Um filme de ação erótico com um toque diferente, um drama nos bastidores do Vaticano e o retorno de um épico da Antiguidade.
Os críticos de cinema da BBC Nicholas Barber (NB) e Caryn James (CJ) selecionam seus destaques do ano na tela grande e no streaming.
Os números da lista não representam ordem de classificação. Eles foram incluídos apenas para separar os filmes com maior clareza. Pegue a pipoca e confira!
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1. Imaculada
A atriz americana Sydney Sweeney é a produtora e também a estrela deste filme de terror maravilhosamente assustador, sobre uma noviça norte-americana que aprende que nem tudo é o que parece em um convento na Itália.
Imaculada poderia facilmente ter sido um filme apelativo de baixa qualidade, mas é (muito) superior em diversos aspectos – desde os comentários ousados sobre como os homens tratam as mulheres, até a cinematografia, que relembra a arte religiosa renascentista.
Mas o mais surpreendente é a disposição de levar tudo ao mais extremo possível.
Existem inúmeros momentos em que você pensa enquanto está assistindo "não... eles não vão fazer isso... eles não iriam..." – e eles fazem. (NB)
Imaculada está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo, Apple TV e Google Play.
2. Guerra Civil
Guerra Civil gerou reações quase tão polarizadas quanto o país dividido que ele mostra. Este é um sinal de que seu diretor, Alex Garland, tocou em um ponto sensível ao mostrar sua visão fictícia dos Estados Unidos em um futuro próximo, com o país mergulhado em uma guerra civil, governado por um presidente fascista.
Uma personagem central da trama é a fotojornalista interpretada por Kirsten Dunst. Ela e seus colegas (Wagner Moura, Cailee Spaeny e Stephen McKinley Henderson) se colocam em grande risco, testemunhando e relatando as ações à sua volta.
Garland torna essa ação visceral e explosiva, colocando armas e tanques nas ruas de Washington DC e criando violentos encontros cara a cara no supostamente calmo interior do país.
Mas o aspecto mais angustiante do filme é como ele posiciona a ficção, de forma aguda e convincente, a um passo de distância do mundo real.
Alguns espectadores observaram que Garland poderia ter criado um conflito político mais agudo, mas, para mim, o filme já é suficientemente assustador com sua visão de um futuro muito possível, assolado pela guerra. (CJ)
Guerra Civil está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Max e Google Play.
3. Love Lies Bleeding: O Amor Sangra
A personagem de Kristen Stewart tem uma vida infeliz no começo de Love Lies Bleeding: O Amor Sangra, como costuma acontecer com muita frequência com as personagens interpretadas pela atriz.
Enquanto administra uma academia de ginástica decadente em uma cidade pequena, evitando seu pai gângster (Ed Harris), ela tenta em vão convencer sua irmã (Jena Malone) a pôr fim ao seu casamento abusivo.
Mas tudo muda quando chega à cidade uma viajante carismática, interpretada por Katy O'Brian, a caminho de um concurso de bodybuilding em Las Vegas, nos Estados Unidos. Surgem as faíscas e os fogos de artifício do sexo quente, forte violência e a total loucura explodindo.
Filme noir LGBT estiloso e com humor ácido da diretora britânica Rose Glass (que estreou no cinema com o aclamado filme de terror Saint Maud (2019), Love Lies Bleeding: O Amor Sangra é o filme de suspense policial mais engraçado e criativo desde Bom Comportamento (2017) – que, por acaso, era estrelado pelo parceiro de Stewart na saga Crepúsculo (2008-2012), Robert Pattinson. (NB)
Love Lies Bleeding: O Amor Sangra está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo e Max.
4. La Chimera
Os filmes da cineasta italiana Alice Rohrwacher – como a ótima fábula Lazzaro Felice (2018) – têm um toque de realismo mágico.
Ambientado na Toscana (Itália) dos anos 1980, La Chimera é uma das suas melhores obras. Ela percorre a linha entre os sonhos e o realismo em rica textura.
Josh O'Connor interpreta o inglês Arthur, que trabalha com uma gangue de ladrões de túmulos locais, para encontrar artefatos antigos em tumbas etruscas e vender no mercado negro.
