Corrida à Casa Branca

'É hora de virar a página', defende Kamala no último discurso da campanha

Em discurso no local em que Trump incitou simpatizantes a invadirem o Capitólio, em Washington, a candidata democrata oferece um "caminho diferente" aos eleitores, acena com a conciliação e alerta que republicano busca poder sem controle

Em 6 de janeiro de 2021, depois de perder a oportunidade de ser reeleito, Donald Trump fez uma declaração, diante de milhares de seguidores, reunidos no Ellipse, um parque situado atrás da Casa Branca, em Washington. "Nós lutamos. Lutamos como o inferno. Se você não lutar como o inferno, não terá mais um país", afirmou o então presidente. "Vamos caminhar pela Avenida Pensilvânia. (...) E vamos para o Capitólio", acrescentou, pouco antes de o prédio do Congresso dos EUA ser invadido. Depois de 1.392 dias e a uma semana das eleições, Kamala Harris escolheu o mesmo local para os argumentos finais de sua campanha e defendeu uma nova geração de líderes nos EUA.

Em um discurso de pouco menos de meia hora, a candidata democrata prometeu governar para todos os 341,9 milhões de norte-americanos e acusou Trump de querer "poder sem controle". "Nós sabemos o que Donald Trump tem em mente. Mais caos, mais divisão, políticas que ajudam aqueles que estão no topo e prejudicam todos os outros. Eu ofereço um caminho diferente e peço seu voto."

O evento no Ellipse começou às 19h35 (20h35, em Brasília), com a interpretação do hino nacional por uma menina negra. Kamala subiu no palco logo em seguida. "Em uma semana, vocês terão a chance de tomar uma decisão que impactará diretamente sua vida, a vida de sua família e o futuro deste país, que amamos. Provavelmente, será o mais importante voto seu", declarou. "Essa eleição será uma escolha sobre se teremos uma nação enraizada na liberdade para todos os americanos ou dirigida pelo caos e pela divisão", advertiu.

A democrata, então, citou o discurso feito por Trump em 2021. "Sabemos quem é Donald Trump. Ele é a pessoa que, deste mesmo local, quatro anos atrás, mandou uma multidão armada para o Capitólio para invalidar a vontade do povo em eleições livres e justas." Ela lembrou que americanos morreram em decorrência do ataque.

"Inimigos de dentro"

De acordo com Kamala, Trump pretende usar o Exército dos EUA contra cidadãos que simplesmente discordarem dele. "Pessoas que ele diz serem 'inimigos de dentro'. Isso não é um candidato a presidente que pensa em tornar a sua vida melhor. Isso é alguém instável, obcecado por vingança, consumido pela queixa e em busca do poder sem controle", alertou. A candidata afirmou que "é hora de virar a página do drama, do conflito, do medo e da divisão". "É hora de uma nova geração de liderança nos Estados Unidos", acrescentou, bastante ovacionada pelo público. Kamala se disse pronta a oferecer essa liderança. 

Pouco depois, acenou com um gesto de conciliação. Lembrou que não é perfeita e comete erros, e prometeu sempre escutar o povo, mesmo aqueles que cidadãos que não votarem nela. "Eu trabalharei diariamente para construir consenso e obter compromissos para fazer as coisas. Se vocês me derem a chance de lutar em seu nome, não haverá nada no mundo que ficará no meu caminho", declarou Kamala.

Ao apontar para a Casa Branca, a democrata afirmou que, caso eleito, Trump caminhará até o Salão Oval com uma lista de inimigos nas mãos. "Eu irei até lá com uma lista de coisas a serem feitas, prioridades para o povo americano. Trabalharei por todos: democratas, republicanos e independentes", disse.

Professor de história da Universidade de Harvard, Alex Keyssar explicou ao Correio que Kamala oferece uma visão unificadora de sua presidência e otimista, em contraste com o discurso de Trump em 6 de janeiro. "Ela procurou passar uma imagem de Washington como pacífica e repleta de gente esperançosa, e não raivosa."

David Lublin — diretor e professor do Departamento de Governo da American University (em Washington) — disse à reportagem que Kamala se esforçou para apresentar um contraste em relação ao adversário. "O discurso transmitiu a mensagem de que o voto em Kamala é pela normalidade, e não pelo retorno ao caos e aos esforços para minar a democracia."

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