Antes famosa como uma cidade de festas hedonistas regadas a álcool e drogas, à beira do rio, Vang Vieng havia melhorado sua reputação nos últimos anos. Mas agora está voltou às manchetes por todos os motivos errados possíveis.
"Só não deixe de sair da reta quando chegar ao fim do escorregador. Alguém morreu naquelas pedras lá na semana passada."
Era 2010, e para o jovem eu — adolescente, bêbado e no meu primeiro mochilão pelo Sudeste Asiático — saúde e segurança estavam longe do topo da agenda de prioridades.
No entanto, segui o conselho dado pelo barman australiano de dreadlocks e, quando cheguei ao final do escorregador de azulejos, dei a mim mesmo um poderoso empurrão no ar acima do rio Nam Song, dando um grito para alertar as pessoas que estavam na água mais abaixo, da minha chegada iminente numa desajeitada e veloz trajetória como uma bala de canhão com poder letal.
Vang Vieng, uma cidade de cerca de 25 mil pessoas às margens do rio Nam Song, no centro do Laos, tem sido por décadas uma presença constante na chamada "Trilha da Panqueca de Banana".
Esse é o caminho dos mochileiros pelo Sudeste Asiático que leva esse nome em homenagem ao café da manhã de muitas pousadas e cafés ao longo da rota.
Antes, notoriamente conhecida como uma cidade de festas depravadas à beira do rio, Vang Vieng havia se recuperado nos últimos anos desse estereótipo.
Mas agora está nas manchetes por todos os motivos errados mais uma vez, com vários turistas estrangeiros morrendo após ingerir bebidas com metanol, uma substância altamente tóxica.
Vang Vieng ficou famosa como um destino de festas no final dos anos 1990 por seus abundantes albergues para mochileiros e bares de madeira à beira do rio abastecidos com beerlao e lao-lao baratos, a cerveja local e o uísque de arroz local, este frequentemente vendido com uma cobra ou escorpião inteiros infundidos na garrafa.
Acredita-se que a mistura do veneno e do álcool possui benefícios medicinais a quem ingerir.
Naquela época, o modo icônico de transporte turístico em Vang Vieng, conhecido simplesmente como tubing, envolvia viajantes flutuando rio abaixo numa câmara de ar inflada de um pneu de trator, desembarcando nos bares à beira do rio para disputar jogos que envolviam bebidas - beer pong era um favorito em particular.
Era comum ver também pessoas pulando no rio de bares e pousadas montadas em barracos nas margens, pendurados em cordas como se fossem cipós e deslizando em escorregadores direto para as águas.
A prática de tubing supostamente começou em 1999 com um fazendeiro local, Thanongsi Sorangkoun, que emprestou as câmaras de ar para que seus trabalhadores pudessem relaxar no rio. Rapidamente se tornou um item tão importante no itinerário de muitos mochileiros quanto as notórias festas da Lua Cheia de Koh Pha Ngan, na Tailândia.
Na época da minha visita no início da década de 2010, Vang Vieng era um lugar de moral contestada, policiamento leve e turismo no estilo Velho Oeste.
Além das atividades ribeirinhas, a cidade era famosa por seus "bares felizes", onde ocidentais alegres e de olhos vermelhos se sentavam diante de pratos intocados de comida, olhando hipnotizados para aparelhos de TV que passavam reprises intermináveis ??de Friends e Family Guy.
Sente-se em um desses estabelecimentos e abra o menu e, junto, com a comida habitual de mochileiros, como pizzas, macarrão, hambúrgueres e arroz frito, você encontrará uma verdadeira farmacopeia: cigarros de maconha pré-enrolados, pizzas de cogumelos aluginógenos, milk-shakes de cogumelos — tudo de cogumelos.
Nem é preciso dizer que a combinação de um rio raso, pedras afiadas e balanços de corda não regulamentados e inseguros, combinados com a disponibilidade de álcool barato e drogas psicodélicas, provou ser perigosa.
Em 2011, o hospital da cidade registrou 27 mortes por afogamento ou traumas graves por impacto contra as pedras do rio.
Esse número não inclui pacientes levados diretamente para Vientiane, capital do Laos, que fica a duas horas de distância por estrada.