Triste e com aparência maltrapilha, Arthur está se recuperando da perda do seu amor, Beniamina. Nas palavras de outro personagem, ele procura no submundo "uma porta para o além" e, às vezes, parece encontrá-la.
Rohrwacher tem um olhar para encontrar beleza nas ruínas, seja na grande casa aos pedaços onde mora a mãe de Beniamina (Isabella Rossellini) ou no próprio Arthur.
O roteiro apresenta movimento contínuo, com perigos, crimes e fugas da polícia. Mas o filme é marcado pela interpretação de O'Connor – comovente e moderada, mas carismática – e pela visão elegante de Rohrwacher, exuberantemente filmada pela grande cineasta Helene Louvart. (CJ)
5. Meu Amigo Robô
Meu Amigo Robô é um desenho animado único. A produção é franco-espanhola, mas presta uma adorável homenagem à vibrante Nova York dos anos 1980.
A animação segue o estilo de um livro de figuras 2D, mas repleta de minúsculos detalhes. Embora não haja diálogos, a obra é salpicada de perspicácia e sabedoria.
O desenho gira em torno de um cachorro e um robô e é um rico estudo da solidão e do companheirismo humano.
Adaptada do romance em quadrinhos de Sara Varon e dirigida por Pablo Berger, esta joia que foi indicada ao Oscar conta a encantadora história de dois amigos que encontram alegria e reconforto na companhia um do outro – e precisam descobrir se conseguem viver afastados. (NB)
Meu Amigo Robô está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Google Play e YouTube.
6. Eu, Capitão
Poucos dramas sobre migrantes são tão comoventes, humanos e cheios de suspense quanto este. Eu, Capitão descreve a traiçoeira jornada de um menino de 16 anos que deixa o Senegal em busca de uma vida melhor.
O filme rendeu a Matteo Garrone (da série Gomorra, 2014-2021) o prêmio de melhor diretor no Festival de Cinema de Veneza, na Itália, de 2023 – e, ao astro amador Seydou Sarr, o prêmio de melhor jovem ator.
Sarr interpreta o personagem fictício Seydou, um menino gentil, determinado a chegar à Itália junto com seu primo, Moussa. E cada etapa da viagem apresenta um perigo diferente.
Eles atravessam o Saara com um grupo de outros migrantes. Quando uma mulher morre, Seydou a vê deslizando no ar, como se a realidade fosse grande demais para ser internalizada.
Na Líbia, Seydou é preso e torturado. E, na última etapa da viagem, ele precisa pilotar um barco cheio de migrantes em direção à Itália – daí o nome Eu, Capitão.
Com relativamente poucas palavras, Garrone e Sarr criam um filme real, penetrante e eloquente sobre um personagem, cuja história retrata a situação de milhões de pessoas em todo o mundo. (CJ)
Eu, Capitão está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Google Play e YouTube.
7. Dias Perfeitos
Talvez você não imaginasse que alguém que limpava banheiros públicos para viver pudesse ter encontrado o segredo da felicidade. Mas Dias Perfeitos, do cineasta Wim Wenders, defende com convicção esta ideia.
O filme falado em japonês, do diretor e roteirista alemão, é um hipnótico estudo do seu personagem. Ele acompanha Hirayama (K?ji Yakusho) na capital japonesa, Tóquio, enquanto ele cumpre com suas tarefas de limpeza, rega as plantas, lê romances, ouve rock americano e tira fotos de árvores – tudo silenciosamente, com o mesmo orgulho e diligência.
Aqui e ali, surgem indicações de como a vida de Hirayama mudou e como ela pode vir a mudar ainda mais no futuro. Mas o foco do filme é a meditação em forma de documentário sobre a serenidade de uma existência restrita aos seus pontos essenciais.
E os banheiros públicos do filme são tão bem projetados que Dias Perfeitos poderia muito bem transformá-los em atrações turísticas. (NB)
Dias Perfeitos está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo e Apple TV.
8. Gladiador 2
A continuação do épico da era romana do diretor Ridley Scott, vencedor do Oscar de 2000, é extremamente interessante.
