Estados Unidos

Trump prioriza a lealdade ao escolher assessores para a Casa Branca

Entre os postos anunciados na última terça-feira, estão o de conselheiro de Segurança Nacional, secretário da Defesa e diretor da CIA

Donald Trump está determinado a se cercar de assessores leais e linhas-duras, dos quais não tem dúvidas de que seguirão à risca suas políticas e determinações pelos próximos quatro anos. Oito dias depois das eleições de 5 de novembro, o presidente eleito dos Estados Unidos segue a passos firmes na escolha de seu gabinete e dos principais postos de governo. Na noite desta terça-feira (12/11), o republicano anunciou John Ratcliffe, diretor de Inteligência Nacional durante o seu primeiro mandato, para o posto de diretor da Agência Central de Inteligência (CIA).

"Ele será um combatente destemido pelos direitos constitucionais de todos os americanos, ao mesmo tempo em que garantirá os mais altos níveis de Segurança Nacional e a paz por meio da força", escreveu Trump em sua rede social Truth Social. Deputado entre 2015 e 2020, Ratcliffe foi considerado como o mais conservador do Congresso.

O presidente eleito confirmou o congressista Mike Waltz — ex-oficial das forças especiais e "falcão" no que diz respeito à política externa — no cargo de assessor ou conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca. Segundo o republicano, Waltz é "um líder nacionalmente reconhecido em segurança nacional" e "um especialista nas ameaças representadas por China, Rússia, Irã e o terrorismo global".

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O governador do Arkansas, Mike Huckabee, será embaixador dos EUA em Israel. "Ele ama Israel e o povo de Israel. Da mesma forma, o povo de Israel o ama. Mike trabalhará incansavelmente para levar a paz ao Oriente Médio", declarou Trump, por meio de um comunicado. Na noite de segunda-feira, o jornal The New York Times anunciou que Marco Rubio, senador republicano pela Flórida e aliado leal do presidente eleito, deverá ser nomeado para chefiar o Departamento de Estado, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores no Brasil. 

Rubio e Trump foram adversários durante as primárias de 2016, mas o senador e o então presidenciável selaram as pazes. À época, durante a campanha, o legislador zombou abertamento de Trump. Defensor de linha-dura nas relações com Irã e China, Rubio copresidiu a Comissão de Inteligência no Senado. Por volta das 21h desta terça-feira (hora de Brasília), mais dois nomes foram revelados: Pete Hegseth, apresentador da emissora Fox News, para o cargo de secretário da Defesa; e o executivo Elon Musk, dono da Tesla, da rede social X e da SpaceX, para o Departamento de Eficiência Governamental.  

No domingo (10/11), Trump anunciou o nome de Elise Stefanik como embaixadora dos EUA nas Nações Unidas. "Elise é uma lutadora pela America First ('América em primeiro lugar'). Ela graduou-se pela Universidade de Harvard e foi a mais jovem mulher eleita para o Congresso. (...) Foi a primeira congressista e me endossar e tem sido sempre uma defensora fiel. (...) Ela será uma incrível embaixadora na ONU, entregando a paz por meio da força e das políticas de segurança nacional da America First", acrescentou o líder eleito, também em nota.

Agressividade

Professor de direito da Universidade Columbia (em Nova York), John C. Coffee disse ao Correio que, dos nomes associados aos temas de imigração e segurança, Trump não parece buscar mediadores ou diplomatas. "Ele prioriza linhas-duras agressivos. Mesmo uma pessoa geralmente moderada, como o senador Rubio, é um linha-dura sobre China, Irã e Venezuela. Isso não parece ser viável em negociações de troca de favores", explicou. 

De acordo com Coffee, durante a campanha, Trump indiicou que não pretendia se comprometer ou escutar, e que essas escolhas soam como se ele estivesse mantendo sua palavra. "Essa consistência entre as promessas de campanha e as primeiras ações de governo é um pouco incomum para um presidente dos Estados Unidos. A maioria dos chefes de Estado americanos tem mais flexibilidade do que quer admitir", afirmou.

Alex Keyssar, professor de história e de política social da Universidade de Harvard, admitiu ao Correio que as primeiras nomeações de Trump são "previsivelmente muito conservadoras". "Algumas são puramente ideológicas, como Waltz e Tom Homan, mas também trata-se de pessoas que conhecem Washington e a burocracia. Por isso, serão capazes de se moverem rapidamente para desenvolver e implentar políticas. Outras, como Kristi Noem e Marco Rubio, são recompensas mais políticas", disse. Para ele, não existem surpresas, se for considerado o modo com que Trump avisou que governará.

