A cotação do bitcoin ultrapassou pela primeira vez US$ 100 mil (R$ 600 mil), batendo um novo recorde.
O valor da maior criptomoeda do mundo foi impulsionado pela expectativa de que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, adote políticas favoráveis às criptomoedas.
O marco histórico foi alcançado horas depois que Trump anunciou que nomearia o ex-comissário da Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês), Paul Atkins, para liderar o órgão regulador de Wall Street.
Atkins é visto como sendo muito mais favorável às criptomoedas do que o atual chefe da SEC, Gary Gensler.
O marco de US$ 100 mil gerou comemorações por parte de entusiastas das criptomoedas no mundo todo.
O valor do bitcoin, que flutua bastante, sempre atraiu interesse, com seus apoiadores reagindo com alegria quando a criptomoeda bateu recordes anteriores — e com afronta quando o preço despencou.
Mas esse marco em particular estava sendo especialmente aguardado com ansiedade. Durante semanas, gráficos, memes e análises circularam nas redes sociais com previsões sobre quando seu preço atingiria o valor considerado um santo graal no mundo das criptomoedas.
Milhões de espectadores chegaram a participar de festas virtuais para acompanhar a cotação, à medida que o preço se aproximava dos US$ 100 mil.
O valor de um único bitcoin é um dos termômetros do otimismo no setor de criptomoedas, que agora está estimado em US$ 3,3 trilhões, de acordo com a empresa de análise Coin Market Cap.
A vitória de Trump nas urnas no mês passado foi o catalisador do último aumento.
O presidente eleito prometeu transformar os EUA na "capital das criptomoedas do planeta" — uma reviravolta notável, já que em 2021 ele estava chamando o bitcoin de "fraude".
Também é notável como o preço do bitcoin disparou. O valor de US$ 100 mil representa um aumento de 40% em relação ao dia da eleição nos EUA, e mais do que o dobro do seu preço no início do ano.
Mas há muito mais sobre o bitcoin do que as mudanças vertiginosas em seu valor.
Desde seu enigmático inventor até a derrocada do chamado 'rei das criptomoedas', esta é uma história com muitas reviravoltas, marcada pela criação — e a perda — de grandes fortunas.
A seguir, a BBC lista os sete momentos mais marcantes — até agora — na conturbada história do bitcoin.
1. O misterioso criador do bitcoin
Apesar da sua enorme visibilidade, ninguém sabe ao certo quem inventou o bitcoin. A ideia foi publicada em fóruns da internet em 2008 por alguém que se autodenominava Satoshi Nakamoto.
Ele explicava como um sistema de dinheiro digital sem intermediários poderia funcionar para permitir que as pessoas enviassem moedas virtuais pela internet, com a mesma facilidade com que enviam um e-mail.
Satoshi criou um sistema de computador complexo que processaria transações e criaria novas moedas usando uma enorme rede global de voluntários que operavam softwares especiais e computadores potentes.
Mas ele — ou ela ou eles — nunca revelou sua identidade, e o mundo nunca descobriu quem era.
Em 2014, o nipo-americano Dorian Nakamoto foi perseguido por repórteres que pensavam que ele era o misterioso criador do bitcoin, mas isso acabou se revelando uma pista falsa gerada por algumas informações mal traduzidas.
O cientista da computação australiano Craig Wright disse que era ele em 2016 — mas, após anos de batalhas legais, um juiz concluiu que ele não era Satoshi.
No início deste ano, um especialista canadense em bitcoin chamado Peter Todd negou veementemente ser Satoshi. E, neste mês, em Londres, o britânico Stephen Mollah, afirmou que ele era — mas ninguém acreditou.
2. Fazendo história com pizza
Atualmente, o bitcoin sustenta o setor de criptomoedas, avaliado em trilhões de dólares — mas a primeira transação registrada com ele foi a compra de uma pizza.
Em 22 de maio de 2010, Laszlo Hanyecz ofereceu US$ 41 em Bitcoin em um fórum de criptografia em troca de duas pizzas.
Um estudante de 19 anos topou, e o dia entrou para a história como o "Bitcoin Pizza Day" para os entusiastas da criptomoeda.
Além de ter sido uma fonte de memes para a comunidade de criptomoedas, também mostrou o poder do bitcoin, uma moeda digital que podia realmente comprar itens online.
Os criminosos também deviam estar acompanhando, uma vez que dentro de um ano foi lançado o primeiro mercado na dark web que vendia drogas e outros produtos ilegais em troca de bitcoin.
E não parece ter sido um bom negócio para Hanyecz. Se ele tivesse guardado aquelas criptomoedas, elas valeriam agora centenas de milhões de dólares!
3. Tornando-se moeda oficial
Em setembro de 2021, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, adotou o bitcoin como moeda oficial.
Cabeleireiros, supermercados e outras lojas tiveram que aceitar o bitcoin por lei, assim como sua principal moeda, o dólar americano.
Muitos entusiastas do bitcoin e jornalistas visitaram El Salvador, impulsionando brevemente o turismo no país.
