SÍRIA

Por que queda de Assad na Síria é golpe para prestígio de Putin

Por quase uma década, foi o poder de fogo russo que manteve Bashar al-Assad no poder. Até os eventos extraordinários do último fim de semana.

Assad e Putin se encontraram em julho de 2014 na Rússia -  (crédito: EPA)
Assad e Putin se encontraram em julho de 2014 na Rússia - (crédito: EPA)

Por quase uma década, foi o poder de fogo russo que manteve Bashar al-Assad no poder.

Até os eventos extraordinários do último fim de semana: Damasco caiu, o presidente da Síria foi derrubado e voou para Moscou, onde pediu asilo.

Citando uma fonte no Kremlin, agências de notícias russas e a TV estatal relataram que a Rússia concedeu asilo a Assad e sua família "por motivos humanitários".

Em questão de dias, o projeto do Kremlin para a Síria se desfez nas circunstâncias mais dramáticas, com Moscou impotente para impedi-lo.

Em uma declaração, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou que Moscou estava "acompanhando os eventos dramáticos na Síria com extrema preocupação".

A queda do regime de Assad é um golpe para o prestígio da Rússia.

Ao enviar milhares de tropas em 2015 para apoiar o presidente Assad, um dos principais objetivos da Rússia era se afirmar como uma potência global.

Foi o primeiro grande desafio de Vladimir Putin ao poder e domínio do Ocidente, longe do antigo espaço soviético.

E bem-sucedido, ao que parecia. Em 2017, o presidente Putin visitou a base aérea russa de Hmeimim na Síria e declarou que a missão estava cumprida.

Apesar dos relatos regulares de que os ataques aéreos russos estavam causando vítimas civis, o ministério da defesa russo se sentiu confiante o suficiente para levar a mídia internacional para a Síria para testemunhar a operação militar russa.

Em uma dessas viagens, oficial do exército russo disse à BBC que a Rússia estava na Síria "para o longo prazo".

Mas isso era uma questão maior do que apenas prestígio.

Assad e Putin dando as mãos
EPA
Assad e Putin se encontraram em julho de 2014 na Rússia

Bases militares

Em troca de assistência militar, as autoridades sírias concederam à Rússia autorização para ocupar por 49 anos a base aérea em Hmeimim e a base naval em Tartous.

A Rússia havia garantido uma importante posição no Mediterrâneo oriental. As bases se tornaram importantes centros para transferência de militares para dentro e para fora da África.

Uma questão-chave para Moscou: o que acontecerá com essas bases russas agora?

O líder rebelde Abu Mohammed al-Jawlani fez um discurso para a população após tomar Damasco
Reuters
O líder rebelde Abu Mohammed al-Jawlani fez um discurso para a população após tomar Damasco

O comunicado na TV estatal russa anunciando a chegada de Assad a Moscou também mencionou que autoridades russas estavam em contato com representantes da "oposição armada síria".

A reportagem disse que os líderes da oposição garantiram a segurança das bases militares russas e missões diplomáticas no território da Síria.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia diz que as bases na Síria foram colocadas "em estado de alerta máximo", mas afirma que não há "nenhuma ameaça séria a elas no momento".

Bashar al Assad era o aliado mais fiel da Rússia no Oriente Médio. O Kremlin investiu muito nele. As autoridades russas terão dificuldade em esconder que sua queda foi um revés para Moscou.

Ainda assim, eles estão tentando... E procurando bodes expiatórios.

Na noite de domingo, o principal programa semanal de notícias da TV estatal russa mirou no exército sírio, aparentemente culpando-o por não lutar contra os rebeldes.

"Todos podiam ver que a situação estava se tornando cada vez mais dramática para as autoridades sírias", disse o âncora Yevgeny Kiselev.

"Mas em Aleppo, por exemplo, posições foram cedidas sem luta. Áreas fortificadas foram rendidas uma após a outra e então explodidas, apesar de [tropas do governo] estarem melhor equipadas e superarem em número o lado atacante muitas vezes. É um mistério!"

O âncora afirmou que a Rússia "sempre esperou pela reconciliação [entre lados diferentes] na Síria."

"Claro que não somos indiferentes ao que está acontecendo na Síria. Mas nossa prioridade é a própria segurança da Rússia — o que está acontecendo na zona da Operação Militar Especial [guerra da Rússia na Ucrânia]", disse Kiselev.

Há uma mensagem clara aqui para o público russo.

Apesar de nove anos da Rússia despejando recursos para manter Bashar al-Assad no poder, os russos estão sendo informados de que têm coisas mais importantes com que se preocupar.

BBC
Steve Rosenberg - Editor da BBC News Russia
postado em 09/12/2024 05:00 / atualizado em 09/12/2024 07:58
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