ORIENTE MÉDIO

Coalizão rebelde e liderada por islamitas avança na Síria

Em meio a apelos da comunidade internacional por uma desescalada das tensões na região, o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), à frente do movimento, intensificou a ação

Após uma ofensiva relâmpago no norte da Síria, a coalizão rebelde liderada por islamitas avançou rapidamente, ontem, para o centro do país. Em meio a apelos da comunidade internacional por uma desescalada das tensões na região, o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), à frente do movimento, intensificou a ação. Com o controle de dezenas de localidades e de grande parte de Aleppo, a segunda cidade síria mais importante, terminaram o dia, ontem, às portas de Hama, considerada central e estratégica.

As hostilidades foram retomadas no país há uma semana, após quase 14 anos de guerra civil. As forças governamentais tentam bloquear, sem sucesso, a passagem dos insurgentes, com o apoio da aviação russa. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), a coalizão, no fim da noite de ontem, havia conseguido entrar na quarta maior cidade do país. 

A ONG indicou que os combatentes haviam bombardeado alguns bairros. Uma fonte militar síria citada pela agência oficial Sana afirmou que "importantes reforços militares chegaram à cidade". "Confrontos violentos acontecem no norte da província". Hama está localizada na rota que conecta Aleppo com Damasco, a capital.  

De acordo com o observatório, com sede no Reino Unido e que conta com uma ampla rede de fontes na Síria, os grupos insurgentes tomaram o controle de várias localidades na região. Um fotógrafo da agência France Presse (AFP) testemunhou dezenas de tanques e veículos militares do Exército sírio abandonados na estrada que segue até Hama, antes da chegada do reforço.

"Combates ferozes"

"Avançamos para Hama depois de limpar (as localidades no caminho)", afirmou um combatente rebelde que se apresentou como Abul Huda Surani. Por sua vez, o Exército sírio citou "combates ferozes", em particular no norte da província.

Desde a quarta-feira passada, quando a mobilização rebelde ganhou o país, foram registrados mais de 600 óbitos, incluindo 104 de civis. Os combates e bombardeios no noroeste do país foram os primeiros de grande magnitude desde o ano de 2020.

Os confrontos vêm provocando ainda um forte êxodo. Até sábado, em torno de 48,5 mil  pessoas, mais da metade crianças, foram deslocadas nas regiões de Idlib e do norte de Aleppo, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).

O grupo inclui milhares de curdos sírios. Na estrada Aleppo-Raqqa, no norte do território sírio, uma multidão tenta fugir das áreas controladas pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos, formando longas filas de carros, caminhonetes e motos. São famílias inteiras que tentam escapar para áreas controladas pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos.

Pela primeira vez desde o início da guerra, em 2011, o regime perdeu totalmente o controle de Aleppo, onde os insurgentes, incluindo grupos apoiados pela Turquia, se posicionaram na área, com exceção dos setores do norte habitados por curdos. Rebeldes armados patrulham as ruas, perto da cidadela histórica, ou permanecem posicionados no aeroporto internacional da cidade de dois milhões de habitantes.

Em Idlib, onde aviões sírios e russos responderam à ofensiva com bombardeios, equipes de resgate trabalhavam, ontem, entre os escombros de edifícios destruídos pelos ataques, que também atingiram o campo de refugiados de Haranabuch. "Não consigo descrever o terror que sofremos", disse Hussein Ahmar Khader, um professor que mora na região.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou estar "alarmado com a recente escalada da violência no noroeste da Síria". Ele pediu o "fim imediato das hostilidades", segundo seu porta-voz. Os Estados Unidos, que lideram uma coalizão internacional antijihadista na Síria, exortaram "todos os países" a trabalharem para uma "desescalada", assim como a União Europeia, que "condenou" os ataques russos "em áreas densamente habitadas".

O presidente sírio, Bashar al Assad, afirmou que a "escalada terrorista" tenta "redefinir o mapa regional de acordo com os interesses e objetivos dos Estados Unidos e do Ocidente". 

 


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