Guerra no Oriente Médio

Israel ameaça destruir Líbano como fez com Gaza

Em discurso dirigido aos libaneses, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pede que "libertem o país do Hezbollah, antes que a nação caia no abismo de uma longa guerra". Premiê cita o território palestino, ao alertar sobre risco de "destruição e sofrimento"

A caçada ao movimento xiita libanês Hezbollah se estendeu até Damasco, capital da Síria, onde sete pessoas morreram durante um ataque aéreo israelense. Depois de 180 foguetes terem sido lançados do Líbano em direção ao norte de Israel — 100 deles tiveram como alvo a cidade costeira de Haifa —, as forças de Benjamin Netanyahu bombardearam bastiões xiitas na região sul de Beirute e provocaram "destruição maciça", segundo a agência de notícias oficial libanesa. Quatro prédios desabaram no bairro de Burj al Barajneh", acrescentou. A intensificação dos bombardeios veio pouco depois de um discurso ameaçador do premiê israelense. "Eu digo a vocês, povo do Líbano: Livrem seu país do Hezbollah para que esta guerra possa terminar", declarou o chefe de governo, em um vídeo em inglês dirigido aos libaneses.

"Vocês têm a oportunidade de salvar o Líbano, antes que ele caia no abismo de uma longa guerra, que levará à destruição e ao sofrimento, como vemos na Faixa de Gaza", alertou Netanyahu. O premiê confirmou que Israel eliminou Hashem Safieddine, primo e potencial sucessor do xeque Nasrallah. Cofundador do Hezbollah, Narallah foi morto durante ataque ao quartel-general da milícia, em Beirute, em 27 de setembro. Safieddine teria morrido em outro bombardeio, na última quinta-feira (3/10). "Nós eliminamos milhares de terroristas, incluindo o próprio Nasrallah, e o substituto dele, e o substituto de seu substituto", garantiu Netanyahu. As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram a descoberta e a destruição de um túnel de 20m de comprimento escavado pelo Hezbollah na fronteira.

A imprensa israelense reportou, na noite desta terça-feira (8/10), que uma corrida diplomática para evitar a escalada no Oriente Médio não envolve o governo Netanyahu. Os EUA, o Irã e países árabes negociam uma trégua em todas as frentes de batalha (Líbano e Faixa de Gaza).

Moradora de Beirute, a estudante de direito Tatiana Hasrouty, 19 anos, acredita que Netanyahu sabe que o povo libanês está impotente para tomar qualquer ação contra o Hezbollah. "Parece que estamos sendo responsáveis por ações que estão fora do nosso controle, especialmente quando muitos de nós discordamos do poder do Hezbollah sobre o Líbano. Não quero ser vítima do controle do Hezbollah sobre o meu país. Meu pai foi e não quero que isso se repita", afirmou ao Correio Hasrouty, cujo pai, Ghassan, morreu durante a explosão do porto de Beirute, em 4 de agosto de 2020. "A mensagem de Netanyahu simplifica demais a situação, ao colocar a responsabilidade pelo conflito no povo libanês, como se, sozinhos, pudéssemos 'libertar' o país do Hezbollah."

O também advogado Richard Moussa, morador de Mar Roukoz, a 7km do centro de Beirute, vê um exagero no discurso de Netanyahu. "Em Gaza, a situação é diferente, porque os isralenses destruíram completamente o enclave, e um grande número de civis foi morto, apesar dos alertas recebidos. No Líbano, os ataques são direcionados aos centros e depósitos do Hezbollah, além de suas lideranças", disse à reportagem.

Chuva de foguetes

Apesar de sofrer pesados bombardeios no sul do Líbano e em Beirute, o Hezbollah conseguiu disparar mais de 100 foguetes contra Haifa — um dos maiores ataques do movimento desde o início do atual conflito. "Todos os dias conseguimos vários êxitos", disse Naim Qasem, número dois do grupo. "Nossas capacidades continuam sendo boas" e a liderança do movimento está "perfeitamente organizada", acrescentou.

Jack Guez/AFP - Morador inspeciona apartamento danificado por foguete em Kiryat Yam, perto da cidade de Haifa

Morador de Haifa, o advogado paulista Carlos Eduardo Bekerman, 46 anos, contou ao Correio que ouviu três alertas antiaéreos sucessivos. "No terceiro, corremos até o bunker e escutamos o míssil do Domo de Ferro subindo para interceptar o foguete do Hezbollah. Dentro do abrigo, escutei explosões intensas. Foi assustador. Uma mulher chorava. Depois dos três alertas, tivemos que correr para o bunker mais duas vezes."

EU ACHO...

Arquivo pessoal - Tatiana Al Hasrouti, 23 anos, estagiária de direito, moradora do bairro de Sin El Fil (leste), em Beirute

"Como libaneses, não podemos parar o Hezbollah. Queremos que ele pare? Sim. Queríamos nos envolver na guerra? Não. No entanto, o Hezbollah não se importa com o que queremos ou não. Não temos armas nem meios de parar o Hezbollah. Até mesmo o nosso primeiro-ministro interino, Najib Mikati, disse, no começo da guerra e mais recentemente, que não pode decidir por um cessar-fogo, assim como não foi capaz de interromper o conflito."

Tatiana Hasrouty, 19 anos, estudante de direito, moradora de Beirute

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