RODRIGO CRAVEIRO E ISABELLA ALMEIDA
As primeiras horas de 2025 foram de horror, medo e mortes para Nova Orleans, cidade histórica e turística do estado da Louisiana, no sul dos Estados Unidos. Às 3h15 desta quarta-feira (6h15 em Brasília), o ex-militar americano Shamsud Din Jabbar, 42 anos, acelerou a caminhonete elétrica Ford F150 branca quando entrou pela Bourbon Street, no coração do famoso French Quarter, no momento em que a multidão comemorava a virada do ano. Na traseira da picape alugada, a bandeira do Estado Islâmico estava pendurada em uma haste.
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"Desesperado para provocar um massacre", segundo as autoridades, Jabbar atropelou dezenas de pessoas, matando 15 e ferindo 35. Após o automóvel colidir com uma empilhadeira, ele saltou do carro e disparou contra policiais, que o eliminaram.
Horas depois, um carro elétrico da Tesla explodiu diante de um hotel do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em Las Vegas. O FBI (polícia federal dos Estados Unidos) investiga o incidente em Nova Orleans como um "ataque terrorista" e acredita que Jabbar teve a ajuda de cúmplices. "Não acreditamos que Jabbar tenha sido o único responsável", declarou a agente do FBI Alethea Duncan. Também não se descarta ação intencional em Las Vegas.
A 19 dias de tomar posse, Trump culpou a imigração ilegal pelo atentado em Nova Orleans, apesar de Jabbar ter nascido no Texas. "Eu disse que os criminosos que estão chegando são muito piores do que os que temos no país (...) e acabou sendo verdade", escreveu nas redes sociais, antes da divulgação da identidade do agressor.
Por sua vez, o presidente Joe Biden declarou estar grato pela "resposta corajosa e rápida" das autoridades locais, no sentido de prevenir mais mortes. "Não há justificativa para a violência de nenhum tipo e não toleraremos nenhum ataque contra nenhuma das comunidades de nossa nação", reagiu. À noite, fez um discurso à nação, em Camp David (Maryland), no qual afirmou que os investigadores apuram se há conexões entre os incidentes em Nova Orleans e em Las Vegas.
Vídeos
Dentro da picape, os agentes encontraram dois dispositivos explosivos improvisados. Também foi localizada ao menos uma bomba em um ponto do French Quarter. Segundo o FBI, Jabbar é um corretor de imóveis do Texas que passou 10 anos atuando como especialista em tecnologia da informação no Exército. Em 2020, ele publicou um vídeo no YouTube em que vangloriava-se de suas habilidades como "negociador" em gestão imobiliária. Nos últimos dias, Jabbar gravou uma série de vídeos, provavelmente enquanto dirigia do Texas para a Louisiana. Nas gravações, ele afirma que se alistou ao Estado Islâmico.
O jornal The New York Times informou que a ficha criminal de Jabbar tem dois delitos menores: em 2002, por roubo, e em 2005, por dirigir com a habilitação inválida. A imprensa divulgou que ele foi casado por duas vezes, e a segunda união terminou em divórcio em 2022, quando ele detalhou problemas financeiros em um e-mail enviado ao advogado da ex-mulher.
Na manhã de terça-feira (31/12), Nicole Mowrer e o marido, Jim Mowrer, viajaram de Des Moines (Iowa) a Nova Orleans para passar o réveillon e visitar familiares. Quando tudo ocorreu, ambos caminhavam no meio da Bourbon Street. "Nós escutamos o barulho de uma colisão. Quando nos viramos, vimos uma caminhonete atropelando barricadas e pessoas. O motorista estava acelerando, e nós corremos até a calçada mais próxima", contou ao Correio, por meio do Facebook. "Como estávamos perto de muitos restaurantes fechados, o lugar mais protegido que podíamos ir era uma alcova, cerca de 60cm afastada da calçada. Segundos depois, a picape veio a uma velocidade incrivelmente alta, seguida por policiais a pé. Houve troca de tiros e, depois de um minuto de tiroteio, tudo ficou quieto."
Assim que saíram do esconderijo, Nicole e Jim viram corpos estirados na rua. "Nós verificamos que cinco ou seis vítimas morreram imediatamente, sem que nada pudesse ser feito. Mais policias chegaram e nós decidimos retornar ao nosso hotel", relatou. "Nós apenas queíamos sair da área de risco o quanto antes. Assim que o tiroteio parou, nossa preocupação eram as vítimas. Não pensávamos ser um ataque terrorista." Nicole disse ter visto muitos feridos. "As pessoas que estavam em uma área mais abaixo da rua tiveram melhores chances de sair do caminho da picape e receberam algum tipo de aviso sobre o que ocorria a poucas quadras. Era difícil de caminhar pelas ruas, por causa da multidão, do lixo e das barreiras."
