Oriente Médio

Hamas apela a Trump para pressionar Netanyahu por trégua em Gaza

Grupo extremista palestino pede ao presidente eleito dos EUA para pressionar Israel a pôr fim à guerra na Faixa de Gaza e aceitar cessar-fogo. Líbano estuda proposta americana de trégua entre o movimento xiita Hezbollah e Exército judeu

Donald Trump recebe Javier Milei, presidente da Argentina (C), e o bilionário Elon Musk (segundo da esquerda para a direita), na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida  -  (crédito: Presidência da Argentina/AFP)
Donald Trump recebe Javier Milei, presidente da Argentina (C), e o bilionário Elon Musk (segundo da esquerda para a direita), na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida - (crédito: Presidência da Argentina/AFP)

O grupo extremista islâmico palestino Hamas se disse "disposto" a aceitar um acordo de trégua na Faixa de Gaza e exortou o republicano Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, a pressionar Israel para que ponha fim aos combates. "O Hamas está disposto a alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza, caso uma proposta seja apresentada e com a condição de que (Israel) a respeite", declarou à agência France-Presse Basem Naim, chefe do escritório político do Hamas.

Naim pediu a Trump, que assumirá o poder em 20 de janeiro, que convença o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, "a interromper a agressão" em Gaza. "O Hamas informou aos mediadores que é favorável a qualquer proposta que leve a um cessar-fogo definitivo e à retirada militar da Faixa de Gaza, permitindo o retorno dos deslocados, um acordo sério para a troca de prisioneiros, a entrada de ajuda humanitária e a reconstrução (do território)", acrescentou Naim.

Aaron David Miller, especialista em Oriente Médio do Woodrow Wilson International Center (em Washington), descarta que o pedido do Hamas a Trump surtirá qualquer efeito. "Se houver progresso, será no front norte (fronteira com o Líbano). Os EUA estão envolvidos no rascunho de um documento que contempla a maior parte das queixas de Israel. Se o Hezbollah concordará ou não, é incerto. No Líbano, os israelenses conquistaram muito do que queriam fazer", explicou ao Correio

De acordo com Miller, um acordo em Gaza exigiria decisões de Netanyahu que poderiam levar o governo ao colapso. "Netanyahu concorda com operações no norte de Gaza. As Forças de Defesa de Israel (IDF) não têm a intenção de abandonar o território. As chances de um acordo em Gaza, antes ou durante o governo de Trump são bem pequenas", afirmou.

Flagrante do desabamento de prédio atingido em bombardeio israelense, em Ghobeiry, bairro de Beirute
Flagrante do desabamento de prédio atingido em bombardeio israelense, em Ghobeiry, bairro de Beirute (foto: Ibrahim Amro/AFP)

O estudioso duvida que Trump pressionará Israel por um cessar-fogo. "Se houver pressão, será pela normalização das relações israelo-sauditas. Netanyahu precisa fazer concessões significativas nesse sentido", acrescentou Miller. Ele aposta que Trump terá outras prioridades no início do mandato: a relação com a China, uma possível trégua entre Ucrânia e Rússia e o foco em temas domésticos, como a deportação de milhões de imigrantes e o indulto para os simpatizantes que atacaram o Capitólio.  

Diretor do Projeto de Inteligência do Instituto Brookings (em Washington) e ex-funcionário da CIA, Bruce Riedel concorda. "Trump é o líder mais pró-Israel de todos os tempos, e não irá restringir Netanyahu", disse ao Correio. "Netanyahu sabe que um cessar-fogo será seguido por um inquérito sobre como foi pego de surpresa pelo massacre de 7 de outubro."

Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, assegura que o Hamas sobreviverá, independentemente da duração da guerra. "Embora Trump possa exercer pressão sobre Netanyahu, ele não será presidente durante os próximos dois meses. Cabe a Joe Biden fazer essa pressão para mudar a posição de Netanyahu", avaliou. 