O filme inclui desde a atuação dinâmica (e subestimada) de Paul Mescal como o protagonista Lucius – o gladiador e herdeiro secreto do trono do Império Romano – até as cenas fascinantes e implacáveis no Coliseu, onde os gladiadores enfrentam adversários que incluem tubarões, babuínos e rinocerontes.
Mescal é a âncora do filme. Ele nos mostra a raiva e a sensibilidade de Lucius. Fora do Coliseu, Denzel Washington se supera como o magnata vestido com toga e joias, que compra Lucius e o leva para seu grupo de lutadores.
Pedro Pascal interpreta um general romano, enquanto Joseph Quinn e Fred Hechinger dão um ar assustador como os imperadores gêmeos debochados, que se sentam no lugar que, por direito, pertence a Lucius.
Repleto de cores e exageros maravilhosos, Gladiador 2 é tudo o que se pode esperar de um filme no cinema – a prova de que, quando Scott está no melhor da sua forma, é capaz de criar um espetáculo grandioso como nenhum outro diretor. (CJ)
No Brasil, Gladiador 2 está em cartaz nos cinemas.
9. Babygirl
Babygirl traz Nicole Kidman como a poderosa dona de uma milionária empresa de robótica, ao lado de Harris Dickinson, como um jovem e arrogante estagiário.
Assim que coloca os olhos nele, ela sente que o jovem poderia conseguir satisfazê-la de formas que seu amoroso marido (Antonio Banderas) não consegue. Começa então um arriscado jogo de dominação e submissão.
Esta poderia ser a premissa de um glamouroso thriller erótico dos anos 1980 ou 90. E, em alguns aspectos, Babygirl parece ser exatamente isso, com seus belos atores e atrizes, seu figurino da moda e seus ótimos cenários.
Mas a roteirista e diretora Halina Reijn (Morte Morte Morte, 2022) sente muita compaixão pelos seus personagens para tratá-los como sedutores predadores e vítimas infelizes, que poderiam ter feito parte de um filme daquele tipo, décadas atrás.
Na verdade, eles são indivíduos imperfeitos, com vidas tumultuadas e desejos conflitantes, o que torna o seu affair ainda mais fascinante e imprevisível. (NB)
No Brasil, Babygirl tem previsão de estreia nos cinemas em janeiro de 2025.
10. Hard Truths
O diretor Mike Leigh demonstra mais uma vez que um filme não precisa ser grande ou turbulento para ser espetacular.
Vinte e oito anos depois de Segredos e Mentiras (1996), Leigh traz a atriz Marianne Jean-Baptiste, que interpreta Pansy. A personagem é tão deprimida e convencida de que o mundo está contra ela que ataca a tudo e a todos, desde estranhos até os mais próximos.
Sua atuação é surpreendente – furiosa e intensa, mas cheia de empatia e compreensão.
Sem sentimentalismo e sem defender Pansy explicitamente, Leigh e Jean-Baptiste geram enorme compaixão pela personagem. Seu amargor e comportamento agressivo são consequências de uma infelicidade profunda que é inexplicável para ela.
Os atores coadjuvantes, especialmente Michele Austin como irmã de Pansy, criam uma família preocupada com ela, mas que não tem ideia do que deve fazer.
Mais uma vez, Leigh prova que é um mestre em nos fazer mergulhar na realidade de vidas comuns em um filme que, apesar da sua espinhosa heroína, chega a incluir traços de sagacidade e é repleto de calor humano. (CJ)
11. Tudo que Imaginamos como Luz
O primeiro longa-metragem da diretora indiana Payal Kapadia foi um documentário lançado em 2021 (Uma Noite Sem Saber Nada). Mas ela era praticamente desconhecida (pelo menos, para mim) até este ano, quando o lançamento do seu primeiro drama a incluiu na lista dos jovens diretores mais interessantes do mundo.
Em Tudo que Imaginamos como Luz, as atrizes Kani Kusruti, Divya Prabha e Chhaya Kadam interpretam três mulheres indianas de diferentes gerações. Todas trabalham no mesmo hospital de Mumbai, na Índia, e compartilham sofrimentos pessoais.
Uma delas é viúva e está por ser despejada da casa do casal. Outra vive a milhares de quilômetros de distância de um marido que ela mal conhece. E a terceira é apaixonada por um homem com quem seus pais nunca irão permitir que ela se case.
