Em luto e sob forte apreensão por causa da tragédia que se abateu no país com a morte de 179 pessoas, na explosão do voo Jeju Air Flight 2216, um Boeing 737-800, a Coreia do Sul determinou uma inspeção geral em todas as aeronaves do mesmo tipo e no sistema de segurança aérea. No mesmo momento, outro avião da Jeju Air teve problemas com o trem de pouso e foi obrigado a retornar ao aeroporto de Gimpo, em Seul, logo após decolar. Não houve vítimas nem danos mais graves.
O voo 7C101 da Jeju Air, que partiu na manhã de segunda-feira (30/12) do Aeroporto Internacional de Gimpo para Jeju, informou aos 161 passageiros sobre o defeito mecânico causado pelo problema no trem de pouso e posteriormente retornou. Os passageiros foram transferidos para uma unidade alternativa do mesmo modelo Boeing B737-800. Mas 21 pessoas optaram por não embarcar por questões de segurança.
Os investigadores sul-coreanos e norte-americanos tentam descobrir o que causou o pior desastre aéreo da história do país. Inicialmente, as autoridades atribuíram a uma colisão com pássaros. Mas especialistas ouvidos pelo Correio têm dúvidas sobre essas suspeitas, assim como questionam a possibilidade de falhas no trem de pouso.
"Os pássaros poderiam ter afetado adversamente o avião, inclusive causando a falha de um motor. No entanto, a aeronave poderia voar com um motor. O fato de o trem de pouso estar levantado não indica dano provocado por aves. Existem várias maneiras de estender o trem de pouso", detalhou John Cox, piloto aposentado e CEO da Safety Operating Systems, em St. Petersburg, Flórida
Segundo o piloto, a aeronave modelo 737 pode pousar sobre as cápsulas do motor, que são fortes o suficiente para apoiá-lo. De acordo com ele, há um vídeo que mostra supostamente o motor direito colidindo com pássaros. Se isso de fato ocorreu, afeta a potência do motor. Ele afasta falhas no trem de pouso. "Não tenho motivos para pensar que houve mau funcionamento do trem de pouso."
Vítimas
Diante da gravidade da tragédia, a estimativa é de que 179 mortos sejam identificados e preparados para os velórios e enterros em apenas dez dias. É que como houve a explosão da aeronave, a maioria dos corpos deve ser submetida a análise de DNA e impressões digitais. O avião transportava 181 pessoas da Tailândia para a Coreia do Sul, dois tripulantes sobreviveram: um homem, de 33 anos, que está na UTI, e uma mulher, de 25, que segue estável.
A Coreia do Sul decretou sete dias de luto com bandeiras hasteadas a meio mastro. O atual presidente, Choi Sang-mok, foi ao local do acidente na cidade de Muan, no sudoeste, para participar de um memorial. Ele tomou posse há menos de uma semana, mas prometeu se empenhar e disse que "todos os esforços" serão feitos.
Embora tenha ocorrido o acidente aéreo de grandes proporções, a Coreia do Sul tem um forte histórico de segurança aérea e as duas caixas-pretas do voo foram recuperadas. Parentes das vítimas acamparam durante a noite, no aeroporto, aguardando notícias sobre seus entes queridos.
"Eu tinha um filho a bordo do avião", disse um idoso que esperava no saguão. Dos 179 mortos, as idades variavam de 3 a 78 anos, todos eram coreanos, exceto dois tailandeses.
Saiba Mais
Em 2024 foram registrados 200 acidentes
O ano de 2024 acaba com um saldo de pelo menos 200 acidentes aéreos no Brasil e no mundo. A tragédia envolveu muitos mortos e feridos. Só no Brasil, foram 524 mortos. O mistério em torno das causas prevalece em grande parte dos casos. Os dados são da plataforma Aviation Safety Network, que monitora desastres aéreos em todo o globo. Foram registrados quase 200 acidentes durante 2024. Em 2023, foram 109.
No Mundo
O acidente mais recente é a colisão contra um muro, do aeroporto, seguida pela explosão do Jeju Air 2216, na Coreia do Sul (foto), ocorrido no fim de semana. No último dia 25, o voo Azerbaijan Airlines 8243, no Cazaquistão, foi atingido e 38 pessoas morreram.
Menos de sete meses antes, no Nepal, em 24 de julho, um Bombardier CRJ-200ER caiu logo após decolar do Aeroporto Tribhuvan. Das 19 pessoas a bordo, 18 morreram. Em 31 de agosto, a Rússia viu o acidente do helicóptero Mil Mi-8T, que caiu nas proximidades do vulcão Vachkazhets, matando os 22 ocupantes.
O primeiro acidente aéreo de 2024 foi em 2 de janeiro, no Japão, o voo A350 estava encerrando uma viagem tranquila entre o norte do país e a capital. Porém, ao tocar a pista do aeroporto de Tóquio colidiu com um avião da guarda costeira japonesa. Não houve mortos, mas vários feridos.
Casos no Brasil
No último dia 27, um avião monomotor de pequeno porte caiu em uma região de difícil acesso, em meio à vegetação do Pantanal, no município de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. Três pessoas foram resgatadas com vida do veículo, modelo Cessna Aircraft 182S (foto).
Em 20 de dezembro, a queda de um avião de pequeno porte em Manicoré, no Amazonas, deixou dois mortos. Exatos dois dias depois, um acidente em Gramado, no Rio Grande do Sul, com um avião modelo PA-42-1000, matou 10 pessoas.
Em 9 de agosto, o país ficou em choque com a queda de um avião modelo ATR 72-500 operado pela Voepass, em Vinhedo, São Paulo, durante um voo entre Cascavel e Guarulhos. As 62 pessoas a bordo morreram. Foi o acidente mais fatal no Brasil desde o voo TAM 3054, em 2007.
Segundo informações da Força Aérea Brasileira (FAB) divulgadas recentemente, outros acidentes pequenos ao longo do ano fizeram o país somar 138 mortes, chegando a um aumento de 79,2% em relação a 2023, quando 77 falecimentos por essa causa foram registrados.
Desde 2018, o Brasil registrou 526 mortes em acidentes aéreos em 2024. É o ano com maior número de óbitos do período recente.