O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou ontem que seu país precisa de armas e garantias de segurança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), antes de qualquer negociação com a Rússia por um fim do conflito. Zelensky disse que um convite da Otan à Ucrânia para se unir à aliança militar transatlântica era necessário para a "sobrevivência" do país.
"Somente quando tivermos todos esses elementos e em posição de força, teremos de fazer a muito importante agenda de nos reunir com os assassinos", disse, em referência à Rússia. As declarações foram feitas em uma coletiva de imprensa junto ao novo presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, que viajou à Ucrânia no primeiro dia de mandato.
A viagem dos funcionários de alto escalão da UE a Kiev ocorreu em meio à tensão entre Moscou e os países do Ocidente, após os disparos feitos pela Ucrânia com mísseis americanos e britânicos contra o território russo e o Kremlin lançando um míssil hipersônico.
Na última sexta-feira, Zelensky propôs, pela primeira vez, ceder parte do território ucraniano à Rússia, em troca de um acordo de cessar-fogo e de proteção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O pronunciamento foi feito em entrevista exclusiva ao portal de notícias britânico Sky News.
Para Tito Lívio Barcellos Pereira, geógrafo pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorando em relações internacionais pelo Instituto San Tiago Dantas", com a declaração polêmica, o presidente ucraniano apenas torna público o que já era admitido e debatido nos bastidores diplomáticos norte-americanos e europeus: "a impossibilidade de reconquistar militarmente os territórios ocupados e anexados pela Rússia. Assim, Kiev abdicaria desses territórios, em troca de garantias para sua entrada na Otan, que seria assegurado por seus parceiros ocidentais".
No entanto, ele afirma que os círculos políticos e diplomáticos russos não pretendem aceitar qualquer negociação de cessar-fogo ou paz que envolva essas condições. "Além disso, as tropas russas ainda ditam o ritmo do conflito e podem expandir o controle para mais territórios e províncias, diminuindo a barganha diplomática das fadigadas autoridades ucranianas", diz o geógrafo ao Correio.
Orçamento militar
Ainda ontem, Vladimir Putin, presidente da Rússia, aprovou um orçamento para o triênio 2025-2027, que inclui uma elevação de 25% nos gastos militares. Além disso, um terço das despesas não será esclarecida à população.
"A aprovação do novo orçamento trienal russo mostra que, ao contrário do que se previa anteriormente, Moscou conseguiu não apenas mostrar resiliência às sanções econômicas aplicadas pelo Ocidente (sobretudo os EUA e seus aliados da UE), como também registra crescimento econômico graças à conversão e à expansão econômica para se adequar ao 'esforço de guerra", esclarece Tito Lívio.
"Apesar dos riscos, a economia russa, que ainda conta com importantes reservas financeiras, mostra que ainda é capaz de conduzir suas campanhas militares (se considerarmos as operações na Síria junto com a Ucrânia) por um largo período, e também reflete suas novas ambições de adquirir novas capacidades e diminuir a distância estratégica com seus rivais euro-atlânticos", conclui o especialista.