Estados Unidos

Casa Branca: Trump tem chance de tranquilizar mundo em encontro com Biden

Ocasião, prevista para a próxima quarta-feira no Salão Oval, representa o cumprimento das normas institucionais americanas e indica transição de governo menos conturbada que o esperado, diz especialista

O presidente dos Estados Unidos em exercício, Joe Biden, receberá o presidente eleito, Donald Trump, na Casa Branca na próxima quarta-feira (13/11). O encontro será no Salão Oval, às 13h (horário de Brasília), de acordo com anúncio feito ontem pela porta-voz da Presidência, Karine Jean-Pierre. 

A ocasião consolida as promessas de Biden, que se propôs, na última quinta-feira (7/11), durante seu primeiro discurso desde a eleição, a garantir uma transição de governo "pacífica e ordenada" com o republicano, postura assumida também pela candidata derrotada Kamala Harris. 

Por sua vez, Trump, que não reconhece o resultado eleitoral de 2020 e boicotou a cerimônia de posse de Biden em janeiro de 2021, afirmou que estava "ansioso pela reunião" na Casa Branca. Em comunicado divulgado ontem, o magnata prometeu que seu governo "vai devolver a grandeza" e "restaurar a força, o sucesso e o bom senso" no país.

Para a Denilde Oliveira Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM-SP, considerando não só a transição que aconteceu de Trump para Biden, mas também o processo eleitoral e a polarização dos Estados Unidos, "ter uma reunião entre os dois para fazer esse processo de transição significa muito."

"Do ponto de vista da política americana, sinaliza que existe todo o processo institucional acontecendo, o que o Biden já tinha dito que iria fazer, mas representa, também, do lado do Trump, aceitar que a lógica eleitoral e que todo o discurso que ele fez com relação ao processo em si e às desconfianças sobre o processo eleitoral ficam resolvidos. Então, é voltar à normalidade do que se espera de uma democracia consolidada", completa Denilde.  

Expectativas

De acordo com a especialista, apesar da aparente boa vontade de ambos em seguir as normas de transição de poder, em especial, pela vitória do republicano, não há chances de uma aceitação pessoal ou de algum tipo de entendimento pessoal entre Biden e Trump. No entanto, ela também vê, no encontro, uma oportunidade de o magnata mostrar ao mundo sua intenção de governo. 

"O Trump, diferente de qualquer outro candidato, é um ex-presidente, então ele também assume a volta à Presidência no papel de um governo que conhece a máquina, que sabe o que está por trás de todas as decisões. É como se fosse um hiato entre a presidência dele e a presidência do Biden. Mas ele é, também, uma figura que representa a institucionalização do poder americano. E, para os seus eleitores e para o mundo, espera-se que ele faça esse papel", diz. 

"O quanto ele vai exercer essa capacidade vai sinalizar para o resto do mundo todos os temores que se tem sobre o republicano, de que ele é uma pessoa que vai assumir uma atitude mais autoritária, que é um governo que não vai seguir as regras, que vai utilizar o seu poder no seu máximo. Então, é um momento para ele também tranquilizar o mundo de que seguirá os trâmites, que vai seguir a lógica institucional e vai exercer o poder dentro da sua capacidade e também do limite institucional e democrático", conclui Denilde Holzhacker.

Eu acho...

Arquivo pessoal - Barbara Weinstein, professora de história da Universidade de Nova York, acredita que Kamala não foi a escolha certa para a disputa

É muito cedo para ter algo significativo a dizer sobre o que aconteceu e o que esperar. A única coisa que ouvi de muitas pessoas é a raiva por Biden não ter desistido da reeleição antes. Isso teria permitido aos democratas escolher um candidato mais forte. Não culpo Biden. Alguém que está ficando com deficiência cognitiva não está em posição de julgar sua própria condição. Mas aqueles ao seu redor, próximos a ele, certamente sabiam. 

Por outras palavras, não creio que a vitória de Trump fosse inevitável. Mas Harris era a candidata errada para a chapa democrata. Dado que grande parte da sua campanha se baseou na alegação de que a economia dos EUA estava numa situação horrível — uma afirmação comprovadamente falsa —, ele tem de produzir políticas que de alguma forma convençam os seus apoiantes de que as coisas estão “melhores” e evitem reacender a inflação, que agora é bastante baixa. 

O relançamento da carreira política de Kamala acabou efetivamente. Ninguém pode se recuperar desse tipo de perda. Mas, para além disso, e do apoio de Trump ainda mais desenfreado a Netanyahu — que claramente se sente ainda mais encorajado pela vitória do republicano —, não tenho a certeza do que ele fará em relação às relações externas.

Barbara Weinstein, professora de história da Universidade de Nova York 

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