Europa

Crise na Alemanha: Chanceler Olaf Scholz perde moção de confiança

Parlamento rejeita voto de confiança no chefe de governo, e presidente terá que antecipar eleições para fevereiro de 2025. Especialistas avaliam erros do chanceler e os rumos do país

Olaf Scholz: coalizão de três partidos com interesses opostos 
 -  (crédito: Ralf Hirschberger/AFP)
Olaf Scholz: coalizão de três partidos com interesses opostos - (crédito: Ralf Hirschberger/AFP)

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, foi derrotado em uma moção de confiança votada pelo Bundestag (Parlamento), em mais um capítulo da crise política enfrentada pelo governo do social-democrata. Agora, caberá ao presidente Frank-Walter Steinmeier dissolver a legislatura e antecipar as eleições para fevereiro de 2025 — nove meses antes do previsto. "Estou feliz que a decisão tenha sido finalmente tomada, que as coisas estejam caminhando e que os cidadãos agora tenham a palavra", declarou o chefe de governo à emissora NTV. Ao todo 207 parlamentares mantiveram a confiança em Scholz, enquanto 394 votaram contra e 116 se abstiveram. 

Cientista político da Universidade Luís Maximiliano de Munique, Günther Auth explicou ao Correio que a coalizão tripartidária que sustentava o governo Scholz — formada pelos social-democratas, pelos Verdes e pelos liberais — estava amaldiçoada por divergências em áreas vitais, como a política energética, a economia, o meio ambiente e a política social. "Eram diferenças incompatíveis. Também por conta de compromissos respectivos dos partidos a clientes internos ou internacionais. Não havia muito espaço para manobra", observou. 

De acordo com Auth, Scholz tem se mostrado controverso. "Ele se envolveu em um escândalo de corrupão prolongado quando era prefeito de Hamburgo. Também amargou a imagem de um tomador de decisões hesitante e discreto", disse.

Intencional

Rüdiger Schmitt-Beck, cientista político da Universidade de Mannheim, acredita que Scholz queria perder o voto de confiança. "Esse é o único jeito de dissolver o Bundestag e alcançar novas eleições. A Consituição da Alemanha não permite ao Parlamento se dissolver. A perda da moção de confiança é a única forma de realizar nova votação. Essa rota foi a escolhida repetidamente por ex-chanceleres. O último deles foi o social-democrata Gerhard Schröder, em 2005", lembrou à reportagem. 

Ainda segundo Schmitt-Beck, a crise atual é reflexo da "baixíssima" popularidade do governo Scholz. "Ele teve que lidar com imensos desafios, para os quais não estava bem equipado. Para começar, integra a primeira coalizão de três partidos no nível federal um modo particularmente complicado de governar. Isso poderia ter funcionado bem não fosse a invasão russa à Ucrânia, depois de o governo assumir. A guerra mudou a agenda do governo de questões mais culturais, onde os três partidos concordavam, para temas socioeconômicos, pelos quais estavam em desacordo. Como consequência, a história do governo foi de lutas constantes entre os parceiros, o que tornou todos os três partidos muito impopulares. Dentro dessa constelação, Scholz assumiu o papel de um moderador que dificilmente adotava uma postura pessoal e evitava compromissos políticos. Os eleitores não gostaram de sua constante ambiguidade." 

Rodrigo Craveiro
postado em 17/12/2024 06:10
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