Líbano

O Líbano estuda uma proposta dos EUA para um cessar-fogo na guerra entre Israel e o movimento fundamentalista xiita Hezbollah. O premiê libanês, Najib Mikati, e o presidente do Parlamento, Nabih Berri, receberam um plano de 13 pontos, que prevê trégua de 60 dias. 

Vice-diretor de pesquisa do Centro Malcolm H. Kerr Carnegie para o Oriente Médio (em Beirute), Mohanad Hage Ali explicou ao Correio que a meta de Netanyahu no Líbano é possibilitar que Israel faça bombardeios se acreditar que os libaneses não fazem o bastante para conter o Hezbollah. "Isso tornaria o Líbano um protetorado israelense. Tais condições são inaceitáveis para o Hezbollah."

EU ACHO...

2014. Crédito: Arquivo Pessoal. Aaron David Miller, especialista do Woodrow Wilson InternacionalCenter for Scholars (Washington).
Aaron David Miller, especialista do Woodrow Wilson International Center for Scholars (Washington) (foto: Fotos: Arquivo pessoal)

"Um cessar-fogo em Gaza exigiria a libertação de centenas de prisioneiros palestinos, muitos deles condenados ou acusador por assassinarem israelenses. Também dependeria de uma grande retirada de forças militares de Gaza. Netanyahu não fará isso, a menos que tenha um contingente internacional que impeça o Hamas de se rearmar. O Hamas sobreviverá. Não como uma organização militar, mas como como uma insurgência. Gaza é uma armadilha para Netanyahu."

Aaron David Miller, especialista em Oriente Médio do Woodrow Wilson International Center (em Washington)

Mohanad Hage Ali, vice-diretor de pesquisa do Centro Malcolm H. Kerr Carnegie para o Oriente Médio (em Beirute)
Mohanad Hage Ali, vice-diretor de pesquisa do Centro Malcolm H. Kerr Carnegie para o Oriente Médio (em Beirute) (foto: Arquivo pessoal )

"Trump é um aliado e amigo de Netanyahu. Se há algum denominador comum em seu governo, é o compromisso fime com o premiê de extrema-direita e com sua agenda. Netanyahu prefere manter o status quo em Gaza, com a habilidade israelense para atacar e executar operações militares quando necessário. Um acordo de segurança exige que o Hamas se renda, e seria difícil imaginar um acordo mediado por Trump nas circunstâncias atuais."

Mohanad Hage Ali, vice-diretor de pesquisa do Centro Malcolm H. Kerr Carnegie para o Oriente Médio (em Beirute)

Milei celebra "o maior retorno político da história"

Na noite de quinta-feira, o presidente argentino, Javier Milei, foi recebido pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. A reunião, seguida de jantar, contou com a presença do chanceler argentino, Gerardo Werthein, e do executivo bilionário Elon Musk. "Foi o maior retorno político da história, desafiando todo o 'establishment' político, inclusive arriscando a própria vida", disse Milei, ao apresentar Trump no palco. "Graças a isto, hoje o mundo é um mundo muito melhor. Hoje, sopram os ventos da liberdade, sopram com muito mais força", acrescentou o argentino. Elon Musk foi nomeado por Trump como diretor do Departamento de Eficiência Governamental. 

  • Flagrante do desabamento de prédio atingido em bombardeio israelense, em Ghobeiry, bairro de Beirute
    Flagrante do desabamento de prédio atingido em bombardeio israelense, em Ghobeiry, bairro de Beirute Foto: Ibrahim Amro/AFP
  • 2014. Crédito: Arquivo Pessoal. Aaron David Miller, especialista do Woodrow Wilson InternacionalCenter for Scholars (Washington).
    Aaron David Miller, especialista do Woodrow Wilson International Center for Scholars (Washington) Foto: Fotos: Arquivo pessoal
  • Mohanad Hage Ali, vice-diretor de pesquisa do Centro Malcolm H. Kerr Carnegie para o Oriente Médio (em Beirute)
    Mohanad Hage Ali, vice-diretor de pesquisa do Centro Malcolm H. Kerr Carnegie para o Oriente Médio (em Beirute) Foto: Arquivo pessoal
postado em 16/11/2024 06:00
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