A cirurgia e internação hospitalar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "levantou dúvidas sobre sua condição física" e despertou um debate no Brasil sobre "se ele irá ou se deveria" ser candidato à reeleição em 2026, segundo artigo do jornal Financial Times.
Em artigo intitulado "Esquerda brasileira se vê obrigada a considerar futuro pós-Lula", o jornal compara a situação do presidente do Brasil com a dos Estados Unidos, Joe Biden, e até mesmo com Donald Trump, que venceu a eleição americana este ano e assumirá a Casa Branca no próximo mês. Lula está com 79 anos. Biden tem 82. E Trump, 78.
Biden, por exemplo, "sofreu intenso escrutínio sobre sua idade e saúde física".
Lula disse recentemente que só vai decidir sobre sua candidatura mais próximo do pleito. Mas aliados de Lula dizem que o presidente vai concorrer à reeleição.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse em entrevista ao jornal britânico que "não existe plano B" dentro do partido.
Mas ela diz que o PT precisa construir uma liderança para 2030.
O Financial Times cita dois nomes que costumam circular dentro do PT como sucessores de Lula: os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Educação, Camilo Santana.
O jornal diz que, reservadamente, líderes do PT são pessimistas com as perspectivas de um candidato que não seja Lula, e que isso "reflete o estado enfraquecido da esquerda brasileira, após uma reação conservadora causada por polêmicas de corrupção e uma crise econômica na última vez em que esteve no poder".
As perguntas sobre o estado de saúde vieram em um momento "delicado para o governo, em que investidores estão preocupados com as finanças públicas e inflação no Brasil, que estão afetando o câmbio".
"Um esforço para acabar com o déficit primário pelo ministro da Fazenda, Haddad, que muitos consideram favorito para suceder Lula, desagradou muitos esquerdistas do PT que resistem à austeridade fiscal."
O jornal cita o professor de ciência política da Fundação Getúlio Vargas, Eduardo Grin, que diz que as comparações entre Lula e Biden são exageradas e que "a maioria da especulação sobre a saúde de Lula vem do mercado financeiro, que é contra a sua política econômica".
Lula recebeu alta do hospital no domingo (15/12).
Na terça-feira da semana passada, ele havia sido internado às pressas e submetido a uma cirurgia para tratar uma hemorragia no crânio. Lula havia batido a cabeça em outubro, em um acidente doméstico.
Na quinta-feira (12/12), ele passou por um novo procedimento médico para reduzir o fluxo de sangue para a meninge (capa que envolve o cérebro).
O presidente deu entrevista à rede Globo no domingo e disse que voltará em breve ao trabalho. O governo corre contra o tempo para aprovar projetos — como mudanças tributárias importantes — ainda neste ano no Congresso, que entrará em recesso na próxima semana.
Na entrevista à Globo, Lula disse que "ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu".
"Entreguei esse país, sabe, numa situação muito privilegiada. É isso que eu quero fazer outra vez. E não é o mercado que tem ficar preocupado com os gastos do governo. É o governo. Porque, se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, quem vai pagar é o povo pobre", disse Lula.
O presidente também criticou o alto nível da taxa básica de juros ("A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%").