Após um apoio à coalizão governante maior do que o esperado, o segundo turno das eleições presidenciais no Uruguai, em 24 de novembro, promete ser muito acirrado. Opositor de esquerda, Yamandú Orsi, candidato do ex-presidente José "Pepe" Mujica, larga em vantagem. Porém, o governista de centro-direita Álvaro Delgado deve contar com o apoio dos parceiros do atual mandatário, Luis Lacalle Pou.
A Frente Ampla, de Orsi, obteve 43,9% dos votos, mais de 17 pontos percentuais à frente do ex-secretário da Presidência de Pou, segundo os resultados oficiais da apuração. No entanto, o cenário é de dificuldade. O Partido Nacional, de Delgado, será reforçado pelos parceiros do governo: o Partido Colorado (centro-direita, 16% segundo os resultados oficiais), Cabildo Abierto (direita, 2,6%) e o Partido Independente (centro-esquerda, 1,7%).
"A coalizão tem uma vantagem clara. Será difícil para a Frente Ampla captar os votos remanescentes para vencer", disse Nicolás Saldías, doutor em Ciências Políticas e analista sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), à agência de notícias France Presse (AFP).
União
A união de forças foi demonstrada ainda na noite de domingo. Cada grupo que integra o bloco governista estava representado no palco da "celebração pela democracia", organizada pela coalizão. O Partido Constitucionalista Ambientalista, que recebeu 0,49% dos votos, se juntou a eles.
"A coalizão é o projeto político mais votado deste país", enfatizou Delgado, que, ontem, realizou uma reunião para "planejar a campanha rumo ao segundo turno". Andrés Ojeda, o advogado midiático de 40 anos que reviveu o histórico Partido Colorado, afirmou que sua formação é uma peça-chave. "Não se ganha o governo sem nós", advertiu.
Por sua vez, Orsi, que aposta em devolver a esquerda ao cargo presidencial, instou os militantes a redobrar esforços para conseguir a vitória no próximo mês. "Vamos, nesses 27 dias, com mais vontade do que nunca", exortou a milhares de pessoas que participaram para "celebrar a esperança" com a Frente Ampla na Cidade Velha de Montevidéu.
Na noite de domingo, tanto Orsi, com o escudo nacional ao fundo, quanto Delgado, rodeado de bandeiras uruguaias, evitaram fanatismos partidários e mandaram mensagens conciliadoras. "Ganhando quem ganhar, será difícil para qualquer um dos dois grandes blocos construir governabilidade", observou o cientista político Adolfo Garcé, professor da Universidade da República.
Além da eleição presidencial e da renovação do Parlamento bicameral, dois plebiscitos foram submetidos no domingo à população: um sobre o regime previdenciário e outro sobre segurança cidadã. O mais polêmico propunha reduzir a idade mínima de aposentadoria de 65 para 60 anos e proibir os planos privados de aposentadoria. Ambos fracassaram, com apenas 39% de votos a favor.