Mudanças climáticas

Eleição de Donald Trump ameaça meta do Acordo de Paris

Em 2017, em seu primeiro mandato, o republicano abandonou o pacto, que tenta limitar o aumento da temperatura global até o fim do século. EUA são o principal emissor de gases de efeito estufa do mundo

Ao eleger um assumido negacionista das mudanças climáticas, os norte-americanos colocam em risco o acordo climático que tenta limitar o aumento da temperatura global até o fim do século. O país é o principal emissor de gases de efeito estufa — aqueles responsáveis pelas sucessivas quebras de recorde de calor e pelo aumento de eventos climáticos extremos, como inundações e secas — e deve abandonar o documento histórico, assim como fez em 2017, em seu primeiro mandato presidencial.

Agora, porém, ele poderá ir adiante. O Projeto 2025, plano político de Donald Trump elaborado pelo think tank de direita para orientar o governo conservador, sugere a retirada dos Estados Unidos não só do Acordo de Paris, mas da própria Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima (UNFCCC). Além disso, prevê o maior investimento em combustíveis fósseis; o fim de subsídios aos carros elétricos, movidos à energia limpa e o corte do financiamento de ações de adaptação e mitigação climática, entre outros. 

Às vésperas da Conferência do Clima em Baku, que começa na segunda-feira no Azerbaijão, a vitória do republicano é, basicamente, o atestado de morte da principal meta do Acordo de Paris, a de limitar em 1,5ºC o aumento da temperatura até o fim do século. "Podemos dizer adeus a esse objetivo. Os impactos climáticos cada vez mais letais aumentarão. É tão simples assim", resume Simon Lewis, presidente do Global Change Science da Universidade College London, na Inglaterra. 

Opinião pública

Não será tão fácil para Trump, porém, rasgar o Acordo de Paris, nem abandonar a UNFCCC. Assim como em 2017, esperam-se que estados norte-americanos comprometidos com as metas mantenham seus objetivos. Além disso, a opinião pública a respeito das mudanças climáticas mudou bastante em sete anos. 

Uma pesquisa da Universidade de Yale, divulgada no ano passado, mostrou que 61% dos norte-americanos acreditam que o aquecimento global é causado, principalmente, pela ação humana. "Não há lugar para a negação climática no contexto da emergência climática. A sociedade atual é co-responsável pelo aquecimento global e, dada a vitória de Trump, será sem dúvida co-responsável pelas soluções para a crise climática", acredita a ambientalista Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente brasileira. 

Na avaliação de Simon Lewis, mesmo que queira muito, Donald Trump não conseguirá barrar uma tendência já consolidada: a transição energética. Em 2023, por exemplo, houve um aumento global de 50% nas capacidades de energias renováveis. "Isso não vai parar por um negacionista do clima", diz. 

Porém, pode-se esperar um freio na redução do lançamento de gases de efeito estufa. Com um slogan em referência ao aumento das perfurações de poços para retirar combustíveis fósseis ("Perfure, baby, perfure!"), Trump é um autodeclarado apoiador da indústria do petróleo. Uma avaliação da organização não governamental Carbon Brief mostra que os Estados Unidos devem emitir mais 4 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono até 2030, comparável à poluição da União Europeia e do Japão, juntos. "O resultado das eleições nos EUA terá ramificações em todo o mundo", afirmou à agência France Presse a especialista em clima Leah Stokes, cientista política da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.

 

 

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