Emmanuel Macron está decidido a permanecer, no Palácio do Eliseu, apesar da mais grave crise política em sete anos de governo. No dia seguinte à destituição do primeiro-ministro conservador Michel Barnier, que não sobreviveu a uma moção de censura por parte de deputados da esquerda e da extrema direita, o presidente da França fez um aguardado discurso televisionado, durante o qual negou a intenção de renunciar e anunciou que nomeará o substituto de Barnier "nos próximos dias". Enfraquecido no poder, Macron avisou: "O mandato que vocês me confiaram democraticamente é de cinco anos, e o cumprirei integralmente até o final". O mandato presidencial se encerra em 2027.
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Macron responsabilizou uma "frente antirrepublicana" pela queda de Barnier. "A extrema direita e a extrema esquerda se uniram" para provocar a destituição do primeiro-ministro e "para semear a desordem". De acordo com o presidente, o escolhido para o posto de premiê terá a incumbência de "formar um governo de interesse geral que represente todas as forças políticas de um arco de governo em que ele possa participar, ou, ao menos, que se comprometa a não censurá-lo".
A rejeição ao orçamento de 2025 proposto por Barnier precipitou sua queda. O projeto incluía medidas de austeridade consideradas inaceitáveis para a maioria da Assembleia Nacional (Parlamento) francesa. O primeiro-ministro defendia o orçamento como indispensável para a estabilização das finanças do país. Com a moção de censura, todo o plano financeiro do Palácio do Eliseu foi paralisado, o que levou à renovação automática do atual orçamento para o ano seguinte.
Cobrança
A presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, foi recebida por Macron, na quinta-feira (5/12), e disse esperar que o sucessor de Barnier seja "nomeado rapidamente" para "não deixar que a incerteza se instale".
Também nesta quinta, o líder de centro-direita manteve uma reunião com Barnier no Palácio do Eliseu. A moção de censura, apresentada pela esquerda radical e apoiado pelo partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, foi a primeira a ser aprovada pela Assembleia Nacional desde a derrota do governo de Georges Pompidou, em 1962, durante a presidência de Charles De Gaulle (1944-1946 e 1959-1969)
O presidente de centro-direita recebeu o premiê destituído no Palácio do Eliseu, um dia após o Parlamento votar uma moção de censura contra seu governo apresentada pela esquerda radical e apoiada pelo partido extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen.
O clima de incerteza na França ocorre antes da reabertura, neste sábado (7/12), da catedral de Notre-Dame, restaurada após o incêndio de 2019. Nesta quinta, uma série de projeções foi feita na fachada da igreja, em Paris, um ensaio para a cerimônia de reinauguração, que contará com a presença de vários líderes internacionais, incluindo o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
Não há indícios de quanto tempo Macron levará para nomear o sucessor de Barnier ou qual será sua orientação política. Entre os potenciais candidatos ao cargo estão o ministro da Defesa, Sebastien Lecornu, e o ex-premiê socialista Bernard Cazeneuve.
A esquerda, o centro e a direita parecem estar longe de chegar a um acordo sobre um novo governo de coalizão. Para os centristas e a direita, trabalhar com os socialistas e os ecologistas significa que estes últimos precisam se distanciar do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), com o qual formam a Nova Frente Popular (NFP), a principal força da Assembleia.
O LFI anunciou que o seu partido censuraria qualquer primeiro-ministro que não viesse da aliança de esquerda. No entanto, a esquerda radical exige, sobretudo, a demissão do chefe de Estado e eleições "presidenciais antecipadas".
Compromissos
Socialistas e ecologistas afirmam estar dispostos a firmar compromissos com o bloco central, que se comprometeria, em contrapartida, a não censurar um governo de esquerda.
A extrema direita, que desempenha o papel de árbitro e precipitou a censura de Barnier, garante que deixará o futuro chefe de governo "trabalhar" para "reconstruir um orçamento aceitável para todos".
A França ficou sem governo durante várias semanas após as eleições antecipadas de julho, que resultaram em uma Assembleia Nacional (Câmara baixa) sem maiorias claras e dividida em três blocos irreconciliáveis (esquerda, centro-direita e extrema direita).
Uma possibilidade para a solução da crise na França seria a nomeação de um governo tecnocrático até as próximas eleições legislativas, um dispositivo usado na Itália em várias ocasiões. Esse governo se dedicaria à administração cotidiana e à cobrança de impostos, mas enfrentaria o obstáculo no Parlamento do orçamento de 2025, que provocou a queda de Barnier.
Cada vez mais vozes, da esquerda, mas também do partido conservador Os Republicanos (LR, pela sigla em francês), consideram que a única saída para a crise inclui a renúncia de Macron e uma antecipação da eleição presidencial.