Decidir qual será a cor de um cômodo da casa é uma tarefa importante. Afinal, a maioria de nós irá conviver com ela por anos, talvez décadas.
Você talvez imagine que seria impraticável e caro demais examinar e seguir as tendências atuais das cores e efeitos das tintas.
Mas, na verdade, as tendências das cores ganharam muita atenção nos últimos tempos. As cores dos interiores domésticos estão ficando cada vez mais arrojadas, com o uso de tons populares e vibrantes. E também é comum empregar cores sisudas, mais escuras, às vezes da cor de joias.
É difícil ignorar tantas possibilidades. Quais são as principais tendências que estão surgindo e quais fatores estão influenciando a tomada de decisões?
A estrategista de interiores da empresa de previsão de tendências WGSN Bonnie Pierre-Davis diz à BBC que "o interesse por tons escuros aumentou nos últimos tempos".
"Pudemos observar isso nas passarelas e nas indústrias automotivas e de design de produtos para interiores, começando com tons de azul escuro e, agora, mudando para os tons de roxo... Os consumidores estão lentamente adquirindo mais confiança para aplicar estas cores nas paredes, devido às suas qualidades terapêuticas."
A confirmação de que certas cores estão na moda vem de todas as áreas da cultura, segundo a professora de Design, Cores e Impressão do Centro de Pesquisa de Impressão da Universidade do Oeste da Inglaterra em Bristol, Carinna Parraman. Ela promove uma série de palestras online sobre cores.
"Na atual temporada de Strictly Come Dancing [a versão britânica da série de TV Dancing with the Stars], as roupas dos dançarinos têm cor de ameixa, tons de roxo, teca escuro, amarelo e verde", conta a professora.
A cor do ano da empresa Pantone já variou de Peach Fuzz ("penugem de pêssego") até mimosa. A cor da empresa para 2025 chama-se Mocha Mousse, um marrom suave com tom de bege. A cor foi anunciada no início de dezembro e Londres ficou iluminada pelo tom no horizonte.
Quem faz a seleção é a equipe de previsão de tendências globais do Pantone Color Institute, inspirada por uma série de influências, segundo a vice-presidente do instituto, Laurie Pressman.
"Elas podem incluir a indústria do entretenimento e os filmes sendo produzidos, coleções de arte em exposição e novos artistas, moda, todas as áreas do design, destinos de viagem emergentes, novos estilos de vida e condições socioeconômicas", explica ela.
"As influências também podem vir de novas tecnologias, materiais, texturas e efeitos que causam impacto sobre as cores, plataformas de redes sociais relevantes e até eventos esportivos futuros, que chamam a atenção de todo o mundo."
"As marcas de tintas costumavam ser muito fortes para determinar as tendências das cores", segundo a consultora de cores Fiona de Lys.
De fato, houve uma época em que as tendências estabelecidas para as tintas pareciam intocáveis. Um exemplo foi a cor magnólia, que reinou sem concorrentes nos anos 1980.
Mas uma mudança importante sobreveio na década de 1990, com o auge da marca britânica de tintas Farrow & Ball. "Houve uma evolução quando a empresa promoveu a ideia de cores rarefeitas, com nomes como 'respiração de elefante'", explica de Lys.
"Isso gerou um tribalismo. Alguém poderia entrar na casa de uma pessoa e identificar a cor da tinta, como forma de declarar um conhecimento conjunto, criando também um grande sentimento de sofisticação."
A maior quantidade de cores disponíveis dificulta para as marcas prever se uma nova tendência de cor ou possível coleção irá decolar.
O CEO (diretor-executivo) da marca de tintas britânica Mylands, Dominic Myland, destaca que as cores são subjetivas. "Certas cores afetam positivamente o humor de algumas pessoas, mas as mesmas cores causam reação negativa em outras", conta ele à BBC.
A coleção de tintas "doces" da marca de tintas britânica Little Greene, por exemplo, traz ricos tons de marrom com nomes de sobremesa, como "affogato" e "ganache". Mas ela pode ser recebida com indiferença por pessoas que não gostam de doces.
Muitos de nós podemos desejar viver em cômodos pintados com algumas das ricas e glamourosas cores de tintas da moda atual. Mas será que realmente vale a pena correr este risco?
"Uma cor forte, profunda e sonora pode e irá transformar completamente o ambiente de um cômodo", explica Philippa Stockley, autora dos livros Restoration Stories ("Histórias de restauração", em tradução livre), sobre a restauração de casas antigas, e Paint & Make ("Pinte e faça", em tradução livre).
"Bem empregada e com conhecimento, a cor pode ser inacreditavelmente intensa; mas a cor forte errada pode ser insuportável. Para considerar cores intensas, é fundamental investir em latas de teste — e sempre pintá-las em um quadro que possa transportado pelo cômodo, pois a luz pode alterar significativamente sua aparência."
Stockley também ensina que as cores das tintas podem mudar conforme a estação, o que talvez explique, em parte, a tendência atual de tons ricos e profundos, já que estamos no inverno do hemisfério norte.
