Milhares de sírios da minoria alauíta, à qual pertence o presidente deposto Bashar al Assad, protestaram em várias cidades do país nesta quarta-feira (25), depois que um vídeo de um suposto ataque a um de seus santuários se tornou viral.
As manifestações alauítas são as primeiras desde que uma aliança rebelde, liderada pelo grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), tomou Damasco e derrubou Assad em 8 de dezembro, após uma ofensiva relâmpago de 11 dias.
O ex-líder, abandonado por seus aliados russos e iranianos, fugiu para Moscou depois de governar a Síria com mão de ferro por 24 anos.
Milhares de alauítas foram às ruas nas cidades costeiras de Tartus, Jableh e Latakia, no oeste do país, onde a minoria alauíta tem forte presença, disseram testemunhas e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Os alauítas são um ramo minoritário do Islã na Síria, cuja população é majoritariamente muçulmana sunita. Assad queria se apresentar como o protetor das minorias em um país multiconfessional e multiétnico.
O OSDH, com sede em Londres, que tem uma extensa rede de fontes na Síria, disse que também houve protestos em Banias e Homs, a grande cidade central.
A polícia decretou toque de recolher durante a noite, das 18h00 (12h em Brasília) às 08h00 (2h em Brasília) em Homs, de acordo com a agência de notícias oficial SANA. As autoridades também anunciaram um toque de recolher em Jableh.
A raiva dos alauítas explodiu após a divulgação de um vídeo que mostrava um ataque a um de seus santuários, localizado no bairro de Maysaloon, na segunda maior cidade da Síria, Aleppo.
Em Damasco, o Ministério do Interior disse que a filmagem era "antiga" e datava "da época da libertação" de Aleppo, no início deste mês, durante a ofensiva rebelde.
A retransmissão do vídeo tinha a intenção de "incitar o conflito entre o povo sírio nessa fase delicada", acrescentou.
As novas autoridades intensificaram os gestos de abertura em relação a todas as minorias em um país traumatizado por mais de 13 anos de guerra que deixou meio milhão de pessoas mortas.
Em Jableh, os manifestantes gritavam "Alauítas, sunitas, queremos paz", disse um deles, Ali Daoud, à AFP.
Em Latakia, os manifestantes denunciaram "violações contra a comunidade alauíta", de acordo com Ghidak Mayya, 30 anos, que participou das manifestações. "No momento, estamos ouvindo pedidos de calma (...) Mas a situação pode explodir", acrescentou.
A nordeste de Damasco, uma equipe de resgate dos Capacetes Brancos e um ativista relataram ter descoberto uma provável vala comum contendo os restos mortais de prisioneiros mantidos pelo antigo governo ou de combatentes mortos durante o conflito.
Uma equipe da AFP viu sepulturas alinhadas lado a lado em um terreno baldio a cerca de 30 quilômetros a nordeste da capital, formando uma vala de mais de um metro de profundidade, coberta com placas de concreto que haviam sido movidas.
Nessa área de Jisr Baghdadi, havia vários sacos visíveis, alguns com um nome ou número de sepultura.
"Achamos que é uma vala comum. Encontramos uma cova aberta com sete sacos cheios de restos de esqueletos", disse Abdel Rahmane Mawas, um socorrista dos Capacetes Brancos.