Um lobo solitário que decidiu realizar um banho de sangue, inspirado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI) e que estava no caminho da radicalização. Pouco mais de 24 horas depois do atentado que matou 14 pessoas e feriu 35, na madrugada de 1º de janeiro, o FBI (polícia federal dos EUA) começa a solucionar o quebra-cabeças para entender a motivação de Shamsud-Din Jabbar ao atropelar uma multidão na Bourbon Street, no coração de Nova Orleans (Louisiana). Para os investigadores, as primeiras evidências sugerem que o ex-militar de 42 anos agiu sem a ajuda de cúmplices. Jabbar gravou uma série de vídeos em que falava sobre os planos de assassinar a família e professava obediência ao EI.
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Vice-diretor assistente da Divisão de Contraterrorismo do FBI, Christopher Raia confirmou que o ataque foi um "ato de terrorismo" e um "ato de maldade premeditado". "Meu objetivo é ser o mais direto possível com vocês sobre o que descobrimos até agora. Em primeiro lugar, e o mais importante, deixem-me ser bem claro sobre esse ponto, isso foi um ato de terrorismo", declarou. "O que posso dizer é que ele foi 100% inspirado pelo Estado Islâmico." Até o fechamento desta edição, o grupo terrorista não tinha reivindicado a autoria do atentado.
Em entrevista à tevê CNN, o secretário de Segurança Interna dos EUA, Alejandro Mayorkas, assegurou que o FBI chegou a uma conclusão sobre a motivação de Jabbar. "Este é um evento que foi inspirado pela ideologia terrorista estrangeira. Nós o atribuímos às crenças hediondas do Estado Islâmico."
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que o próprio terrorista plantou explosivos em coolers e em dois locais do French Quarter, um dos bairros mais frequentados pelos turistas. "Eles (investigadores do FBI) avaliaram que o terrorista tinha um detonador remotom dentro de seu veículo", afirmou.
Mais uma vez, o presidente eleito Donald Trump associou o atentado em Nova Orleans à crise migratória, apesar de as autoridades terem divulgado que Jabbar nasceu no Texas. O republicano denunciou a "escória violenta" que, de acordo com ele, "se infiltrou" nos EUA graças à política de "fronteiras aberta". "Nosso país é um desastre, uma chacota no mundo inteiro. Isso é o que ocorre quando há fronteiras abertas, com uma liderança fraca, ineficaz e praticamente inexistente", disparou o magnata, ao criticar Biden. Ele cobrou o envolvimento da Agência Central de Inteligência (CIA).
Com base em investigações preliminares, os agentes do FBI descartam uma ligação entre o ataque em Nova Orleans e a explosão de um Cybertruck da Tesla em frente ao Trump International Hotel, em Las Vegas (Nevada), também na quarta-feira (1º). No entanto, admitiram ação intencional. O corpo do motorista, encontrado dentro do carro incendiado, tinha um ferimento à bala na cabeça, o que indica que ele possa ter cometido sucídio. O homem era um militar da ativa das forças especiai do Exército dos Estados Unidos.
Sono interrompido
Testemunhas descreveram um cenário de caos e medo na madrugada do primeiro dia do ano, em Nova Orleans. Por volta das 2h de quarta-feira, o estudante de engenharia mecânica Ethan Ayersman, 20, turista de Chicago, voltava para o Airbnb depois de festejar o réveillon em bares da Bourbon St. "Eu estava um pouco embriagado; então, me joguei na cama e peguei no sono rapidamente. Fui acordado pelo meu irmão, que me disse ter escutado disparos", relatou ao Correio.
Ayersman disse ter visto o que parecia um "mar de viaturas" da polícia invadindo da rua. "Começamos a vasculhar a rede social X, mas nada encontramos sobre os tiros. Finalmente, alguém tuitou que um carror tinha atingido um monte de gente. Quase na mesma hora em que vimos a publicação no X, olhamos pela janela e vimos três ou quatro corpos sendo movidos para debaixo de uma lona, na frente da loja de conveniência Walgreens. A parte mais assustadora foi que, no fim das contas, o número de mortos subiu para 15, além do fato deo terrorista ter armado bombas e possuir uma arma", acrescentou o rapaz, que viajou a Nova Orleans para assistir a uma partida do Sugar Bowl, a liga universitária de futebol americano.
Morador de Houma, a 96km de Nova Orleans, e sócio da lanchonete Mr. Ronne's Famous Hot Donuts, Kellen Jude Picou, 53, contou ao Correio que estava hospedado no Dauphine Orleans Hotel, a uma quadra do local do atentado. "Eu escutei um estrondo muito alto, que sacudiu o prédio. Ouvi outros hóspedes entrarem no hotel e afirmarem que houve disparos. Eu jamais tinha escutado tiros; também percebi muitas sirenes." Picou demorou a processar o que estava ocorrendo. "Não suspeitei de um atentado até que as autoridades confirmaram que foi um ataque terrorista", disse.
Las Vegas
A polícia identificou o homem encontrado dentro do Cybertruck que explodiu diante do Trump International Hotel, em Las Vegas, como Matthew Alan Libelsberger, um militar de 37 anos que nasceu no Colorado. "Não temos informação que nos permita afirmar com certeza ou sugerir que ele estava motivado por uma ideologia particular", disse o agente especial do FBI Spencer Evans.
Morador de Goiânia, o empresário gaúcho Alcides Antunes, 34, chegou a Las Vegas em 27 de dezembro e se hospedou no Trump International Hotel. No dia da virada, deixou o local para ver os fogos e celebrar 2025. "Quando retornamos ao hotel, às 8h40 de quarta-feira, vimos uma fumaça começando a sair. Então, vimos um carro em chamas bem em frente ao lobby do hotel", relatou ao Correio, por telefone.
A reação do brasileiro foi filmar o incidente. "Tive um Tesla e comecei a fazer as filmagens para enviar a grupos de amigos no WhatsApp. Se eu tivesse chegado cinco minutos antes, poderia ter sido atingido. A princípio, pensei que o carro tivesse apresentado algum problema e explodido", acrescentou. Ante a movimentação da polícia e do FBI, Alcides decidiu mudar de hotel.
No Cybertruck alugado, foram encontradas "duas armas curtas semiautomáticas compradas legalmente, em 30 de dezembro de 2024, por Livelsberger", segundo Kenny Cooper, da agência federal ATF, responsável pelo controle de armas de fogo.