Aos poucos, a tragédia começa a ganhar rosto. Reggie Hunter, 37 anos, enviou uma mensagem de texto à família, poucas horas antes de morrer no hospital, onde deu entrada com graves ferimentos. "Feliz ano-novo", escreveu. Melissa Dedeaux publicou, no Facebook, a foto da filha Nikyra, 18 anos, vestida com uma beca, após a formatura. "Quando seus pais dizem 'Não vá a lugar nenhum', por favor, os escute. Isso foi um ato de terrorismo. Agora, minha bebê se foi... Deus, preciso de você agora!", afirmou.
Outros ataques por atropelamento
20 de dezembro de 2024
Magdeburgo, Alemanha — Um homem de 50 anos atropela várias pessoas em um mercado de Natal de Madeburgo (leste). Cinco pesoas morreram e dezenas ficam feridas. O autor do ataque é um psiquiatra da Arábia Saudita que mora na Alemanha há quase duas décadas.
11 de novembro de 2024
Zhuhai, China — Um motorista lanlçou o carro contra o multidão, em um centro esportivo, matando 35 e ferindo 43. De acordo com a polícia, o assassino, de 62 anos, estava "abalado" com o divórcio.
21 de novembro de 2021
Waukesha, EUA — Um homem matou seis pessoas e feriu dezenas após invadir um desfile de Natal. Darrell Brooks foi acusado de dirigir o carro esportivo, atravessando barricadas. Ele foi condenado um ano após o ataque.
23 de abril de 2018
Toronto, Canadá — Uma van alugad foi usada para atropelar dezenas de pessoas, no centro da cidade. Onze morreram e 15 ficaram feridas. Alek Minassian foi considerado culpado em 2021.
31 de outubro de 2017
Nova York, EUA — O uzbeque Sayfullo Habibullaevic Saipov, 34, dirigiu um caminhão alugado por uma ciclovia de Manhattab, matando oito pessoas e ferindo 11. Em 2023, ele foi condenado por assassinato, seu objetivo era se juntar ao Estado Islâmico.
17 de agosto de 2017
Barcelona, Espanha — Um jovem de 22 anos lançou um carro contra uma multidão, na Rua La Rambla, matando 13 pessoas. Younes Abouyaaqoub fugiu a pé e esfaqueou um homem até a morte para roubar seu carro. O criminoso foi morto a tiros pela polícia dias depois.
14 de julho de 2016
Nice, França — Um cidadão francês nascido na Tunísia atropelou uma multidão que celebrava o Dia da Bastilha, matando 86. O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico.
Explosão em frente a hotel de Trump
Pelo menos uma pessoa morreu e sete ficaram feridas após a explosão de um Tesla Cybertruck em frente ao hotel do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em Las Vegas. O veículo elétrico parou em frente à entrada envidraçada do Trump International Hotel antes de ocorrer uma "grande explosão", declarou o xerife de Las Vegas, Kevin McMahill, à imprensa.
Um vídeo mostra a caminhonete de aço inoxidável estacionada na entrada do hotel, antes de ser consumida pelas chamas, seguidas de pequenas explosões semelhantes a fogos de artifício. McMahill acrescentou que havia "uma pessoa falecida no interior" do veículo e que sete pessoas sofreram ferimentos leves.
Elon Musk, dono da Tesla, disse que a explosão foi "causada por fogos de artifícios muito grandes e/ou uma bomba", na caçamba do Cybertruck, acrescentando que "não está relacionada ao veículo por si só".
Investigação
Jeremy Schwartz, agente especial do FBI, confirmou à tevê CNN que sua equipe investiga um "possível ato de terrorismo". Hóspede do 62º andar do vizinho Resort World Las Vegas, Galit Ventura Rozen contou à CNN que olhou pela janela, viu uma nuvem de fumaça e imediatamente começou gravação. "Vimos uma enorme nuvem de fumaça… não sabíamos o que estava acontecendo", disse ela. "Então eu vi uma fila de pelo menos três ambulâncias e um monte de viaturas da polícia."
Saiba Mais
FOTOLEG - Explosão de carro elétrico em frente a hotel de Trump
Pelo menos uma pessoa morreu e sete ficaram feridas pela explosão de um Tesla Cybertruck em frente a um hotel do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em Las Vegas, informou a polícia. O veículo elétrico parou em frente à entrada do Trump Internacional Hotel antes de ocorrer uma "grande explosão", disse à imprensa o xerife de Las Vegas, Kevin McMahill, acrescentando que havia "um indivíduo falecido no interior" do carro e sete pessoas com ferimentos leves.