Foram várias tentativas de contato. Às 19h36 (hora de Brasília) desta segunda-feira (16/12), a agência de notícias France-Presse (AFP) informou que o Ministério Público da Bolívia emitiu uma ordem de prisão contra o ex-presidente Evo Morales, acusado de abuso de menor enquanto ele chefiava o país (2006 e 2019). Segundo a promotora Sandra Gutiérrez, Morales teria cometido "tráfico de menor", depois de um suposto acordo com os pais de uma adolescente de 15 anos.
Minutos depois, Evo Morales atendeu à ligação do Correio, por meio do WhatsApp. "Não tenho nada o que comentar, sabendo que essa é uma questão somente política", respondeu. Ao ser questionado se considerava a ordem de prisão uma perseguição por parte do governo do presidente Luis Arce, Morales declarou: "Totalmente". Então, agradeceu e desligou o telefone.
Em 30 de outubro passado, o Correio havia questionado Morales sobre o mesmo processo. "A menina pediu que não falássemos mais sobre isso. Eles têm me investigado desde 2020. Não encontraram nada. A investigação foi rejeitada. Ponto final", afirmou. De acordo com o ex-presidente, em 2021, Arce "começou a preparar um 'plano sombrio' para destroçar Evo politicamente". Na ocasião, ele qualificou o atual governo de esquerda como "de traição e corrupção". "Tenho a obrigação de salvar a nossa revolução e a Bolívia com o povo boliviano. Meu crime é ser índio", disse.
Endereço
Segundo o jornal boliviano El Universo, a polícia não pôde executar a ordem de captura de Morales, emitida em 16 de outubro e somente divulgada ontem, por uma série de razões. Além de desconhecerem o endereço do ex-presidente, as autoridades esbarram nos conflitos ocasionados pelos bloqueios de rodovias impostos pelos simpatizantes de Evo Morales. "Hoje (16/12), apresentamos uma imputação formal contra o senhor Evo Morales Aima e a senhora Idelsa Pozo Saavedra. (...) Estamos à espera de que o juiz assinale a data e a hora para a audiência de medidas cautelares", afirmou Sandra Gutiérrez.
A promotora esclareceu que o caso não foi mencionado antes por ser "muito complexo", por envolver um ex-presidente. A agência France-Presse divulgou que o escândalo remonta a 2015. O líder cocaleiro era presidente e, segundo o processo, manteve um relacionamento com uma adolescente de 15 anos, com quem teve uma filha em 2016. A promotoria sustenta que os pais da garota a inscreveram na "guarda juvenil" de Morales "com o único objetivo de ascender politicamente e obter benefícios (...) em troca de sua filha menor". O Ministério Público apresentou denúncia contra Morales e a mãe da suposta vítima pelo crime de "tráfico de pessoas agravado".