Ocorreu ontem (10/11) o maior ataque à capital russa desde o início do conflito, em fevereiro de 2022. O Ministério da Defesa da Rússia afirmou ter abatido 34 drones ucranianos que tinham como alvo a região de Moscou, outros 36 em duas áreas que fazem fronteira com a capital russa e em três zonas fronteiriças ucranianas.
A ofensiva forçou o fechamento temporário de aeroportos na capital russa, feriu uma mulher de 52 anos e incendiou duas casas na localidade de Ramenskoye, segundo as autoridades locais. Há poucos dias, Moscou lançou um ataque maciço de drones contra a capital ucraniana, Kiev, que tem sido alvo de ataques quase diários no último mês.
Do outro lado, a Força Aérea ucraniana disse em comunicado que, por volta de 4h30 (horário de Brasília), 62 do "recorde" de 145 drones russos lançados haviam sido neutralizados em 13 regiões do país, informação também divulgada pelo presidente Volodymyr Zelensky, ontem (10/11), nas redes sociais.
"Ao longo da semana, a Rússia utilizou mais de 800 bombas aéreas guiadas, cerca de 600 drones de ataque e quase 20 mísseis de vários tipos. Esse terror não pode ser detido com palavras, e o assassinato de crianças e a perda de entes queridos não podem simplesmente ser esquecidos", acrescentou Zelensky no X (antigo Twitter). Até o momento, as autoridades de Kiev não relataram vítimas ou danos nem reivindicaram a responsabilidade pelos ataques contra Moscou.
Ainda nesse domingo (10/11), a Rússia afirmou ter conquistado a localidade de Vovtchenka, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. O vilarejo está localizado a cerca de 5 km de Kurakhov, cidade industrial que tinha, aproximadamente, 18 mil habitantes antes do conflito e abriga um grande depósito de lítio.
Pior mês russo
Nesse fim de semana, Vladimir Putin sancionou um tratado com a Coreia do Norte, que prevê, entre outras medidas, "assistência militar imediata" recíproca no caso de um ataque a qualquer um dos países. A lei de ratificação foi publicada pelo Kremlin na noite de sábado (9/11).
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As tropas russas sofreram, em outubro, o pior mês em relação a baixas desde o início da guerra da Ucrânia há quase três anos, afirmaram, ontem (10/11), as Forças Armadas britânicas. No período, uma média de 1.500 soldados russos morreram ou ficaram feridos por dia, disse o chefe do Estado-Maior de Defesa do Reino Unido, Tony Radakin, à BBC.
"A Rússia está perto das 700 mil pessoas mortas ou feridas (na guerra). É uma enorme dor e sofrimento que essa nação está tendo de suportar devido à ambição de Putin", acrescentou.
Enquanto ocorre a escalada do conflito, o Kremlin declarou que o presidente eleito dos Estados Unidos deu "sinais positivos" sobre a resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia. "Os sinais são positivos. Trump, durante sua campanha eleitoral, disse que vê tudo isso (o conflito na Ucrânia) por meio de acordos. E que ele pode chegar a um acordo que levará à paz", disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov, em entrevista à imprensa estatal.
Donald Trump conversou com o presidente russo e pediu que ele evite uma escalada na Ucrânia, publicou o jornal Washington Post neste domingo (10/11).
Apoio à Ucrânia
A vitória de Donald Trump nas eleições americanas trouxe preocupação para líderes europeus e para a Ucrânia, que têm receio de uma possível redução do apoio dos Estados Unidos à resistência contra a invasão russa. A postura crítica do republicano em relação ao apoio militar e financeiro oferecido pelo governo Biden à Ucrânia, somada a seus elogios a Putin, aumentam as incertezas sobre a política americana no conflito.
Durante visita a Kiev no sábado, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, reforçou o compromisso do bloco europeu com a Ucrânia. "Ninguém sabe exatamente o que o novo governo fará. Mas temos que aproveitar esta oportunidade para construir uma Europa mais forte e mais unida, e uma das manifestações de nossa unidade, força e capacidade de agir é nosso papel no apoio à Ucrânia", afirmou Borrell, em sua última viagem oficial ao país antes de deixar o cargo no próximo mês.
Para o analista geopolítico Gustavo Glodes Blum, doutor em geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a vitória de Trump pode provocar divisões dentro da própria União Europeia. "Líderes mais autoritários, como Viktor Orbán na Hungria, veem com bons olhos a presença de Trump. Já políticos de regimes mais abertos — na França, na Alemanha, na Espanha, sobretudo — temem a capacidade de aliança da extrema-direita apoiada por Trump nas próximas eleições. Isso dificulta a articulação interna à União Europeia, que depende de votos unânimes para a tomada de medidas políticas", explica.
Blum aponta, também, que a postura de Trump pode impactar a configuração geopolítica da Ucrânia. "Cabe lembrar que o líder russo, Vladimir Putin, não tem problemas com a adesão da parte oeste da Ucrânia à União Europeia e ao seu livre-mercado, uma vez que trata-se, sobretudo, de agricultura intensiva de exportação. Sua questão é o acesso às regiões de produção mineral e industrial no leste do país. Esse é o desenho que, sob Trump, pode vir a tomar lugar na região", afirma o analista.
Desde o início da invasão russa, o apoio europeu à Ucrânia alcançou cerca de US$ 125 bilhões (R$ 720,5 bi), enquanto os Estados Unidos já desembolsaram mais de US$ 90 bilhões (R$ 519 bi), segundo dados do Kiel Institute divulgados pela Agence France-Presse.
Palavra de especialista
No logo de campanha, Trump afirmou que iria "resolver isso aí". Esse termo, tão maleável quanto vago, serve também para a situação na Ucrânia. Existem algumas alternativas à disposição. Uma delas seria promover uma redução do envio de auxílio militar dos EUA para a Ucrânia. Para conseguir isso, porém, Trump precisa do apoio do Congresso, de maioria republicana e que não vê com bons olhos uma Rússia poderosa. Outra alternativa é o desengajamento dele, enquanto presidente, de cúpulas e encontros diretos com a liderança ucraniana, já que a política externa é de responsabilidade do cargo de presidente.
Observando, porém, o histórico do primeiro mandato de Trump, quando ele conseguiu aproximar monarquias conservadoras árabes de Israel, parece que uma terceira opção é mais provável. Trata-se do retorno da pressão máxima no Irã. Isso desviaria as atenções do conflito russo-ucraniano, permitindo a realização de cúpulas de negociação entre representantes de Kiev e de Moscou.
Essa opção, deve enfrentar oposição europeia, já que a OTAN deve tentar manter o conflito como pauta importante das relações entre os seus países-membros. A seleção de Mark Rutte como secretário-geral da OTAN visa já essa aproximação com Trump e a linha-dura da política externa americana, cujo foco deve ser o Irã e a China.