse processo, já que 2025 é um ano eleitoral no Canadá.

Durante o pronunciamento, ele afirmou que permaneceria na liderança do partido e no cargo de primeiro-ministro depois que seus sucessores fossem definidos.

Quem pode suceder Trudeau?

Antes da renúncia do primeiro-ministro, alguns nomes já vinham sido apontados como possíveis sucessores.

A ex-vice-primeira-ministra Chrystia Freeland tem sido considerada há muito tempo como uma possível sucessora de Trudeau. Ela é uma deputada de Toronto e trabalhou como jornalista antes de entrar na política.

Freeland foi a primeira mulher ministra das finanças do Canadá antes de renunciar abruptamente em dezembro do ano passado, devido a uma rixa entre ela e Trudeau em torno dos gastos do governo e como lidar com a ameaça de tarifas de importações anunciadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

O ex-banqueiro Mark Carney, que já foi chefe do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra, é um liberal de carteirinha que tem servido nos últimos meses como conselheiro especial de Trudeau. Ele estaria disputando o cargo de liderança do partido há algum tempo.

Mélanie Joly, a ministra das relações exteriores, é uma política de Quebec que, como Trudeau, representa um distrito da área de Montreal. Advogada formada em Oxford, Joly é um rosto conhecido para muitos, tendo representado o Canadá no cenário mundial desde 2021. Ela foi escolhida diretamente por Trudeau para concorrer como política na esfera federal.

Dominic Leblanc, ministro das finanças e assuntos intergovernamentais, é um amigo de longa data de Trudeau e um de seus aliados mais próximos, em quem se confia para assumir pastas em dificuldades políticas ou em crises. Ele é parlamentar há mais de duas décadas e já havia demonstrado ambições de liderar o Partido Liberal, fazendo campanha em 2008, mas perdendo para Michael Ignatieff.

Christy Clark, ex-primeira-ministra da Colúmbia Britânica, havia se afastado do cenário político federal, mas expressou nos últimos meses seu interesse em jogar seu chapéu no ringue de liderança liberal

O caminho de Trudeau até o poder

Como filho do ex-primeiro-ministro Pierre Trudeau, muitos já previam a entrada do jovem Trudeau no cenário político.

De fato, não demorou muito para que Justin Trudeau fosse eleito com sucesso para a Câmara dos Comuns para representar o distrito de Papineau, em 2008. Questionado sobre suas ambições naquele momento, o jovem Trudeau afirmou: "Acabei de ser contratado para fazer um trabalho", na manhã seguinte à eleição.

Poucos anos depois, após ser eleito líder do Partido Liberal em 2013, ele conseguiu mudar a sorte de seu partido ao garantir uma vitória histórica em 2015, tornando-se primeiro-ministro aos 44 anos.

Embora tenha conseguido liderar o partido em duas eleições subsequentes, tornando-se o líder mais antigo de seus pares do G7, seu tempo no cargo foi turbulento.

Ele se envolveu em uma série de escândalos políticos durante seu mandato. Um deles, quando vieram a tona fotos em que ele aparece usando a chamada maquiagem blackface.

A prática de pintar o rosto e o corpo para escurecer a pele é considerada ofensiva e racista. Ele tinha 29 anos quando as fotos foram tiradas e, quando vieram à tona, em 2019, pediu desculpas publicamente.

No ano seguinte, um novo escândalo ético envolveu um contrato governamental potencialmente grande para uma instituição de caridade que havia trabalhado com membros da família Trudeau.

BBC
BBC Geral
postado em 06/01/2025 13:44 / atualizado em 06/01/2025 14:41
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