À medida que as mulheres estudam se devem permanecer em Mumbai ou voltar para suas aldeias de origem, este filme poético e comovente evoca a sonhadora magia de perambular à noite por uma grande e agitada cidade.
Navegando na fronteira entre a ficção e o documentário, o filme é tão intimista e inspirador que faz o espectador se sentir como se também estivesse vagando pela cidade, ao lado de três amigas queridas. (NB)
No Brasil, Tudo que Imaginamos como Luz está em cartaz nos cinemas.
12. Emilia Pérez
Não existe nada como Emilia Pérez.
O drama musical do diretor francês Jacques Audiard é divertido, artisticamente arrojado e delirantemente maluco. O filme é tão bizarro que não deveria funcionar, mas suas partes se encaixam com surpreendente astúcia e movimento.
Karla Sofía Gascón interpreta um senhor do crime mexicano, Manitas. Ele se transmuta para se tornar Emilia, com ajuda de sua advogada (Zoe Saldaña).
Emilia se disfarça de uma prima distante, para se aproximar da própria esposa (Selena Gomez) e dos filhos. Ela se torna filantropa, até ser atingida pelos seus impulsos criminosos.
O filme é repleto de música e dança, com números musicais ao lado de cenas de violência. Mas, sob essa aparente intensidade, as personagens evoluem até o seu final comovente – com destaque para Gomez e Saldaña.
Em um cenário de filmes de super-heróis e continuações, por mais maravilhosos que sejam alguns deles, este filme se destaca pela sua originalidade. Audiard reúne uma ousada mistura de gêneros para criar um filme tocante e ambicioso. (CJ)
No Brasil, Emilia Pérez tem previsão de estreia nos cinemas em fevereiro de 2025.
13. Nosferatu
Já há muito tempo, os vampiros do cinema passaram a ser sedutores – como em True Blood (2008-2014) e na saga Crepúsculo (2008-2012) – ou absurdos – como em Hotel Transilvânia (2012-2022) e Renfield – Dando Sangue pelo Chefe (2023).
Mas a notável refilmagem do clássico mudo do mesmo nome (1922), do cineasta alemão F. W. Murnau (1888-1931), leva os vampiros de volta para suas antigas origens no folclore europeu. E, ao mesmo tempo, acrescenta um lado moderno ao tema do romance original Drácula, de Bram Stoker (1847-1912).
Nosferatu (2024) é um filme de época meticulosamente pesquisado, ambientado na Alemanha do início do século 19.
Bill Skarsgård interpreta o morto-vivo Conde Orlok. E assim encontramos, pela primeira vez, um vampiro que não é um devasso encantador, nem um rabugento solitário. Ele é uma força demoníaca verdadeiramente estranha e monstruosa.
Mas o melodrama gótico de Eggers, na verdade, não é sobre o conde, por mais assustador que ele seja. Na verdade, a história é sobre Thomas Hutter (Nicholas Hoult) e sua esposa Ellen (Lily-Rose Depp), um casal teoricamente feliz que é ameaçado pelas suas inseguranças de classe e sexo – e também pelo sanguinário da Transilvânia, que se mudou para a mansão rural vizinha em ruínas. (NB)
No Brasil, o lançamento de Nosferatu nos cinemas está previsto para janeiro de 2025.
14. Conclave
Conclave é uma obra rara: um filme comercial fascinante, repleto de talento artístico e enriquecido pela direção meticulosa de Edward Berger e pela sutil, mas poderosa atuação de Ralph Fiennes.
Fiennes interpreta um cardeal que concorre à eleição do novo papa. E Berger – depois de Nada de Novo no Front (2022), que ganhou o Oscar de melhor filme internacional de 2022 – oferece à obra o ritmo de um grande thriller político, com as manipulações, o jogo sujo e as manobras de bastidores dos cardeais participantes do conclave.
A cinematografia é deslumbrante, com belas composições de cenas, repletas das ricas cores dos mantos dos cardeais e com a grandiosidade dos ambientes do Vaticano.
O cardeal Lawrence, interpretado por Fiennes, é totalmente calmo na superfície, mas podemos observar sua angústia interior pelo questionamento da própria fé.
