Corrida à Casa Branca

Gafe de Biden sobre eleitores de Trump deixa Kamala em alerta

Em videoconferência com a ONG Voto Latino, presidente compara simpatizantes de Trump a "lixo" e é obrigado a se justificar. Candidata democrata tenta se distanciar do deslize. Magnata republicano ataca adversários

Era tudo o que Kamala Harris não precisava. A seis dias das eleições, a campanha da candidata democrata passou a quarta-feira no modo contenção de danos. Em uma videoconferência com a organização não governamental Voto Latino, na terça-feira (29/10), o presidente Joe Biden cometeu uma gafe que causou um terremoto político, principalmente entre os republicanos. O deslize veio quando o titular da Casa Branca comentou as declarações feitas por um humorista durante o comício de Donald Trump, em Madison Square Garden, na cidade de Nova York, no último domingo (27). No evento, Tony Hinchcliffe comparou Porto Rico a "uma ilha flutuante de lixo". "Deixem-me dizer algo. (...) Os porto-riquenhos são gente boa, decente e honrosa. O único lixo que vejo flutuando são seus simpatizantes", afirmou Biden, em alusão a Trump. O magnata republicano não perdeu tempo. Em comício na Carolina do Norte, disparou: "Joe Biden finalmente disse o que ele e Kamala realmente pensam sobre nossos apoiadores; ele os chamou de lixo". 

"Minha resposta para Joe e Kamala é muito simples: você não pode governar os Estados Unidos se não ama os americanos", acrescentou Trump, que retrucou e disse que o governo Biden é um lixo. Também nesta terça-feira, o ex-presidente denunciou "fraudes em larga escala" nas eleições presidenciais, na Pensilvânia, um dos sete estados-pêndulo (que alternam a preferência por republicanos e democratas).

Reprodução - Joe Biden, presidente dos Estados Unidos: deslize em videoconferência

A própria Kamala viu-se obrigada a se pronunciar sobre a gafe de Biden, que ocorre no momento em que ela e Trump travam uma disputa acirrada nas pesquisas. "Permitam-me ser clara, estou em desacordo com qualquer crítica às pessoas baseada em quem votam", declarou a jornalistas na Base Conjunta de Andrews, perto de Washington. No fim da noite de terça-feira, Biden tentou se desculpar. Em publicação na rede social X, afirmou que se referia à "retórica odiosa cuspida por simpatizantes de Trump no Madison Square Garden". "Sua demonização de latinos é inconcebível. Isso é tudo o que eu quis dizer. Os comentários naquele comício (de Trump) não refletem quem somos como nação."

Rogers M. Smith, professor de ciência política da Universidade de Pensilvânia, afirmou ao Correio que Biden perdeu boa parte de sua fluência. "O presidente tentava dizer que o comediante (Tony Hinchcliffe) que chamou Puerto Rico de ilha flutuante de lixo, além de outros oradores no comício de Madison Square Garden que também deram declarações ofensivas, eram lixo. Ele não quis dizer que todos os eleitores de Trump são lixo, como a Casa Branca esclareceu. Infelizmente, se expressou mal", explicou. Em relação à resposta do republicano, que acusou Biden de ser um "governo de Lixo", Smith avalia que a campanha de Trump aproveitou a frase desajeitada do presidente para alegar que Biden pensa algo que ninguém realmente acredita que ele pense. "É uma típica difamação de campanha."

Historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island), James Naylor Green descarta que a gafe de Biden impacte a campanha democrata. "Durante o comício de Trump, milhões de porto-riquenhos foram ofendidos. Foi um insulto muito forte. Isso foi muito mais sério e pode fazer a diferença na Pensilvânia, em Wisconsin e em Michigan, estados decisivos que abrigam uma população de porto-riquenhos que poderá votar em Kamala", disse ao Correio. "É muito difícil saber o que ocorrerá, mas penso que Kamala vencerá. Pela energia que estou vendo, pelos índices de votação antecipada e pelo número de mulheres que estão indo às urnas."

De acordo com Rogers Smith, a Pensilvânia pode ser o fiel da balança nas eleições. "Dos sete estados chamados de 'campo de batalha', a Pensilvânia tem a maior população e, por isso, mais votos do Colégio Eleitoral. Essa condição o torna, provavelmente, decisivo. Em todos os estados-pêndulo, a disputa está muito apertada", disse o especialista.

Chandan Khanna/AFP - Donald Trump dança após discursar em Rocky Mount, na Carolina do Norte: "Você não pode governar os Estados Unidos se não ama os americanos"

Fraude e pesquisas

Uma sondagem feita pela emissora CNN e pelo instituto SSRS em três estados-pêndulo mostra que, em Michigan, Kamala lidera com 48% a 43% dos votos; em Wisconsin, ela tem o apoio de 51% dos eleitores, contra 45% para Trump. No entanto, ambos estão empatados na Pensilvânia, com 48%. Na terça-feira, uma sondagem da revista The Economist e do instituto YouGov aponta 49% para Kamala e 47% para Trump em âmbito nacional. Outra pesquisa, da agência Reuters e do Ipsos, indica virtual empate — 44% para o magnata e 43% para a atual vice-presidente. 

Na terça-feira, Trump avisou, nas redes sociais, que "coisas muito ruins" estavam acontecendo na Pensilvânia e pediu à polícia que fizesse "seu trabalho, sem demora". As autoridades judiciais de um condado da Pensilvânia anunciaram no fim da semana passada a abertura de uma investigação sobre um lote de 2.500 solicitações de inscrição eleitoral que continham informações de identidade incorretas. 

EU ACHO...

"Donald Trump talvez até obtenha algum benefício político com a frase pobre de Joe Biden. Talvez um pouco, mas não muito. Biden não está mais na chapa presidencial. As pesssoas que se aproveitam essa observação são simpatizantes ferrenhos de Trump."

Rogers M. Smith, professor de ciência política da Universidade de Pensilvânia

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