Para ela, "a tendência atual de tons quentes de bege, marrom e castanho amarelado, além de cores como chocolate quente cremoso, espesso e batido, até o chocolate verdadeiro, quente e derretido, com efeito aveludado e reconfortante, faz todo sentido".
Aqui estão nove tendências de cores de tinta que merecem ser consideradas.
1. Mocha Mousse
A cor do ano de 2025 da Pantone, Mocha Mousse, sugere um café quente e espumante ou um relaxante chocolate quente. E, por associação, ela evoca uma sensação de contentamento e equilíbrio.
Similar ao cacau em pó, este novo tom também se harmoniza com a tendência de cores de tinta que evocam alimentos e bebidas.
As qualidades reconfortantes do Mocha Mousse certamente enviam uma mensagem subliminar de que, depois da pandemia, passamos a apreciar os prazeres simples que nos satisfazem.
Esta cor neutra e clássica também transmite uma noção de discreto luxo e se traduz bem nos ambientes internos, na forma de materiais suaves e agradáveis ao toque, como sofás ou cabeceiras com revestimento de veludo e camurça.
Por outro lado, quando empregado na cor da tinta ao lado do branco, seu impacto é nítido e acentuado.
2. Abacate e verde-oliva
Neste cômodo, diferentes tons de verde cobrem quase todas as superfícies, criando um efeito imersivo.
Para chegar a este visual inundado de cores, foram usados três tons de verde da marca Little Greene, para três tipos de superfície diferentes no cômodo: um tom de verde-oliva chamado "Hopper" para as paredes e rodapés, outro de verde-garrafa para o teto e seus acabamentos e um tom de verde-limão levemente ácido, chamado "citrino", para a moldura da janela — uma forma inteligente de intensificar a luz do dia que entra no quarto.
O desejo de pintar um cômodo quase inteiro com três tons de uma única cor reflete a confiança cada vez maior dos consumidores para usar as cores de forma mais ousada, segundo a diretora criativa da marca, Ruth Mottershead.
"O conhecimento do efeito das cores sobre a atmosfera de um espaço cresceu exponencialmente ao longo dos últimos anos", ela conta. "E os tons de verde são adequados para essa formação de camadas, já que existem muitas tonalidades de verde que são diferentes, mas harmoniosas, como observamos na natureza."
3. Vinho e carmesim
Três superfícies claramente distintas neste cômodo foram pintadas de tons quentes diferentes que se complementam. Quem defende esta mistura de cores ou tons contrastantes é a designer Betsy Smith, diretora criativa do fabricante de tintas Graphenstone, com sede na Espanha.
Neste cômodo, as paredes, os painéis de madeira e o interior da estante são diferenciados utilizando três cores de tinta: canela, cornalina e cinábrio.
"Para mim, o importante ao usar cores de tinta é verificar como elas interagem", conta ela à BBC. "Duas cores podem reforçar uma à outra e causar mais impacto."
Ela descreve a cor mais clara da parede como "um rosa rico e escuro, que se esquiva entre o terra escuro, cacau em pó e amora". Na verdade, a tinta dá a impressão de ser um pó.
"Você quase consegue se imaginar passando os dedos pelas paredes, com a tinta saindo como terra seca nas suas mãos", ilustra ela. "Os tons mais escuros têm ótima aparência na madeira, o que é compensado aqui pelo revestimento vermelho vivo no interior da estante. Ele oferece uma explosão de cor."
4. Ameixa e tons de uva
Esta cor de uva com aparência fosca e pastel é envolvente, mas não tão escura a ponto de parecer opressiva.
Seu nome é "cravo" e ela faz parte da linha de tintas à base d'água da empresa britânica de móveis Neptune. Elas têm baixo teor de VOCs (compostos orgânicos voláteis, na sigla em inglês).
Sua cor de malva claramente não se parece com o tom marrom dos cravos usados como especiarias, mas ela foi deliberadamente concebida para ser ambígua e de difícil identificação.
"Ela evoca imagens de bagas de zimbro e madeira escura", explica o diretor de design da Neptune, Fred Horlock. "Ela flutua entre um tom decadente de ameixa e o marrom escuro."
Apesar da sua sutileza, o tom de ameixa marca forte presença porque é uma rara escolha de cor. E este ponto é enfatizado no cômodo, que evoca um ar boêmio de meados do século passado, com seus móveis, cerâmica e arte abstrata no estilo dos anos 1950.
5. Verde-musgo escuro
Já observamos o forte retorno dos tons de verde-oliva e abacate na decoração de interiores.
Agora, está surgindo uma variação mais incomum e talvez desafiadora desta cor: um verde-musgo mais escuro e sombrio, como o tom de verde chamado "Messel n° 39".
Ele faz parte da "paleta do artista", uma nova coleção de cores da Mylands, criada por Despina Curtis, uma das fundadoras da consultoria de cores Etté.
