O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na quinta-feira (14/11) que vai nomear o controverso Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde e Serviços Humanos do seu governo.
O advogado de 70 anos é membro da família Kennedy e, conforme Trump indicou em uma mensagem no X (antigo Twitter), vai buscar "garantir que todos estejam protegidos dos produtos químicos nocivos, dos poluentes, dos pesticidas, dos produtos farmacêuticos e dos aditivos alimentares que contribuíram para a avassaladora crise de saúde neste país".
A nomeação, que necessita da confirmação do Senado, é uma das mais controversas feitas pelo presidente eleito.
RFK Jr., como é conhecido, é sobrinho do ex-presidente assassinado JFK (John F. Kennedy) e filho do senador Robert F. Kennedy, que também foi assassinado. Mas sua popularidade se deve mais à sua polêmica posição antivacinas e ao fato de ter propagado várias teorias da conspiração.
Ele chegou a concorrer como candidato independente à presidência nas eleições deste ano, mas alguns meses antes da votação, cancelou sua campanha e passou a apoiar Trump.
O presidente eleito, que vai iniciar seu mandato em 20 de janeiro, prometeu que seu secretário de Saúde vai defender os interesses dos cidadãos contra "o complexo industrial de alimentos e as companhias farmacêuticas que se envolveram em farsas e desinformação".
Ele disse que sua meta seria "acabar com a epidemia de doenças crônicas e fazer com que os Estados Unidos voltem a ser grandes e saudáveis novamente".
Kennedy Jr. agradeceu a nomeação com uma mensagem no X, na qual prometeu "varrer a corrupção e acabar com os conflitos de interesse generalizados em nossas agências governamentais de saúde", com o objetivo de "fazer com que os americanos voltem a ser as pessoas mais saudáveis do mundo".
De adversário a aliado de Trump
Nascido em 1954 em Washington D.C., Robert F. Kennedy Jr. é filho do ex-procurador-geral e senador Robert F. Kennedy — e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy.
Com reputação de rebelde na família, RFK Jr., como é conhecido, teve problemas com a Justiça na juventude e, durante anos, usou cocaína e heroína.
Depois de mais de 40 anos de carreira como advogado na área do direito ambiental, ele gerou polêmica nos últimos anos por sua posição crítica em relação às vacinas — e por liderar movimentos que questionam a regulamentação e a segurança dos produtos farmacêuticos.
RFK Jr. chegou a concorrer à Presidência nas eleições deste ano como candidato independente, depois de ter disputado inicialmente as primárias democratas.
Sua campanha foi marcada por histórias bizarras que foram parar no noticiário, incluindo a de que, em 2014, ele desovou um filhote de urso morto atropelado por um carro no Central Park de Nova York.
Por fim, retirou sua candidatura e anunciou apoio a Trump em agosto, depois de atribuir seu fracasso à "censura da mídia" e aos esforços de seu antigo partido, o Partido Democrata, para frustrar sua campanha.
Desde então, prometeu "fazer com que os Estados Unidos voltem a ser saudáveis", como diz seu lema, sob a Presidência de Trump.
Ativista antivacinas
Em 2007, RFK Jr. fundou a organização Children's Health Defense, uma entidade dedicada a denunciar o que considera práticas nocivas da indústria farmacêutica.
A ONG é considerada por parte da comunidade científica como uma fonte perigosa de desinformação sobre vacinas.
Ele publicou vários livros, incluindo The Real Anthony Fauci ("O verdadeiro Anthony Fauci", em tradução livre, uma referência ao líder da força-tarefa de combate à covid-19 nos EUA) e A Letter to Liberals ("Uma Carta aos Liberais", em tradução livre).
Em seus textos, apresenta argumentos controversos sobre supostos efeitos negativos das vacinas e conflitos de interesse no sistema de saúde americano.
Uma das alegações falsas que ele tem repetido durante anos é a de que existe uma relação entre o autismo e as vacinas, o que foi rejeitado por uma série de estudos realizados por cientistas conceituados.
Além de Anthony Fauci, Kennedy também concentrou sua atenção em figuras públicas como Bill Gates e Joe Biden, a quem ele acusa de manipular informações sobre a pandemia de covid-19 a favor de interesses privados.
Em 2021, RFK Jr. foi o produtor executivo de Vaxxed 2: The People's Truth, sequência do documentário Vaxxed, dirigido pelo ex-médico Andrew Wakefield, conhecido como precursor do movimento antivacinas.
A postura em relação às vacinas gerou polêmica não apenas no meio científico, mas também dentro da sua própria família.
Alguns de seus familiares manifestaram publicamente sua discordância, alegando que suas ideias e atividades na Children's Health Defense tiveram consequências perigosas para a saúde pública.
Apesar deste histórico, Kennedy Jr. negou ser contra as vacinas e, na semana passada, disse que, se Trump o nomeasse como responsável pela saúde pública, não iria "tirar as vacinas de ninguém".
Advogado na área ambiental
RFK Jr. também tem um longo histórico como ativista e advogado do direito ambiental.
Desde a década de 1980, ele trabalhou como consultor e advogado de organizações como a Riverkeeper e o Conselho de Defesa de Recursos Naturais (NRDC, na sigla em inglês), defendendo os direitos ambientais de indivíduos e grupos contra grandes empresas.
Em 1999, fundou a Waterkeeper Alliance, organização que reúne centenas de grupos que lutam pela proteção de corpos d'água em todo o mundo.
Por meio de seu escritório de advocacia, o Kennedy & Madonna LLP, assumiu casos importantes envolvendo contaminação ambiental.
Em 2007, foi indicado a "advogado do ano" pela organização Public Justice depois de ganhar um processo de US$ 396 milhões contra a empresa DuPont por contaminação na Virgínia Ocidental.
Também chama atenção o acordo de US$ 670 milhões que conseguiu, em 2017, em um processo contra a Monsanto, depois que uma fábrica da multinacional de agricultura e biotecnologia prejudicou a saúde de moradores em Ohio e na Virgínia Ocidental.
- Quem é Marco Rubio, filho de imigrantes cubanos nomeado secretário de Estado por Trump
- Trump terá 'superpoderes' com maioria na Câmara e no Senado?
- Com apresentador de TV na Defesa e Elon Musk no comando da Eficiência, o que esperar do Trump 2