Na mesma noite das minhas aventuras no "tobogã da morte", como era conhecido localmente, tive que ajudar a levar uma colega turista ao hospital depois que ela quebrou o tornozelo após cair no rio.
Enquanto um grupo de nós a ajudava a subir a margem do rio em direção à estrada mais próxima, onde uma ambulância conseguia chegar, passamos por uma floresta que parecia estar em chamas com a luz incandescente de centenas de milhares de vaga-lumes.
Um lembrete de que, apesar de toda a loucura, a beleza natural não pode deixar de se intrometer em Vang Vieng.
O perfil dos visitantes também mudou, de acordo com Cleyet-Marrel: a balança da cidade que antes era dominada pela presença de mochileiros ocidentais, pende agora a favor dos turistas asiáticos.
"Ainda há muitos mochileiros e festas, mas também há muitas famílias viajando, casais de todas as idades e grupos chineses e coreanos, assim como pessoas do Laos vindo de Vientiane para o fim de semana", disse Cleyet-Marrel.
A cidade também está mudando fisicamente, expandindo-se para a margem oeste do rio Nam Song, com mais acomodações rurais fora do centro urbano, em ambientes mais tranquilos.
Mantendo-se seguro em Vang Vieng
- Embora incidentes de envenenamento por metanol sejam muito raros, eles tendem a envolver bebidas alcoólicas contaminadas, então fique com a cerveja para estar numa posição segura
- Leve bastante água e protetor solar com você em caminhadas solo e diga às pessoas para onde você está indo antes de partir
- Não misture álcool com atividades ao ar livre de qualquer tipo
- Evite drogas. Embora ainda disponíveis, elas continuam ilegais no Laos e operações envolvendo policiais à paisana são comuns.
- Alugue uma motocicleta ou scooter somente se você estiver confiante que pode pilotá-la. Acidentes envolvendo turistas são comuns. Se você alugar uma, certifique-se de verificar e documentar danos pré-existentes - golpes envolvendo taxas inesperadas de conserto e reparo são comuns.
Novas ligações de transporte foram tão transformadoras quanto a repressão do governo.
Em 2021, a tão esperada ferrovia Boten-Vientiane foi inaugurada, unindo Laos à China e conectando Vang Vieng a outras grandes cidades do Laos em tempo recorde.
"O trem conecta Vang Vieng a Luang Prabang em menos de uma hora — costumava ser cinco horas numa estrada muito desconfortável", disse Cleyet-Marrel.
"Há também uma nova rodovia que conecta Vang Vieng a Vientane em 90 minutos. Essas coisas impactaram muito o turismo em Vang Vieng, pois trazem pessoas aqui por dois ou três dias que talvez não tivessem vindo antes. Isso está contribuindo para a mudança do clima geral."
Embora o fluxo de visitantes chineses seja em grande parte explicado pela nova linha ferroviária internacional, o aumento do interesse dos turistas coreanos por Vang Vieng tem a ver com o reality show sul-coreano Youth Over Flowers, que filmou um episódio aqui em 2014.
De acordo com Vigié, as mudanças vistas em Vang Vieng devido à repressão do governo de 2012 e às novas ligações de transporte foram inicialmente quase extremas demais — tanto que acabaram precisando de um salvador improvável.
"De certa forma, a crise da covid proporcionou uma pausa útil no rápido desenvolvimento de Vang Vieng", disse ele.
"Forçou muitas empresas a fechar e restaurou um nível de tranquilidade que era necessário para receber as novas ondas de visitantes trazidas pelo trem de alta velocidade."
No entanto, esse alívio não está mais disponível agora, e as recentes mortes de turistas mostram que, apesar de todas as mudanças ocorridas em Vang Vieng, pode não demorar muito para que a cidade saia dos trilhos novamente.
Um dos principais fatores determinantes, disse Vigié, será se o governo central permanecer envolvido o suficiente para manter algum controle sobre a cidade.
"Os eventos trágicos da semana passada são um lembrete dramático da importância crítica dos mecanismos de controle do governo", disse ele.
"É muito difícil prever como Vang Vieng se desenvolverá no futuro. É um lugar muito pequeno e não é preciso muito para desequilibrá-lo. Mas estou pessoalmente otimista."