Estudantes de universidades públicas argentinas escalaram o repúdio, nesta quarta-feira (16), ao corte orçamentário adotado pelo governo do presidente Javier Milei, com dezenas de aulas públicas, ocupações de faculdades e uma marcha com tochas prevista para a noite, como prévia de uma mobilização federal ainda sem data definida.
Na Universidade de Buenos Aires, as faculdades de Direito, Medicina, Filosofia e Letras, Ciências Econômicas, Ciências Sociais e Ciências Exatas levaram suas aulas para as ruas em sinal de protesto contra o ajuste econômico nas universidades públicas, onde estudam 80% dos matriculados no ensino superior.
Milei vetou uma lei aprovada em agosto, que concedia mais recursos às universidades, alegando que o texto colocava em risco sua política de equilíbrio fiscal, apesar de o Congresso estimar que representava apenas 0,14% do PIB.
Os fundos eram destinados a compensar a perda do poder de compra dos salários de professores e pessoal administrativo, no contexto de uma inflação que alcançou em setembro 209% em relação ao ano anterior, uma das mais altas do mundo.
No bairro de Caballito, estudantes de Letras colocaram carteiras e lousas na calçada, onde os professores ministraram aulas em voz alta, com interrupções no trânsito que foram toleradas pela polícia.
Em outras faculdades, os estudantes ocuparam prédios em um clima tranquilo, permitindo a realização de aulas em seu interior.
Sindicatos de professores anunciaram uma greve de 24 horas para esta quinta-feira e outra de 48 horas entre segunda e terça-feira da próxima semana.
Ao entardecer desta quarta-feira, estudantes e professores farão uma marcha com tochas saindo das sedes das faculdades de Medicina, Odontologia e Ciências Econômicas, no centro da cidade, até o prédio da Secretaria de Educação, a cerca de sete quadras.
"Todos unidos por aumento de salários e orçamento, defendamos juntos a universidade pública", diz a convocação.
Já foram realizadas outras duas marchas que tiveram grande adesão.
O clima é de efervescência em todas as universidades públicas, com assembleias diárias nas quais se discute a definição de uma data para uma marcha federal em Buenos Aires.
Milei alertou na terça-feira que não cederá às reivindicações e anunciou que ordenará auditorias nas universidades, que acusou de esconder "curros" (crimes).
A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, afirmou nesta quarta-feira que os protestos estudantis "querem gerar uma revolta no modelo chileno", citando as violentas mobilizações que ocorreram no país vizinho em 2019.
"O objetivo deles é gerar uma revolta e tentar desestabilizar" o governo, acusou Bullrich. "Não vamos permitir, não somos tolos".
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