E existem interpretações fascinantes e claramente estudadas, como a de Stanley Tucci, que acrescenta um toque engraçado como um concorrente ao cargo em disputa; John Lithgow, como um cardeal de alto escalão que precisa esconder seus escândalos; e Isabella Rossellini, uma freira que costuma ficar nos bastidores, até que finalmente escolhe o momento certo de dizer palavras fortes.
Como as melhores obras de Hollywood, Conclave é inteligente e sofisticado. Assistir ao filme é um imenso prazer. (CJ)
No Brasil, o lançamento de Conclave nos cinemas está previsto para janeiro de 2025.
15. Anora
Merecido vencedor da Palma de Ouro deste ano no Festival de Cannes, na França, Anora conta a turbulenta história de Ani (Mikey Madison), uma jovem russo-americana, dançarina de um clube de striptease de Nova York, nos Estados Unidos.
Por um valor expressivo, ela concorda em fazer sexo com Vanya (Mark Eydelshteyn), o filho cabeça-oca de um oligarca russo, e acaba acreditando que eles podem ter um futuro juntos. Mas os pais de Vanya não estão de acordo com esta possibilidade.
Madison e o roteirista e diretor do filme, Sean Baker, criaram uma personagem com tanto entusiasmo que ela salta da tela. Suas absurdas desventuras são, ao mesmo tempo, engraçadas e emocionantes.
Mas Baker sempre mantém tudo ligado à realidade nua e crua da vida americana contemporânea, como ele próprio fez em seus filmes anteriores, como Tangerina (2015) e Projeto Flórida (2017).
Delirantemente divertido, Anora é um autêntico retrato das pessoas que contam com pouco dinheiro no bolso. (NB)
No Brasil, o lançamento de Anora nos cinemas está previsto para janeiro de 2025.
16. A Semente da Figueira Sagrada
Esqueça o título confuso. Este filme franco-iraniano é um dos mais poderosos e oportunos do ano.
Ele se baseia em uma família que incorpora o conflito político e geracional que assola o Irã.
Iman é o pai austero, investigador do Tribunal Revolucionário Islâmico na capital Teerã. Sua esposa é dócil e submissa e suas duas filhas jovens adultas prestam atenção ao movimento de protesto das mulheres nas ruas.
O diretor Mohammad Rasoulof inclui na sua obra algumas imagens reais dos protestos de 2022. Mas o filme é um drama repleto de suspense e tensão, muito longe de ser um folhetim.
Iman perde sua arma e acusa a família de tomá-la. Sua personalidade brutal e a profunda resistência da filha contra ele e o patriarcado do país transformam o filme em uma história de ação angustiante.
Rasoulof produziu o filme em segredo. Ele fugiu de uma sentença de prisão no Irã para apresentar a obra em Cannes. Agora, ele vive no exílio, na Alemanha.
Mas a ação na tela é o que importa. O filme é um drama intenso e intimista, que registra o impacto brutal que a política pode exercer sobre os indivíduos. (CJ)
17. A Substância
O sucesso da diretora francesa Coralie Fargeat combina diversos gêneros cinematográficos. Ele começa como uma sátira dura e brilhante do mundo do show business, no mesmo estilo de Crepúsculo dos Deuses (1950).
Sua heroína é uma ex-superestrela vencedora do Oscar (Demi Moore), considerada ultrapassada pelo detestável produtor do seu programa diário na TV (Dennis Quaid).
O filme então se transforma em um drama surreal de ficção científica, que relembra O Médico e o Monstro (1941). A ex-estrela paga para ser clonada e fazer com que sua réplica "melhor e mais jovem" (Margaret Qualley) possa assumir o programa.
Depois disso, A Substância passa a ser um brutal filme de monstros, até chegar à sua extraordinária e cruel conclusão.
As críticas sobre as tendências preconceituosas de Hollywood em relação ao sexo e à idade não são exatamente sutis. Mas, aqui, a sutileza raramente é a questão.
Fargeat prova que, se você tiver algo a dizer e expressar aquilo com força suficiente, um filme com orçamento relativamente baixo ainda pode levar as pessoas a assistir – e depois discutir o tema em questão. (NB)
A Substância está disponível no Brasil no Mubi, na Amazon Prime Vídeo e na Apple TV.
