A estadunidense Towana Looney, de 53 anos, sofre de insuficiência renal e esperou por oito anos pela chance de realizar um transplante de rim. No entanto, a oportunidade surgiu de uma forma inesperada: o hospital NYU Langone Health procedeu a cirurgia com um rim de porco geneticamente modificado.
Nesta terça-feira (17/12), os cirurgiões responsáveis anunciaram o sucesso do procedimento.
- Leia também: 'Ainda estou aqui': por que caso da ditadura relatado no filme segue sem resolução no STF
A cirurgia foi realizada no final de novembro, classificando Towana como a terceira pessoa a receber um transplante de rim de porco. O xenotransplante, caracterizado pelo uso de órgãos de animais geneticamente modificados, anteriormente também foi realizado em dois transplantes de corações. Dos cinco pacientes, atualmente Towana é a única viva.
Segundo os médicos de Towana, o resultado da cirurgia se destacou entre os outros xenotransplantes. Towana apresenta um estado de saúde melhor que dos outros pacientes que receberam órgãos suínos e teve alta do hospital após 11 dias do procedimento. O único retorno foi para uma série de tratamentos de infusões intravenosas.
Os níveis elevados de anticorpos apresentados nos exames da paciente resultavam em uma dificuldade de compatibilidade de um rim humano. O sucesso do xenotransplante de Towana pode indicar um avanço clínico sob a escassez de órgãos disponíveis para transplante.
Desde o procedimento, Towana não necessita mais realizar a filtragem artificial do sangue (diálise) e a pressão arterial permanece controlada, de acordo com os médicos. O órgão suíno iniciou a produção de urina antes mesmo de Towana acordar da cirurgia, e os resíduos corporais foram eliminados adequadamente.
Em entrevista ao The New York Times, Towana revela estar cheia de energia: "Nunca me senti tão bem", disse. Atividades diárias realizadas enquanto ela estava em diálise foram facilitadas. “Eu costumava fazer uma tarefa, sentar para descansar, e depois fazer outra tarefa. Agora eu sou multitarefas!”, comemora.
O apetite anulado pela náusea da diálise agora apresenta normalidade, descrito por Towana como capaz de comer refeições completas. O planejamento de viagens de Towana agora não depende de encontrar serviços médicos durante o passeio.
O caminho até a saúde
Diretor do Instituto de Transplante do NYU Langone, Robert Montgomery revela ao New York Times que mais de 100 mil estadunidenses com doença grave ou falência de órgãos estão em listas de espera por um órgão humano doado. A grande maioria — mais de 90 mil — aguarda um rim. Menos de 30 mil rins colhidos de doadores são transplantados a cada ano no país.
Towana recebeu um rim vindo de um animal com dez edições genéticas, fornecido pela Revivicor, uma subsidiária da United Therapeutics Corp. Os quatro pacientes anteriores que realizaram os xenotransplantes estavam muito doentes e tinham opções de tratamento limitadas, o que explica as mortes poucos meses depois da cirurgia.
Towana estava saudável o suficiente para estar na lista de espera de um rim humano e já havia sido doadora de órgãos para a própria mãe. Foi ao engravidar do segundo filho em 2002, por volta dos 20 anos, que Towana desenvolveu o distúrbio pré-eclâmpsia, resultando em hipertensão incontrolável após o parto.
O tratamento de diálise foi iniciado, mas uma assistente social convenceu Towana a ingressar na fila de doação de órgãos. Ao se deparar com uma reportagem televisiva sobre xenotransplante, Towana optou por fazer qualquer coisa para consegui-lo. A vida saudável foi o melhor presente de Natal que ela poderia receber.