EXPOSIÇÃO

Anna Wintour: 'A palavra 'não' é maravilhosa'.

A guru da moda falou à BBC antes da exposição em Londres que relembra a Vogue e história da indústria.

Anna Wintour, editora-chefe da revista Vogue desde 1988, está sempre com seus característicos óculos escuros.

"Me ajudam a ver e a não ver", diz a icônica referência do mundo da moda à BBC News. "Me ajudam a ser vista e a não ser vista. São um adereço, um acessório, eu diria."

Ela é a idealizadora da exposição VOGUE: Inventing the Runway (Vogue: Inventando a Passarela, em tradução livre), que conta a história das passarelas, no Lightroom, em Londres.

Anteriormente, o local já sediou exposições de grande sucesso, como a de Tom Hanks sobre a história das viagens espaciais.

Agora, o espaço apresenta ao público um lugar na primeira fila de alguns dos desfiles de moda mais espetaculares da história, explorando o arquivo vasto e a rede de colaboradores da Vogue.

Para quem é do ramo, Anna Wintour é uma das figuras mais influentes da moda há quase 40 anos — uma impulsionadora de carreiras e defensora do poder da moda de se conectar com a elite do entretenimento.

É ela quem está por trás do Met Gala anual em Nova York, onde os mundos da moda e da fama se encontram anualmente em um espetáculo de roupas extravagantes e aparições de celebridades, sempre na primeira segunda-feira de maio.

Já aqueles que estão fora desse círculo tendem a se perguntar o quanto Wintour se assemelha a Miranda Priestly, a chefe tirânica de revista ficcional do filme O Diabo Veste Prada, cuja interpretação por Meryl Streep está gravada na memória dos fãs.

Durante sua viagem a Londres, Anna Wintour abraçou a comparação, participando da apresentação de gala do novo musical inspirado no filme O Diabo Veste Prada.

Lá, ela disse à BBC que "cabe ao público e às pessoas com quem trabalho decidir se há alguma semelhança entre mim e Miranda Priestly".

PA Media
Anna Wintour participa de abertura de gala do musical 'O Diabo Veste Prada'

Como a rainha do mundo da moda, Anna Wintour tem ocupado a primeira fila nos desfiles há décadas. Ela admite que, "para alguém que vai a tantos desfiles, você fica um pouco, não entediado, mas acostumado com a experiência".

No texto de apresentação da exposição, Anna Wintour escreve que provavelmente passou um ano de sua vida "esperando começarem os desfiles de moda, famosos por atrasarem".

À BBC, ela recorda que o estilista americano Marc Jacobs, certa vez, atrasou um desfile em uma hora e meia. "Mas gritamos tanto com ele depois disso que, na temporada seguinte, não só começou pontualmente, como começou cinco minutos antes."

Já o designer italiano Gianni Versace era “sempre pontual”. "Não importava quem não estivesse lá — poderia ser o papa —, ele não se importava”, comenta Wintour."

A exposição da Vogue oferece ao público uma série de capítulos vibrantes, narrados pela atriz australiana Cate Blanchett, que contam a história da moda e das passarelas.

"É bastante nostálgico sentar no espaço e observar as mudanças incríveis que aconteceram na moda", comenta Anna Wintour.

Getty Images
Anna Wintour com a rainha Elizabeth Segunda em 2018, durante um desfile de modas em Londres

Na exposição, os visitantes são presenteados com capas históricas da revista, imagens em preto e branco dos primeiros desfiles e registros dos salões de alta-costura do início do século 20.

Naquela época, a moda era "muito elitista — você precisava ser convidado, e era um mundo bem restrito", explica Wintour.

Esse cenário contrasta fortemente com o desfile de estreia do músico e empresário Pharrell Williams para a grife Louis Vuitton em 2023.

O evento, realizado na Pont Neuf, em Paris, foi um marco da cultura pop, com presenças de estrelas como Beyoncé, Rihanna e, claro, Wintour. Transmitido online, alcançou um bilhão de visualizações.

Como a maioria dos visitantes da exposição provavelmente nunca teve a oportunidade de assistir a um evento assim, ela afirma que fizeram questão de garantir que a experiência fosse o mais realista possível, como se a audiência do público realmente estivesse lá.

Getty Images
Wintour em Paris em 1973 para o desfile da coleção Primavera de Madame Gres

Sempre com corte de cabelo impecável, trajes meticulosamente elaborados e os tradicionais óculos escuros, Wintour evita dizer se se veste de maneira mais informal quando está em casa, nos EUA. "É realmente uma questão de respeito na forma como você se apresenta."

Também é comum ouvir que ninguém no mundo da moda jamais diz "não" para Wintour.

Donatella Versace faz a mesma observação no recente documentário da Disney, In Vogue: The 90s.

Wintour discorda: "Isso é absolutamente falso. Eles dizem 'não' muitas vezes, mas isso é uma coisa boa. 'Não' é uma palavra maravilhosa."

Sob sua liderança, Wintour buscou preparar a Vogue para o futuro, transformando a revista em uma marca global. Ela também atua como consultora global de conteúdo para a Condé Nast, editora da revista.

Na era em que influenciadores podem registrar momentos da moda e publicá-los instantaneamente, Wintour posicionou com sucesso a Vogue como uma referência definitiva em gosto e estilo.

REUTERS/Andrew Kelly
Anna Wintour e o ator britânico Bill Nighy chegando para o Met Gala

Moda e publicidade estão entrelaçadas no conteúdo da Vogue, mas Anna Wintour não concorda com a premissa de que o jornalismo de moda possa ser bajulador.

"Isso simplesmente não é verdade, e, às vezes, acho frustrante para nós que trabalhamos com moda, a percepção externa de que a moda é frívola e superficial", diz ela.

"Na verdade, é um negócio enorme. Damos emprego a milhões de pessoas ao redor do mundo."

Aos 75 anos, ela planeja permanecer em seu cargo. "Não tenho planos de deixar meu trabalho", responde. E complementa: "Atualmente."

Mais Lidas