18. Blitz
Steve McQueen amplia seu já extenso repertório com este filme comovente. Ele nos faz mergulhar na vida de uma mãe solteira e seu filho durante os bombardeios de Londres, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Saoirse Ronan interpreta Rita, uma trabalhadora industrial que mora com seu pai (Paul Weller) e seu filho George, de nove anos (Elliott Heffernan).
McQueen é conhecido pelos seus filmes mais sombrios, como Fome (2008) e 12 Anos de Escravidão (2013). Agora, ele mistura o ambiente dos tempos de guerra com a aventura, crítica social e um acolhedor sentimento familiar.
Quando George foge para evitar ser enviado para um local seguro no interior, sua jornada assume características de Oliver Twist. O filme também aborda o racismo que rodeia a família, incluindo a forma como o pai de George, que é imigrante africano, foi preso injustamente e deportado.
Os atores agem de forma natural, mesmo nas circunstâncias mais extraordinárias, sob a liderança de Ronan. Ele nos permite observar, desde o início, o intenso amor de Rita pelo seu filho.
A corajosa cinematografia de McQueen cria uma sensação cruel de presenciar o bombardeio. Mas, em última análise, esta comovente história de guerra fala sobre família, com toda a sua dramaticidade e emoção. (CJ)
Blitz está disponível no Brasil na Apple TV.
19. A Verdadeira Dor
A brilhante carreira de Jesse Eisenberg como ator incluiu um pouco de tudo, como Zumbilândia (2009 e 2019), A Rede Social (2010) e Sasquatch Sunset (outro sucesso de 2024). Agora, depois de duas décadas, ele prova que tem, atrás das câmeras, o mesmo talento que exibe na tela.
Seu segundo filme como roteirista e diretor conta a história de dois primos, David e Benji, interpretados pelo próprio Eisenberg e por Kieran Culkin.
David é cuidadoso e precavido, enquanto Benji é extrovertido e irritantemente egocêntrico. Mas, para tentar restabelecer o relacionamento que eles tiveram quando crianças em Nova York, os primos fazem um tour guiado por locais históricos do Holocausto na Polônia.
O que é extraordinário em A Verdadeira Dor é que o filme lida com um tema tão sério, com respeito e sensibilidade – e, ainda assim, consegue fazer rir do começo ao fim. Isso porque as partes cômicas sempre parecem descontraídas, surgindo naturalmente das personalidades dos dois primos.
Eisenberg conseguiu elaborar um filme sincero, esclarecedor e profundamente tocante que, ao mesmo tempo, é também o mais engraçado do ano. (NB)
No Brasil, o lançamento de A Verdadeira Dor nos cinemas está previsto para fevereiro de 2025.
20. Ainda Estou Aqui
O cineasta brasileiro Walter Salles – de Central do Brasil (1998) e Diários de Motocicleta (2004), entre tantos outros – traz um drama político pessoal neste filme eloquente, baseado na história real da família Paiva.
No Rio dos anos 1970, o ex-deputado federal Rubens Paiva foi um dos muitos desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985).
Ele foi levado pela polícia e nunca mais foi visto. Sua esposa Eunice e seus cinco filhos precisaram enfrentar as consequências do ocorrido pelos anos e décadas que se seguiram.
A interpretação de Fernanda Torres é de discreta, mas notável resistência. Ela sintetiza a vontade de ferro de Eunice, lutando para sustentar sua família e descobrir o destino do marido.
Walter Salles nos faz sentir a tensão e o medo gerados pelo sequestro nos dias que se seguiram. Mas poucos filmes ilustram de forma tão singular os efeitos permanentes deste tipo de tragédia sobre as pessoas que ficam para trás.
Com o passar do tempo, a família enlutada aprende a olhar para frente, sem perder de vista o passado. E Ainda Estou Aqui revela esse longo luto de forma elegante, mostrando como as ações políticas e suas repercussões podem tirar a vida das pessoas completamente dos trilhos. (CJ)
No Brasil, Ainda Estou Aqui está em exibição nos cinemas.
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