O Exército do Líbano enviou soldados e tanques para o sul do país nesta quinta-feira (28), no segundo dia de trégua entre Israel e o Hezbollah, mas sem avançar para zonas onde ainda há presença israelense.
O cessar-fogo interrompeu as hostilidades iniciadas um dia após o começo da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
O Hezbollah abriu então uma frente em apoio ao aliado palestino contra Israel, que em setembro passou a concentrar suas operações no Líbano, com bombardeios e operações terrestres que infligiram duros golpes ao movimento islamista.
A trégua que entrou em vigor na quarta-feira (27) estipula que o Exército libanês e as forças de paz da ONU constituirão a única presença armada no sul do Líbano, um reduto histórico do Hezbollah.
Uma fonte militar libanesa disse que as forças do país "estavam efetuando patrulhas e instalando pontos de controle" ao sul do rio Litani, mas sem avançar para as áreas onde ainda há presença de soldados israelenses.
Na localidade fronteiriça de Qlaaya, de maioria cristã, os habitantes exibiram a bandeira nacional e jogaram arroz e flores para o alto para celebrar a chegada dos soldados libaneses.
Com a entrada em vigor da trégua, dezenas de milhares de libaneses começaram a retornar para as casas que haviam sido obrigados a abandonar devido ao conflito.
"Apesar de toda destruição e dor, estamos felizes de retornar", disse Um Mohamed Bzeih, uma viúva que fugiu há dois meses com os quatro filhos do vilarejo de Zibqin.
"Sinto como se nossas almas tivessem retornado", completou, enquanto varria os pedaços de vidro e escombros no chão.
Crise política e econômica
O caminho da recuperação será longo para o Líbano que, mesmo antes do conflito, enfrentava anos de grave crise política e econômica.
Em uma primeira etapa de retorno à normalidade, a agência oficial de notícias NNA informou que o Parlamento se reunirá em 9 de janeiro para eleger um novo presidente, após dois anos sem uma pessoa no cargo.
O Hezbollah, apesar de não ter participado diretamente nas negociações sobre a proposta de trégua apresentada por França e Estados Unidos, declarou na quarta-feira que conquistou a "vitória" na guerra contra Israel.
O movimento político-militar, predominante na maioria muçulmana xiita do país, é o único grupo que não entregou as armas após a guerra civil de 1975-1990. O Hezbollah dispõe de um arsenal fornecido pelo Irã, considerado mais potente que o do Exército libanês.
Israel, no entanto, dizimou em grande medida as capacidades do grupo e sua liderança, começando pelo assassinato, em setembro, do seu influente líder Hassan Nasrallah.
O deputado do Hezbollah Hassan Fadlallah declarou à AFP que o grupo coopera "plenamente" com a mobilização do Exército libanês e afirmou que não tem mais "bases ou armas visíveis" no sul.
Retirada por fases
No norte de Israel, onde dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas devido aos confrontos, reina o ceticismo com a trégua.
"Ainda não nos sentimos seguros e não estamos felizes", disse Nissim Ravivo, um homem de 70 anos, na cidade costeira de Nahjariya, a 10 quilômetros do Líbano.
"É uma vergonha, deveríamos ter continuado por pelo menos outros dois meses para terminar o trabalho", protestou.
O acordo contempla que as forças israelenses mantenham suas posições, mas estabelece um período de 60 dias no qual "o Exército e as forças de segurança do Líbano começarão sua mobilização para o sul", disse um fonte de alto escalão do governo americano.
Israel fará a uma retirada por fases, sem deixar um vazio que possa ser aproveitado pelo Hezbollah, afirmou.
O conflito provocou pelo menos 3.823 mortes no Líbano desde outubro de 2023, a maioria nas últimas semanas, segundo o Ministério da Saúde.
Do lado israelense, as hostilidades com o Hezbollah mataram pelo menos 82 soldados e 47 civis, segundo as autoridades do país.