A apenas 13 dias das eleições norte-americanas, a vice-presidente dos Estados Unidos e candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, saiu à frente da residência oficial, em Washington, para condenar o adversário republicano por supostos elogios ao líder nazista Adolf Hitler. "John Kelly, ex-chefe de gabinete de Donald Trump, disse que gostaria de ter generais como os de Hitler. Donald Trump disse isso porque não quer militares leais à Constituição dos EUA, mas a ele", declarou Kamala.
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"É profundamente preocupante e incrivelmente perigoso que Donald Trump invoque Adolf Hitler, o homem responsável pelas mortes de 6 milhões de judeus e centenas e milhares de americanos. Tudo isso é evidência sobre de quem se trata Trump. Isso é uma janela sobre quem Donald Trump realmente é. (...) Sabemos o que Donald Trump quer: ele quer um poder sem controle", acrescentou a candidata.
De acordo com a democrata, "Trump está cada vez mais desequilibrado e instável". "Em um segundo mandato, pessoas como John Kelly não estarão lá para servirem se proteção contra suas propensões e ações", advertiu Kamala. Ela também alertou que a escolha, em 5 de novembro, está nas mãos do povo.
"Autoritário"
Na terça-feira (22/10), John Kelly afirmou ao site The Atlantic e ao jornal The New York Times que o magnata "admira ditadores". "Certamente o ex-presidente está na área da extrema direita, é claro que é um autoritário, admira pessoas que são ditadores, ele mesmo disse isso. Portanto, sem dúvida, se encaixa na definição geral de fascista, com certeza", declarou o ex-alto assessor. Kelly revelou que, em mais de uma ocasião, o republicano fez "comentários positivos" sobre Hitler. "Ele (Trump) disse, mais de uma vez: 'Você sabe, Adolf Hitler fez algumas coisas boas também", relatou.
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, assegurou a jornalistas que o presidente Joe Biden concorda com Kelly sobre o fato de Trump ser um fascista. "O ex-presidente disse que será um ditador a partir do primeiro dia (de governo)", disse. "Não podemos ignorar isso. E não podemos nos esquecer do que ocorreu em 6 de janeiro de 2021", emendou, em alusão à invasão do Capitólio por simpatizantes de Trump. Na terça-feira, em evento de campanha em New Hampshire, Biden foi muito aplaudido ao pronunciar uma frase inesperada. "Temos que prendê-lo", disse ele sobre Trump. "Prendê-lo politicamente", apressou-se Biden a esclarecer a declaração.
O ex-presidente democrata Barack Obama participou de um evento de arrecadação de fundos de campanha, na segunda-feira (21), durante o qual disse que Trump é alguém em torno do qual os nacionalistas brancos se unem explicitamente. Até o fechamento desta edição, Trump não tinha se pronunciado, pessoalmente, sobre os ataques de Kelly e de Kamala. No entanto, o porta-voz da campanha do Partido Republicano, Steven Cheung, acusou o ex-chefe de gabinete de fabricar histórias e desmentiu que o magnata tenha elogiado Hitler. De acordo com ele, Kamala é uma "perdedora total que está cada vez mais desesperada" e sugeriu que a retórica "perigosa" da democrata colocou a segurança de Trump em xeque.
Autor de American Hitler: Trump and his cult of followers (Hitler americano: Trump e seu culto de seguidores) e pós-doutor em sociologia pela Universidade de Michigan, Ken Levi é direto ao relacionar o magnata republicano ao fascismo. "Trump não apenas admira o líder nazista, mas segue a cartilha de Hitler. Por que ele está se saindo tão bem nas pesquisas? A resposta é simples: racismo", afirmou ao Correio, por e-mail. "Racismo contra os negros, hispânicos, migrantes; racismo contra qualquer um que não seja americano cristão branco. Como eu disse: puro Adolf Hitler."
Em entrevista à emissora de televisão CNN, em 28 de janeiro de 2021, Irene Butter, sobrevivente dos campos de concentração, hoje com 94 anos, disse que jamais imaginava que os EUA veriam "ecos dos nazistas e de seus regimes". "O que aconteceu em Washington, em 6 de janeiro de 2021, foi uma tentativa de golpe de nosso governo e um desmoronamento de nossa democracia, que protege todos os nossos direitos. Vi uma camiseta com as palavras 'Campo de Auschwitz', bem como outros símbolos e slogans antissemitas usados pelos manifestantes", relatou.
Trump e Kamala chegam à reta final de campanha tecnicamente empatados em uma das eleições mais imprevisíveis das últimas décadas. Uma projeção feita pelo site The Hill, nesta quarta-feira (23), mostra que o republicano teria 52% dos votos contra 48% para a democrata. No entanto, com um sistema de votação baseado nos delegados do Colégio Eleitoral, nem sempre o ganhador do voto popular vence a eleição. Em 2000, Trump teve mais votos do que Biden, mas perdeu o pleito.
Evento simbólico
Um dirigente da equipe de campanha do Partido Democrata disse à agência France-Presse que Kamala fará as "alegações finais" contra Trump na próxima terça-feira (29/10), em Washington. O comício ocorrerá no Ellipse, um parque em frente à Casa Branca, onde o republicano incentivou seus apoiadores antes do ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Segundo a fonte, Kamala, que por muitos anos foi procuradora, pretende destacar as diferenças entre ela e Trump e de acusá-lo de fomentar a divisão nos Estados Unidos. Na ocasião, ela tentará convencer os americanos sobre o risco representado pelo retorno de Trump ao poder. O republicano aposta nos eleitores indecisos para ter direito a mais quatro anos no comando dos Estados Unidos.