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"Disclaimer": atuação frenética de Cate Blanchett se destaca em suspense de vingança 'envolvente'

Cate Blanchett intepreta Catherine Ravenscroft, uma famosa jornalista investigativa que recebe anonimamente um romance no qual ela é, indiscutivelmente, a personagem central

Catherine é atormentada pelo passado -  (crédito: APple tv)
Catherine é atormentada pelo passado - (crédito: APple tv)

Disponível no Apple TV +, a nova série Disclaimer traz dois nomes que por si só já valem o "play" na sua TV: Cate Blanchett, atriz ganhadora de dois Oscars (por Blue Jasmine e O Aviador); e o diretor mexicano Alfonso Cuarón, que também já levou duas estatuetas para casa (por Roma e Gravidade).

Neste texto, a crítica de cinema da BBC Caryn James explica por que deu 4 de 5 estrelas para a produção "inteligente e belamente filmada".

Em seus filmes mais deslumbrantes, como Filhos da Esperança, Alfonso Cuarón confia que o público vai acompanhar sua direção, por mais sinuoso que seja o caminho narrativo.

Essa abordagem brilha em Disclaimer, uma série cheia de reviravoltas que aborda o tema eterno — e mais atual do que nunca — da ficção versus realidade.

Cate Blanchett protagoniza no papel intrigante de Catherine Ravenscroft, uma famosa jornalista investigativa que recebe anonimamente um romance no qual ela é, indiscutivelmente, a personagem central, uma mulher deplorável.

Disclaimer pode não trazer uma nova perspectiva sobre como nossa imaginação preenche as lacunas da realidade, mas Cuarón e Blanchett tornam a série uma experiência envolvente e inteligente.

Cuarón escreveu e dirigiu todos os setes episódios, desacelerando o ritmo relação à obra original, o romance de 2015 de Renée Knight.

A história alterna entre passado e presente, revelando detalhes gradualmente, inicialmente com certa confusão intencional.

Vemos um jovem casal fazendo sexo em um trem viajando pela Europa, mas ainda não sabemos quem são.

Em seguida conhecemos um professor aposentado de Londres com o nome peculiar de Stephen Brigstocke, interpretado por Kevin Kline com um prazer diabólico.

Stephen acaba de descobrir um romance escrito por sua falecida esposa.

Reconhecendo Catherine na história, ele publica o livro sob um pseudônimo e o envia para a jornalista, com o aviso usual encontrado em obras de ficção alterado para: "Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas não é mera coincidência".

Cate Blanchett queimando um livro na pia
APple tv
Catherine é atormentada pelo passado

Não é o papel mais desafiador que Blanchett já interpretou, mas ela está, como sempre, extremamente convincente, intensificando o sofrimento de Catherine a cada nova provocação de Stephen, que ameaça arruinar sua vida.

Ele a culpa por uma tragédia que o marcou e, em busca de vingança, segue enviando fotos ainda mais impactantes que o próprio romance.

Blanchett navega pela atuação com maestria. Catherine se torna cada vez mais frenética, mas ainda assim permanece simpática em seu desespero, independentemente de como ela possa — ou não — ter agido anos antes.

Kline interpreta Stephen com grande precisão. Ele está profundamente abalado pela perda da esposa, falecida há nove anos, e anda por aí vestindo o velho cardigã rosa dela.

Ao mesmo tempo, revela-se amargo em relação aos seus ex-alunos. À medida que seu plano avança, ele finge ser um velho triste quando conveniente, mas logo dá as costas e exibe um sorriso ardiloso que revela sua verdadeira intenção.

Stephen se torna desprezível, mas Kline é sempre fascinante de assistir.

Kodi Smit-McPhee é comovente como o filho infeliz e sem rumo de Catherine.

Já Sacha Baron Cohen, um pouco deslocado no elenco, interpreta o marido de Catherine, Robert, com uma peruca incompreensivelmente ruim.

Sua atuação engessada torna Robert mais tolo e ingênuo do que o personagem pretendia ser.

A primeira parte da série apresenta o enredo de vingança e os esforços de Catherine para encontrar — e silenciar — Stephen.

Grande parte dos episódios do meio da série é dedicada a flashbacks, muitos dos quais se passam na Itália. Os grandes diretores de fotografia Emmanuel Lubezki e Bruno Delbonnel criam uma estética etérea e sedutora por lá, mas também conseguem fazer até os dias mais chuvosos de Londres parecerem radiantes.

Lesley Manville está comovente no papel de Nancy, esposa de Stephen, que mergulha em uma depressão profunda após a morte de seu filho adolescente, Jonathan (Louis Partridge).

Outros flashbacks recriam cenas do romance escrito por Nancy, com Leila George interpretando uma Catherine mais jovem.

Essa parte do meio também é a mais sensual da série, lembrando que Cuarón é um mestre do erotismo sutil, algo que remonta ao filme E a Tua Mãe Também (2001).

Aqui, ele carrega as palavras e os olhares com tensão sexual. No entanto, Nancy não poderia ter testemunhado tudo o que escreveu no livro, e a história de Cuarón se torna ainda mais provocante.

Numa narração de fundo em primeira pessoa, frequentemente ouvimos Stephen explicando seus planos, tornando o público cúmplice de seu esquema.

Mas a narração alternada do ponto de vista de Catherine, onde uma voz sem corpo (Indira Varma) a chama de "você", é apenas irritante. Quando uma Catherine angustiada se olha no espelho após ler o romance, ouvimos: "Você já viu esse rosto antes. Esperava nunca mais vê-lo. Sua máscara caiu."

Blanchett nos permite ver o que Catherine está sentindo. Não há necessidade de explicar seus pensamentos.

Narradores são frequentemente não confiáveis e memórias são subjetivas, tanto na ficção quanto na realidade.

O motivo pelo qual alguns personagens de Disclaimer demoram tanto para perceber isso é um tanto difícil de entender. No entanto, isso quase não importa, já que Cuarón nos guia por esse constante e fascinante labirinto de possibilidades.

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BBC
Caryn James - Da BBC Culture
postado em 11/11/2024 16:41 / atualizado em 11/11/2024 17:53
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