As evidências forenses e balísticas que, segundo a polícia, ligam o acusado de assassinar o executivo do setor de planos de saúde, Brian Thompson, à cena do crime, vão dificultar a defesa de seus advogados, segundo ex-promotores e outros especialistas jurídicos.
Luigi Mangione, de 26 anos, foi preso no Estado americano da Pensilvânia na segunda-feira (9/12), depois que uma operação de busca em vários Estados, que durou seis dias, terminou em um McDonalds na cidade de Altoona.
As autoridades de Nova York afirmam que impressões digitais e cartuchos de balas o ligam à cena do crime, que ocorreu em frente a um hotel em Manhattan.
Seu advogado, Thomas Dickey, disse anteriormente à imprensa local que "ainda não tinha visto nenhuma evidência" que implicasse seu cliente.
Ele afirmou que Mangione se declararia inocente das acusações que enfrenta na Pensilvânia, incluindo acusações relacionadas a armas de fogo.
Em Nova York, ele foi acusado de homicídio em segundo grau pelo assassinato a tiros de Thompson, CEO da provedora de planos de saúde UnitedHealthcare, e não está claro como ele vai se declarar.
Atualmente, Mangione está detido em uma prisão estadual na Pensilvânia, onde luta contra a extradição para enfrentar a acusação de homicídio. A batalha legal sobre sua extradição pode levar mais de um mês para ser resolvida, segundo as autoridades.
Mas especialistas em direito disseram à BBC que é improvável que as tentativas para contestar sua extradição para Nova York sejam bem-sucedidas. No entanto, elas poderiam fornecer à sua defesa um vislumbre das evidências do Estado contra ele.
"Eu nem sei se é ele", disse o advogado de Mangione, Thomas Dickey, em uma entrevista recente à rede americana NewsNation, referindo-se às imagens do assassino de Thompson.
"Vamos avaliar e dar ao governo a chance de apresentar algumas evidências", ele acrescentou.
Se Mangione for extraditado para Nova York para enfrentar a acusação de homicídio, o advogado Mitchell Epner, ex-procurador de Nova York, disse à BBC que há, em linhas gerais, duas abordagens que o suspeito poderia adotar se ele se declarar inocente.
"A defesa número um é 'não fui eu', e a defesa número dois é 'fui eu, mas não deveria ser punido' por causa de X", afirmou.
De acordo com a polícia de Nova York, Mangione foi encontrado com uma arma semelhante à arma do crime, um silenciador e uma identidade falsa, além de três páginas manuscritas que, segundo eles, sugerem um possível motivo.
Epner ressaltou que as evidências que vieram a público até o momento significam que negar a responsabilidade está "fora de cogitação".
Outro advogado baseado em Nova York, o defensor criminal e professor Dmitriy Shakhnevich, afirmou que o advogado de Mangione também poderia, em teoria, argumentar que um "estado mental" comprometido o torna incapaz de ser julgado.
"Se um juiz determinar que ele está entendendo mal, ou não está entendendo, o que está acontecendo no tribunal, basicamente o caso não será levado adiante", explicou.
"Ele vai ser internado por um período de tempo até que seja considerado apto, o que talvez nunca aconteça."
Esta linha de defesa, acrescentou Shakhnevich, é diferente de uma alegação de insanidade, na qual seus advogados poderiam argumentar que "ele não é responsável por suas ações devido a algum transtorno mental".
"Isso também poderia considerá-lo inocente, porque você não satisfaria os elementos do crime", observou.
"Mas, novamente, ele não sai livre. Ele seria internado por um período, supondo que a defesa seja bem-sucedida."
Ameaça de 'imitadores'
O início das batalhas judiciais de Mangione fez com que doadores anônimos contribuíssem com milhares de dólares para sua defesa por meio de campanhas de arrecadação de fundos online.
Isso acontece à medida que algumas pessoas compartilham seu apoio ao suspeito e sua raiva contra o sistema de planos de saúde. O Departamento de Polícia de Nova York (NYPD, na sigla em inglês) também alertou que alguns executivos da área de assistência à saúde estão potencialmente correndo perigo devido a uma "lista de alvos" publicada online após o assassinato de Thompson.
Em um comunicado, a polícia de Nova York disse que várias postagens virais incluíam os nomes e os salários de outros executivos do setor de seguros. Cartazes simulados de "procura-se" apresentando alguns executivos também foram pregados em Manhattan.
Mangione supostamente tinha reclamações contra o setor de maneira geral.
Timothy Gallagher, ex-agente do FBI, a polícia federal americana, e diretor administrativo da Nardello and Co, uma empresa global de investigações, advertiu que o clima atual significa que a "ameaça de um crime inspirado nesse é real".
"Há pessoas por aí que têm queixas e estão observando a quantidade de espaço na imprensa e atenção que está sendo dada ao acusado", afirmou.
Gallagher observou que houve uma "efusão de apoio de cantos obscuros da internet" para causas anticorporativas.
"Temo que isso possa alimentar ataques subsequentes", alertou.