"A paleta é inspirada no caráter pioneiro do Grupo de Bloomsbury. Seus membros [artistas e intelectuais britânicos da primeira metade do século 20] incentivavam a liberdade de expressão através das cores, influenciando a arte e o design até hoje", explica Curtis.
O verde-musgo pode ser usado parcimoniosamente, por exemplo, para destacar áreas menores, como portas ou armários, evitando que ele pareça superpoderoso. Mas Curtis pensa diferente.
"Vejo este verde escuro como meditativo, suave, com qualidades curativas, talvez porque ele parece estar imerso na história da arte."
6. Marrom intenso
O gosto pelo marrom em tintas é uma das novas e mais surpreendentes tendências entre as cores.
O marrom pode parecer sujo e barrento, mas, com o anúncio de Mocha Mousse como a cor do ano de 2025, podemos esperar ver tons de marrom sendo mais adotados em ambientes internos.
Neste caso, as paredes são pintadas com a cor Galette da Little Greene, que faz parte da paleta de "doces" da marca. Mas este tom específico de marrom parece restrito e utilitário.
Mottershead explica que os tons de marrom são atraentes porque "podem fornecer um pano de fundo perfeito para acabamentos rústicos e naturais, sejam eles de carvalho ou de madeiras mais escuras e pisos de pedra".
Ela explica que a tendência reflete "um desejo de nos rodearmos de cores acolhedoras e reconfortantes, que forneçam serenidade na nossa casa".
Mas o apelo dos tons de marrom tem seus limites. Eles podem se adequar bem à cozinha de casas de campo ou chalés, mas podem parecer monótonos e sem vida, em cômodos com pouca luz do dia. Ou podem ficar deslocados, em ambientes muito contemporâneos.
7. Rosa empoeirado e terracota
A sala de jantar do chalé georgiano de Fiona de Lys é pintada com dois tons complementares: um tom de rosa vivo nas paredes e uma tonalidade de terracota (chamada "marrom etrusco") no acabamento de madeira. As duas tintas são do fabricante britânico Edward Bulmer.
De Lys descreve o tom mais escuro como "cor de sombra". "Ele relembra a sombra lançada por uma laje de pedra em projeção sobre uma construção iluminada pelo sol", explica ela.
"Escolho para minha casa cores que refletem minha herança estética e evocam emoções e sensações específicas."
De Lys é metade italiana e as cores da sua sala de jantar possuem forte associação com a Ligúria, no noroeste da Itália, onde ela passou parte da infância. Agora, ela costuma ficar com frequência naquela região.
"As cores evocam as pinturas trompe l'oeil encontradas na Ligúria", ela conta.
"As cores quentes da sala relembram o solo e os alimentos cultivados na terra. Por isso, é agradável tê-las por perto para comer por aqui. A sala está voltada para o norte – outra razão por que escolhi cores quentes."
Estas cores provavelmente têm um amplo apelo, especialmente entre as pessoas que amam a natureza e a vida no campo, segundo ela.
"Inconscientemente, somos atraídos para tons de rosa e marrom porque, primitivamente, eles refletem as cores encontradas no solo. Eles parecem nos conectar à terra."
8. Amarelos quentes e dourados
Os tons de amarelo com um toque de marrom ou laranja são outra grande tendência do momento.
A cor exibida no teto é da Little Greene e se chama "Middle Buff". "É uma cor neutra, interessante e profunda, que surpreende oferecendo um tom de terra para acompanhar os amarelos mais fortes", segundo Mottershead.
Nas paredes, foi usado um tom levemente mais limpo (rosa amarelado). Novamente, foi empregada aqui a técnica de dois tons, resultando em um pano de fundo amarelo sólido, que faz com que a cadeira pintada com tom vermelho pareça bem mais atraente.
Stockley especula que os amarelos tingidos de laranja ou dourado possam ter sido inspirados pelas pinturas de Vincent Van Gogh (1853-1890), particularmente o uso de amarelos radiantes na sua obra criada em Arles, no sul da França.
"A popular exposição atual sobre Van Gogh na Galeria Nacional, em Londres, é um encanto por várias razões", segundo ela.
"Uma delas é que, neste conjunto particular de pinturas, Van Gogh quase não usou preto. Outro motivo por que a exibição é tão estimulante é o brilho refletido em todas as pinturas brilhantes, com tons claros, cantando com tanta alegria, raramente deprimidas por um toque de preto."
9. Azul ultramarino
A designer de interiores Rachel Chudley escolheu este suntuoso tom ultramarino (chamado "Plimsoll", da empresa britânica Paint & Paper Library) para um espaço no pé da escada de uma casa no distrito de Bloomsbury, em Londres.
"O tom azul escuro contra a tonalidade clara da escadaria oferece teatralidade e personalidade a este pequeno espaço embaixo da escada, que passa a ser um lugar aconchegante", explica ela.
Chudley é conhecida por usar as cores de forma exuberante, mas ponderada. Esta é uma marca dos seus projetos de longa data.
Seu interesse por tintas individuais combinadas vai de acordo com a crescente demanda atual por cores personalizadas e paletas de tinta selecionadas.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.