Embora Bukele esperasse que a medida aumentasse o investimento em seu país e reduzisse os custos para os cidadãos que trocam dinheiro, a criptomoeda não se tornou tão popular quanto ele esperava.
Ele ainda espera que o bitcoin decole, mas, por enquanto, o dólar americano ainda reina no país.
Além da enorme quantidade de dinheiro público que Bukele investiu na tentativa de fazer a população adotar o bitcoin, ele também, de forma controversa, comprou mais de 6 mil bitcoins ao longo dos últimos anos.
O presidente gastou pelo menos US$ 120 milhões comprando bitcoins a vários preços na esperança de obter lucro para o país que enfrenta dificuldades financeiras.
A situação começou a ficar boa para o lado dele em dezembro de 2023 quando, pela primeira vez, o valor da criptomoeda disparou.
Um site criado pelo engenheiro de software holandês Elias Zerrouq está monitorando o investimento em bitcoin do país — e atualmente estima que o valor das criptomoedas tenha aumentado 98%.
4. O 'boom' e a queda da criptomoeda no Cazaquistão
Em 2021, o Cazaquistão se tornou um ator importante na mineração de Bitcoin — processo de analisar os cálculos complexos que servem de base para as transações feitas com a criptomoeda.
Atualmente, são necessários armazéns cheios de computadores de última geração funcionando dia e noite, mas a recompensa são bitcoins novinhos em folha para as empresas que participam.
Os armazéns de computadores requerem muita energia — e muitas empresas se mudaram para o Cazaquistão, onde a eletricidade era abundante graças às enormes reservas de carvão.
No início, o governo as recebeu de braços abertos, pois estavam trazendo investimentos.
Só que chegaram mineradores demais, e isso sobrecarregou a rede elétrica, colocando o país em risco de sofrer apagões.
Em um ano, o setor de mineração de Bitcoin do Cazaquistão passou de um 'boom' para um colapso, uma vez que o governo impôs restrições e aumentou as taxas para conter o crescimento.
Em todo o mundo, estima-se que a rede de bitcoins utiliza tanta eletricidade quanto um país pequeno, o que gera preocupações sobre seu impacto ambiental.
5. Bitcoins na lixeira
Imagine ter uma carteira de criptomoedas no valor de mais de US$ 100 milhões e, em seguida, jogar fora acidentalmente um HD (hard drive, disco rígido que guarda a memória de um computador) contendo as informações de login.
Foi isso que James Howells, do sul do País de Gales, disse que aconteceu com ele.
A própria natureza da criptografia significa que a recuperação das informações não é tão fácil quanto redefinir sua senha. Como não há bancos envolvidos, não existe uma linha de atendimento ao cliente.
Infelizmente para ele, o conselho local de Newport se recusou a permitir que ele tivesse acesso ao aterro sanitário onde, segundo ele, o dispositivo foi parar —mesmo depois de ele ter oferecido doar 25% da sua carteira de bitcoin para instituições de caridade locais, se eles autorizassem o acesso.
Ele disse à BBC: "Foi o momento em que a ficha caiu, deu um aperto no coração".
6. A fraude do 'rei das criptomoedas'
Ninguém perdeu tanto bitcoin quanto o ex-bilionário magnata das criptomoedas Sam Bankman-Fried. O fundador da empresa de negociação de criptomoedas FTX foi apelidado de "rei das criptomoedas" — e era amado pela comunidade.
A FTX era uma corretora de criptomoedas que permitia que as pessoas trocassem dinheiro normal por criptomoedas, como o bitcoin.
Seu império tinha valor estimado em US$ 32 bilhões, e ele estava alçando voos altos — até que tudo veio abaixo em poucos dias.
Jornalistas haviam descoberto que a empresa de Bankman-Fried estava com problemas financeiros — e ele estava transferindo ilegalmente fundos de clientes da FTX para sustentar sua outra empresa, a Alameda Research.
Pouco antes de ser preso em seu luxuoso complexo de apartamentos nas Bahamas, em dezembro de 2022, ele falou com a imprensa. E disse à BBC: "Não acho que cometi fraude. Não queria que nada disso acontecesse. Eu certamente não era tão competente quanto pensava ser".
Depois de ser extraditado para os EUA, ele foi considerado culpado de fraude e lavagem de dinheiro — e condenado a 25 anos de prisão.
7. 'Boom' dos bancos de investimento
Apesar de toda a turbulência, o bitcoin continua atraindo a atenção de investidores e grandes empresas.
Inclusive, em janeiro de 2024, algumas das maiores empresas financeiras do mundo adicionaram o bitcoin às suas listas oficiais de ativos, como ETFs Spot de Bitcoin. Um fundo negociado na bolsa que segue o preço do bitcoin.
Os clientes têm investido bilhões nesses novos produtos financeiros. Empresas como Blackrock, Fidelity e GrayScale também têm comprado bitcoins aos milhares, elevando seu valor a níveis recordes.
É um grande marco para as criptomoedas, com alguns entusiastas acreditando que o bitcoin está finalmente sendo levado tão a sério quanto o misterioso Satoshi imaginava.
No entanto, poucos se oporiam a novos capítulos emocionantes à medida que a história do bitcoin continua a se desenrolar.
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