Estados Unidos

Trump faz nomeações polêmicas para o comando da Justiça e da Saúde; entenda

Indicação do deputado Matt Gaetz para o cargo de procurador-geral é alvo de críticas de especialistas, que citam investigações sobre crimes sexuais. Adepto de teorias conspiratórias e antivacina, Robert F. Kennedy Jr. é confirmado por Trump

Donald Trump passa ao lado do então deputado Matt Gaetz, depois de julgamento sobre o caso envolvendo propina para a ex-atriz pornô Stormy Daniels  -  (crédito: Mike Segar/AFP)
Donald Trump passa ao lado do então deputado Matt Gaetz, depois de julgamento sobre o caso envolvendo propina para a ex-atriz pornô Stormy Daniels - (crédito: Mike Segar/AFP)

Ao anunciar o nome de Matt Gaetz para ocupar a chefia do Departamento de Justiça, Donald Trump rasgou elogios ao futuro procurador-geral dos EUA. "Matt é um advogado profundamente talentoso e tenaz. (...) Ele é um defensor da Constituição e do Estado de Direito. Matt vai desenraizar a corrupção do Departamento de Justiça, devolvê-lo à sua verdadeira missão de combate ao crime, e apoiar nossa democracia e nossa Constituição", escreveu o republicano.

Trump tem motivos de sobra para depositar suas fichas no novo procurador-geral. Caberá a ele a missão de arquivar os processos federais aos quais Trump responde. Além de Gaetz, mais um nome polêmico foi confirmado pelo presidente eleito em 5 de novembro: Robert F. Kennedy Jr, um antivacina convicto e adepto de teorias da conspiração, será o Secretário de Saúde. 

Trumpista fervoroso e considerado inexperiente por muitos congressistas, Gaetz é alvo de investigação do Comitê de Ética da Câmara dos Representantes por uso de drogas ilícitas, má conduta sexual, aceitação de presentes inapropriados, concessão de privilégios e favores especiais a indivíduos com quem mantinha um relacionamento pessoal e tentativa de obstruir inquéritos do governo sobre seu comportamento. A Constituição dos EUA determina que todos os indicados pelo presidente eleito, inclusive Gaetz, precisam ter os nomes aprovados pelo Senado.

"Este nomeado é lamentavelmente desqualificado para o cargo. Houve uma investigação na Câmara dos Representantes sobre supostas relações sexuais que ele teria mantido com garotas de 17 anos. Por ter ofendido muitos de seus companheiros no Congresso, não é de surpreender que a Câmara divulgue o relatório sobre seus crimes sexuais, a fim de forçar o bloqueio de sua indicação. Ninguém gosta dele, além de Trump", explicou ao Correio Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York. "Além de ser totalmente desqualificado para o cargo, Gaetz não tem nenhuma experiência relevante."

Professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal, Barbara McQuade também ressaltou o fato de Gaetz ter sido investigado por envolvimento em tráfico sexual de crianças. O Departamento de Justiça se recusou a acusá-lo, e ele negou todas as acusações. "Espera-se a divulgação de um relatório, por parte do Comitê de Ética da Câmara, para a manhã de hoje. Com sua renúncia da Câmara, depois de ser nomeado, Gaetz retirou da Câmara a jurisdição para divulgar o relatório", afirmou à reportagem. 

McQuade lembrou que Gaetz fez vários comentários em apoio a Trump e contra o Departamento de Justiça. "Ele declarou que os funcionários públicos federais devem ser obrigados a 'seguir', ou seja, obedecer ao seu mestre como se fossem cães. À luz das promessas de Trump de buscar vingança contra seus adversários políticos, parece que ele encontrará em Gaetz um cão de ataque para ajudá-lo a cumprir com suas promessas", advertiu. 

Jacob Shively, professor do Departamento de Governo da Universidade da Flórida Ocidental, concorda que Gaetz "quase não tem experiência relevante" para a posição de procurador-geral. "Ele é formado em direito e trabalhou brevemente em uma firma de advocacia local, antes de ser eleito para a legislatura da Flórida. Desde então, tem sido um político profissional, mas não ocupou cargos executivos", admitiu à reportagem. Para Shively, a falta de experiência e a tendência de Gaetz de alienar os republicanos significa que sua aprovação pelo Senado dos EUA não está garantida. "Muitos políticos de seu partido ficaram surpresas com a escolha e vários senadores expressaram ceticismo e em relação à sua indicação."

Robert F. Kennedy Jr.: cargo é uma recompensa pela lealdade a Trump
Robert F. Kennedy Jr.: cargo é uma recompensa pela lealdade a Trump (foto: Olivier Touron / AFP)

Negacionismo

Robert F. Kennedy Jr., sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, foi recompensado por desistir da candidatura independente à Casa Branca, em agosto, e apoiar Trump. O presidente eleito avisou que deixaria RFK "agir livremente" sobre as políticas de saúde e de alimentação, o que causou preocupação em muitos cientistas. "Por muito tempo, os americanos foram oprimidos pelo complexo industrial de alimentos e pelas empresas farmacêuticas, que têm se envolvido em enganação e desinformação, quando se trata de saúde pública", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social, ao anunciar a escolha.

O republicano garantiu que o Departamento de Saúde "terá um grande papel em ajudar a garantir que todos sejam protegidos de produtos químicos nocivos, poluentes, pesticidas, produtos farmacêuticos e aditivos alimentares que contribuíram para a esmagadora crise sanitária neste país". "O senhor Kennedy restaurará essas agências ao Padrão Ouro de Pesquisa Científica e será um farol de transparência, para acabar com a epidemia de doenças crônicas e tornar os Estados Unidos grandes e saudáveis novamente!", acrescentou. Em entrevista à emissora NBC News, RFK avisou que não vai tirar as vacinas "de ninguém", mas reiterou que recomendará a eliminação do flúor do abastecimento de água. 

EU ACHO...

2018. Crédito: Arquivo Pessoal. Mundo. Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York.
Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York. (foto: Arquivo pessoal)

"Donald Trump selecionou Matt Gaetz, este candidato não qualificado, por sua absoluta lealdade. Ele fará tudo o que Trump pedir, inclusive rejeitar todas as acusações criminais pendentes e acusar os inimigos do presidente eleito de crimes. Mesmo que não haja base factual para fazê-lo."

Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York

Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan
Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal (foto: Wikipedia)

"Gaetz não tem as credenciais que se esperaria de um procurador-geral, como respeito dentro da profissão jurídica, serviço como promotor e experiência em um papel de liderança no Departamento de Justiça. Gaetz não tem nenhuma dessas coisas. Seus principais atributos parecem ser sua disposição para criticar verbalmente os rivais de Trump."

Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal

  • Robert F. Kennedy Jr.: cargo é uma recompensa pela lealdade a Trump
    Robert F. Kennedy Jr.: cargo é uma recompensa pela lealdade a Trump Foto: Olivier Touron / AFP
  • 2018. Crédito: Arquivo Pessoal. Mundo. Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York.
    Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York. Foto: Arquivo pessoal
  • Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan
    Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal Foto: Wikipedia
postado em 15/11/2024 06:00
x