Jimmy Carter, o 39º presidente dos Estados Unidos, será velado com honras de Estado sob a rotunda do Capitólio, em Washington, em 9 de janeiro. A 11 dias de entregar o cargo para o republicano Donald Trump, o democrata Joe Biden anunciou que prestará uma homenagem ao amigo e se incumbiu de pronunciar o epicédio, como é conhecido o discurso fúnebre, ante o caixão. Após o velório público no Congresso, o corpo chegará à Catedral Nacional de Washington às 10h (hora local) para uma cerimônia religiosa. Depois, seguirá para Plains, no estado da Geórgia, sua cidade natal, onde será sepultado com a presença apenas da família. Desde o início da noite de domingo (29/12), as bandeiras da Casa Branca, do Capitólio e dos prédios do governo dos Estados Unidos foram baixadas a meio-mastro. As despedidas de Carter contarão com cerimônias públicas também em Atlanta. O ex-presidente será sepultado em Plains, com a presença apenas da família.
Em visita às Ilhas Virgens, Biden afirmou que milhões de pessoas ao redor do mundo sentem que perderam um amigo, ainda que nunca o tivessem encontrado. "Com sua compaixão e clareza moral, ele trabalhou para erradicar doenças, fojar a paz, avançar nos direitos civis e direitos humanos, promover eleições livres e justas, abrigar os desabrigados e sempre defender os menos favorecidos entre nós. Ele salvou, elevou e mudou as vidas de pessoas em todo o mundo", declarou o presidente, visivelmente emocionado.
Em entrevista ao Correio, por telefone, da cidade de Plains, o engenheiro elétrico Hugo Wentzel, 25 anos, neto de Jimmy Carter, falou sobre os últimos momentos de vida do ex-presidente, que morreu no domingo, aos 100 anos. "Ele esteve cercado pela família, como queria, e estava muito feliz com a sua longa vida. Ele realizou tantas coisas e se sentia realizado, o que me deixa muito feliz", contou. Para ele, o legado do avô passa pelos direitos humanos, por um governo justo e pela lembrança de amar uns aos outros, não importa o que aconteça. "Ele é meu ídolo e minha inspiração. Suas convicções pessoais existem para ajudar o mundo. Ele foi um grande homem. Quero que todos se lembrem dele com amor."
Morador de Plains, o músico Andrew Greer disse ao Correio que conheceu Carter durante um culto na Igreja Batista Maranatha, em 2007. "Doze anos depois, Jimmy Carter e a esposa, Rosalynn Carter, sentaram-se perto de mim e pude conversar com eles. Depois, trabalhei em um documentário sobre a cidade de Plains e entrevistei a família Carter. Eu definiria o ex-presidente como um homem de paz, de decência e de princípios", comentou.
Na última conversa que tiveram, Greer perguntou a Carter sobre o legado que deixaria ao mundo. "Ele respondeu que gostaria que as pessoas seguissem a forma com que Cristo ensinou tratar as pessoas, com respeito, dignidade e amor. O presidente Carter foi um exemplo de paz e de amor." Segundo ele, Plains reage à perda com tristeza e ternura. "Ele teve uma vida plena. Estava pronto para a sua próxima aventura, tinha 100 anos. Não é uma tragédia, mas uma grande perda. Jimmy era o pilar da nossa comunidade", opinou o amigo.
Além de Biden, três ex-presidentes dos EUA renderam um tributo ao antecessor. Barack Obama destacou que Carter "ensinou a todos o que significa viver uma vida de graça, dignidade, justiça e serviço". George W. Bush disse que o falecido líder "dignificou o cargo". "Os seus esforços para deixar um mundo melhor não terminaram com a presidência", declarou. Por sua vez, Bill Clinton afirmou que o copartidário democrata "viveu para servir aos outros, até o fim". Em declaração conjunta com a esposa, Hillary Clnton, sublinhou que Carter "trabalhou incansavelmente por um mundo melhor e mais justo". Trump admitiu que os EUA têm uma "dívida de gratidão" com Carter. "Os desafios que Jimmy enfrentou como presidente surgiram em um momento crucial para o país e ele fez tudo o que estava ao seu alcance para melhorar a vida dos americanos", escreveu o presidente eleito nas redes sociais.
Líderes mundiais enalteceram a importância de Carter, que ganhou o Nobel da Paz em 2002. O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, elogiou o papel do americano, artífice dos acordos de Camp David de 1978, para a paz com o Egito, e o considerou uma fonte de "esperança para as gerações futuras". Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, o classificou como "um extraordinário estadista e pacificador".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou que Carter "foi, acima de tudo, um amante da democracia e um defensor da paz". "No fim dos anos 1970, ele pressionou a ditadura brasileira pela libertação de presos políticos. Depois, como ex-presidente, continuou militando pela promoção dos direitos humanos, pela paz e pela erradicação de doenças", afirmou. Lula lembrou que Carter criticou ações militares unilaterais de superpotências e o uso de drones em assassinatos. "Trabalhou com o Brasil na mediação de conflitos na Venezuela e na ajuda ao Haiti. Será lembrado para sempre como um nome que defendeu que a paz é a mais importante condição para o desenvolvimento."