Um míssel russo teria abatido o Embraer 190, ao confundi-lo com drones da Ucrânia, afirmaram especialistas militares e aeronáuticos. Fontes governamentais do Azerbaijão citadas pela imprensa internacional corroboram a hipótese. O avião da companhia Azerbaijan Airlines voava de Baku, capital azeri, para Grósnia, na república russa da Chechênia, mas desviou a rota e se chocou com o solo perto da cidade cazaque de Aktau, às margens do Mar Cáspio. Trinta e oito pessoas morreram no acidente, que aconteceu na quarta-feira.
Segundo o Caliber, um site azerbaijano pró-governo, autoridades azeris acredita que um míssil terra-ar russo, disparado por um sistema de defesa antiaérea Pantsir-S próximo a Grósnia, causou a queda do avião. O Embraer 190, com 62 passageiros e cinco tripulantes a bordo, tinha como destino a Chechênia, onde, nas últimas semanas, houve relatos de ataques com drones procedentes da Ucrânia, em guerra com a Rússia. O jornal norte-americano The New York Times, a rede de televisão Euronews e a agência de notícias turca Anadolu publicaram informações semelhantes.
Moscou se apressou em advertir contra hipóteses sobre a causa do acidente com a aeronave de fabricação brasileira. "Devemos esperar pelo fim da investigação", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Especulações
O Cazaquistão denunciou imediatamente as "especulações" sobre o acidente, sobre o qual não há uma hipótese oficial. O presidente do Senado cazaque, Maulen Ashimbayev, garantiu que é impossível dizer neste momento o que causou a catástrofe. "Os verdadeiros especialistas estão investigando e chegarão às suas conclusões. Nem o Cazaquistão, nem a Rússia, nem o Azerbaijão têm qualquer interesse em ocultar informação", declarou, citado pela agência oficial russa Tass.
Também sob anonimato, um funcionário do governo norte-americano afirmou à agência de notícias France Presse (AFP) que os primeiros indícios sugerem que o sistema antiaéreo da Rússia atingiu o avião. A autoridade acrescentou que, se a evidência for confirmada, ela exporia o que Washington chama de "imprudência" da Rússia em sua invasão da Ucrânia em 2022.
A princípio, a companhia aérea alegou que pássaros atingiram o avião, mas retirou a informação em seguida. Buracos visíveis na fuselagem são um dos elementos citados em apoio à teoria de que teria sido derrubado. Um blogueiro e especialista militar russo, Yuri Podoliaka, disse no Telegram que os danos eram semelhantes aos que poderiam ser causados por um sistema de mísseis antiaéreos.
Um ex-especialista da agência francesa de investigação de acidentes aéreos (BEA) disse à France Presse que parecia haver muitos estilhaços na fuselagem. "Isso lembra o MH17", disse, sob condição de anonimato, referindo-se ao voo da Malaysia Airlines atingido por um míssil terra-ar sobre a Ucrânia em 2014, que matou 298 pessoas.
O serviço Flightradar24, que permite acompanhar a movimentação dos aviões em tempo real, mostra que o Embraer 190 atravessou o Mar Cáspio, desviando-se do seu percurso normal, antes de voar em círculos sobre a zona onde caiu. Durante momentos críticos antes da queda, a comunicação por GPS com a aeronave foi interrompida, sugerindo uma interferência proposital no sistema.
Luto
Segundo o Ministério de Situações de Emergência do Cazaquistão, 38 pessoas morreram no acidente e 29 sobreviveram, incluindo três crianças, que foram hospitalizados. A bordo do avião estavam 37 azeris, seis cazaques, três quirguizes e 16 russos.
Os corpos de quatro vítimas foram repatriados pelo Azerbaijão, para onde também devem ser enviados 14 sobreviventes. O presidente do país, Ilham Aliev, decretou um dia de luto nacional, após interromper uma visita à Rússia no dia anterior para uma cúpula informal.
Jalil Aliyev, pai da comissária de bordo Hokume Aliyeva, disse que este deveria ter sido o seu último voo antes de começar a trabalhar como advogada para a companhia aérea. "Por que sua jovem vida teve que terminar de forma tão trágica?", questionou.
Em Moscou, o governo informou que nove russos retornaram ao país. O presidente Vladimir Putin expressou suas condolências ao seu homólogo do Azerbaijão, segundo o Kremlin.