"Trump sentiu-se traído por muitos assessores no seu primeiro mandato. Ele está escolhendo com base na lealdade mais do que na experiência. Particularmente, os legalistas que ele acredita que seguirão agressivamente até mesmo as suas políticas mais controversas", explicou à reportagem Rogers M. Smith, cientista político da Universidade da Pensilvânia. "Ele está enviando sinais de que não pretende moderar sua agenda para ganhar um apoio mais amplo. Trump crê ter recebido um mandato para tomar medidas muito fortes em matéria de imigração e tarifas, uma política externa mais nacionalista e isolacionista e mais." Ao mesmo tempo, Smith avalia que a escolha por falcões pode capacitar Trump a ser "realmente transformador". "Não se sabe se isso lhe permitirá ter sucesso."

Para Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM-SP, Trump escolheu pessoas que defenderam suas propostas e ideias durante a campanha. "Será um governo alinhado, a fim de evitar divergências que ocorreram durante a primeira gestão", disse ao Correio.

Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vê uma coerência entre o que foi prometido na campanha, de fortalecimento dos EUA e de maior atenção às fronteiras. "São, também nomes, de confiança de Trump e que foram leais dentro do Partido Republicano."

OS ASSESSORES DE TRUMP

Conheça a composição parcial do gabinete e das posições-chave do governo dos EUA:

Departamento de Estado  

Marco Rubio,53 anos, senador republicano pela Flórida, é cotadíssimo para chefiar a diplomacia de Washington. Com posições duras sobre a China e o Irã, ele se alinha a figuras da extrema direita na América Latina, como Jair Bolsonaro e o presidente argentino, Javier Milei. Rubio chegou a ser cotado para ser vice na chapa eleitoral de Donald Trump. 

Secretaria de Segurança Interna

Kristi Noem, 52, ex-governadora de Dakota do Sul e ex-deputada, é uma linha-dura do gabinete e ficará responsável por controlar as alfândegas e fronteiras nacionais. Ela também chegou a ser cotada para ser a colega de chapa de Trump, mas suas chances desabaram quando confessou ter matado sua cadela com um tiro porque ela era "indomável".

Embaixada dos EUA em Israel

Mike Huckabee, 69, ex-governador do Arkansas, será a primeira pessoa não judia a chefiar a Embaixada dos Estados Unidos em Israel desde 2011. Ele terá a missão de pressionar o governo israelense e o grupo terrorista Hamas a encerrarem uma guerra que se estende por mais de 15 meses. Trump aposta que Huckabee trabalhará incansavelmente pela paz no Oriente Médio. 

Conselho de Segurança Nacional

O deputado republicano Mike Waltz, 50, ex-oficial das forças especiais e conhecido "falcão" em política externa, será o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca. Waltz é conhecido crítico da China e um fervoroso defensor de Trump. Tanto que chegou a apoiar os esforços do republicanos para reverter o resultado das eleições de 2020. 

Missão da ONU

A deputada Elise Stefanik, 40, será a embaidxadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas. Uma das aliadas mais leais de Trump no Congresso, ela chegou a se descrever como "ultra-Maga", em referência ao slogan de campanha do presidente eleito — "Make America Great Again" (ou "Tornem os EUA grandes novamente", em português). 

Serviço de Imigração e Alfândega (ICE)

Tom Homan, 62, volta ao comando do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) e será uma espécie de "czar da fronteira" no governo Donald Trump. Homan foi um dos primeiros defensores da política de "tolerância zero" que foi aplicada durante o primeiro governo Trump (2016-2020) e culminou na separação de 4 mil crianças de seus pais.

Chefia de gabinete

Susie Wilies, 67, será a primeira mulher a chefiar o gabinete de um presidente dos Estados Unidos. Chamada de "dama de gelo", Trump considera Wiles "dura, inteligente, inovadora, admirada e respeitada em todos os lados". Sua nomeação foi um reconhecimento ao fato de ter sido considerada a "arquiteta" da campanha republicana. Ela também ajudou a "limpar" o nome de Trump após a invasão ao Capitólio, em 2021.   

Agência central de inteligência (CIA)

James Ratcliffe, 59, diretor de Inteligência Nacional durante o primeiro governo Trump, entre 2020 e 2021, será o responsável por comandar a Agência Central de Inteligência (CIA). Ele tem posições consideradas agressivas sobre o Irã e os refugiados de países muçulmanos. Trump garante que Ratcliffe vai lutar em prol da segurança nacional "por meio da força".

Departamento de Eficiência Governamental

O executivo Elon Musk, 53,o bilionário dono da Tesla, da SpaceX e da rede socialX, ocupará o posto de chefe do Departamento de Eficiência Governamental, ao lado do empresário americano Vivek Ramaswamy. Musk doou parte de sua fortuna à campanha republicana e se engajou de forma ativa nas eleições.

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