Diplomatas e políticos lamentaram a morte de Jmmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos, aos 100 anos. Para os negociadores acostumados com as articulações internacionais, ele será lebrado por suas qualidades de estadista, como a defesa pela democracia e a paz. Eles lembraram que, no comando da Casa Branca de 1977 a 1981, foi um grande crítico das ditaduras latino-americanas, inclusive, a do Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou as redes sociais para se manifestar. “Acima de tudo, (era) um amante da democracia e defensor da paz”. “No fim dos anos 1970, pressionou a ditadura brasileira pela libertação de presos políticos. Depois, como ex-presidente, continuou militando pela promoção dos direitos humanos, pela paz e pela erradicação de doenças na África e na América Latina”, escreveu.
“Carter conseguiu a façanha de ter um trabalho como ex-presidente, ao longo de décadas, tão ou mais importante que o seu mandato na Casa Branca, criticou ações militares unilaterais de superpotências e o uso de drones assassinos”, afirmou. Lula ainda lembrou que o norte-americano trabalhou ao lado de representantes do Brasil na mediação de conflitos na Venezuela e na ajuda ao Haiti.
Rubens Ricupero, diplomata ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, destacou que Carter introduziu a questão dos direitos humanos no centro da agenda política internacional. Segundo ele, o ex-presidente jamais perdeu a simplicidade, participando da escola dominical da Igreja Batista.
“Ele colocou a União Soviética na defensiva, abrindo caminho para os acordos de Helsinque cujas implicações de médio prazo conduziram gradualmente a volta da democracia aos antigos países comunistas. Carter aplicou uma pressão eficaz contra as ditaduras latino-americanas dos anos 1970”, afirmou, em entrevista ao Correio.
Para Ricupero, Carter deixou um extenso legado, sobretudo pelo acordo de paz entre Egito e Israel, o principal até hoje no Oriente Médio. Além disso, o diplomata destacou o acordo de devolução do Canal ao Panamá, “ora ameaçado pelo presidente eleito dos EUA Donald Trump”; e a adoção de postura de aceitação das mudanças na América Central como a queda da ditadura de Anastasio Somoza, na Nicarágua.
“Ao deixar a presidência, Carter realizou uma obra incansável na promoção da paz, de eleições limpas e democráticas, dos direitos humanos, que lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz e a descrição como o ‘melhor ex-presidente dos Estados Unidos’”, destacou Ricupero. “Por todas essas razões foi sempre unanimemente respeitado pelos cidadãos norte-americanos.”
O ex-embaixador do Brasil em Washington e CEO do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, reiterou a simplicidade de Carter, que assinou o acordo de Camp David que previa a paz entre o Egito e Israel. “Foi um defensor dos direitos humanos, muito crítico do governo Ernesto Geisel nessa questão. Depois da presidência, atuou no Carter Center na defesa da democracia, dos direitos humanos e da transparência das eleições, inclusive nos países sul americanos”, afirmou Barbosa ao Correio.
O ex-governador e ex-senador Cristovam Buarque contou ter conhecido Carter em um jantar na embaixada dos EUA em Brasília. “Lembramos a carta enviada a ele por estudantes da UnB, denunciando a violência da ditadura, colocada emoldurada em uma parede do Centro Carter, em Atlanta. Jimmy Carter foi um raro estadista que seguia ética antes da politica”, afirmou.