SEGUNDO TURNO EM SP

Quem é coronel Mello Araújo, ex-comandante da Rota indicado por Bolsonaro para ser vice Nunes

O militar da reserva defendeu abordagens policiais diferentes entre moradores de bairros nobres e da periferia e ganhou notoriedade ao presidir a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Com 100% das urnas apuradas, a disputa pela prefeitura de São Paulo foi para o segundo turno e ficou entre Ricardo Nunes (MDB), que recebeu 29,48% dos votos, e Guilherme Boulos (Psol), com 29,07%.

A chapa de Nunes, que é o atual prefeito, conta com Ricardo de Mello Araújo, de 53 anos, como candidato a vice.

Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mello Araújo se apresenta nas redes sociais como bacharel em Direito e Educação Física, com pós-graduação em fisiologia do exercício pela Universidade de São Paulo (USP).

Ele também ficou conhecido por ocupar dois postos de destaque em São Paulo nos últimos anos. Mello Araújo foi comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), um batalhão de elite da polícia militar paulista, e também presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Nos dois cargos, ele acumulou elogios e polêmicas, que explicamos mais ao longo da reportagem.

Tradição familiar

O candidato a vice-prefeito representa a terceira geração de sua família a trabalhar na polícia paulista.

Segundo informações divulgadas por ele próprio, seu avô integrou a Força Pública e atuou durante a Revolução Constitucionalista de 1932.

Já seu pai fez parte do Batalhão de Choque e do Comando de Policiamento da Capital em meados dos anos 1980.

Mello Araújo formou-se na Academia Militar do Barro Branco no início dos anos 1990 e trabalhou durante muitos anos no interior do Estado, na região de Bragança Paulista.

Alguns anos depois, em meados de 2012, ele mudou-se para a capital, onde serviu como assessor da Secretaria de Segurança Pública.

Em 2017, o policial assumiu o comando da Rota, cargo que ocupou até 2019, quando entrou para a reserva.

Quando liderava a divisão de elite da força paulista, Mello Araújo deu uma entrevista ao portal UOL em que defendeu abordagens policiais diferentes de acordo com o bairro.

"É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado", declarou Mello Araújo em 2017.

"Da mesma forma, se eu coloco um [policial] da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui nos Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa do Jardins que está ali, andando.”

"O policial tem que se adaptar àquele meio que ele está naquele momento", defendeu ele.

Reuters
Bolsonaro é o padrinho político de Mello Araújo e condicionou o apoio a Nunes à indicação do candidato a vice-prefeito em SP

Alinhamento com o ex-presidente

Em diversas entrevistas dadas nos últimos meses, Mello Araújo conta que se aproximou de Bolsonaro a partir das eleições presidenciais de 2018.

À época, ainda como comandante da Rota, ele declarou publicamente que votaria no então deputado federal e candidato pelo extinto Partido Social Liberal (PSL).

Pouco tempo depois, já eleito presidente, Bolsonaro foi visitar o quartel comandado por Mello Araújo. A partir desse momento, de acordo com declarações de ambos, eles criaram uma relação de amizade e confiança.

Esse vínculo rendeu ao ex-comandante da Rota uma nomeação para a presidência da Ceagesp em outubro de 2020.

Em vídeos divulgados nas redes sociais à época, Bolsonaro pediu "um voto de confiança" a Mello Araújo.

"Tenho ele como companheiro, como amigo. [...] Pode ter certeza, ele fará uma excelente administração. [...] Acreditem: a indicação é pessoal minha", disse o então presidente.

A gestão de Mello Araújo na companhia de abastecimento paulista ganhou muitos elogios, mas também foi cercada de polêmicas.

Por um lado, apoiadores do ex-coronel defendem que ele organizou as finanças da entidade e acabou com uma série de práticas criminosas que supostamente aconteciam no local.

O próprio Nunes disse que ficou "encantado" com o trabalho de Mello Araújo na Ceagesp.

"Ele enfrentou o crime organizado, prendeu pessoas que faziam exploração sexual infantil, organizou as finanças, e isso é algo que muitas pessoas não sabiam", declarou o prefeito e candidato à reeleição em junho deste ano.

Por outro lado, a gestão do ex-policial no entreposto é criticada pela militarização de postos estratégicos — segundo o jornal O Globo, ele indicou 22 policiais para cargos comissionados da Ceagesp.

De acordo com a Folha de S.Paulo, sindicalistas que atuam no centro de distribuição também denunciaram abusos e intimidações durante a gestão de Mello Araújo.

O Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo, por exemplo, afirmou que três funcionários teriam sido coagidos a pedir demissão.

A reportagem, publicada em junho, destaca que o Ministério Público do Trabalho ajuizou uma ação contra a Ceagesp com base nesses relatos.

Ainda na gestão de Mello Araújo, uma sala na sede da Ceagesp, que fica na zona oeste da capital paulista, estava alugada para a instalação de um clube de tiro, informa o jornal O Globo.

O agora candidato a vice-prefeito saiu da presidência do armazém no início de 2023.

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Tarcísio de Freitas (à direita) também apoiou a escolha de Mello Araújo para a chapa de Ricardo Nunes (à esquerda)

Indicação à vice na chapa de Nunes

Desde o início da campanha eleitoral deste ano, Bolsonaro condicionou o apoio a Nunes à indicação do nome que ocuparia o cargo de vice-prefeito na chapa.

Foi assim que Mello Araújo acabou escolhido, apesar de uma resistência dos outros partidos que integram a coligação do emedebista.

Muitos temiam que o nome do ex-coronel pudesse afastar os eleitores de centro, menos alinhados com as bandeiras da direita encampadas pelo grupo bolsonarista.

Em entrevista ao Estadão Conteúdo em junho, o deputado federal Coronel Telhada (PP-SP) disse que Mello Araújo não tinha "traquejo político nem votos".

"A menos que Bolsonaro faça campanha para ele, será mais difícil a chapa decolar", disse Telhada à época.

Na mesma reportagem, o deputado estadual Delegado Olim (PP) chegou a declarar que nem o próprio Nunes estava entusiasmado com a indicação de Bolsonaro.

"Ele [Mello Araújo] não agrega nada, mas, como homem de partido, vou fazer campanha e ajudar a vencer a eleição", declarou ele.

Além do apoio explícito de Bolsonaro, a escolha de Araújo foi endossada pelo governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Em vídeos divulgados nas redes sociais, o ex-comandante da Rota e ex-presidente da Ceagesp, sempre reforça o vínculo com Bolsonaro.

Numa publicação feita no perfil de Instagram de Mello Araújo na sexta-feira (4/10), o ex-presidente afirma que o ex-policial é "o meu vice".

"Eu confio 100% nele, é uma pessoa fantástica", disse Bolsonaro.

“O Mello Araújo é uma pessoa que não vai ser um vice para atrapalhar o prefeito ou para ficar no gabinete. Pode ter certeza que ele vai ser ativo", projetou ele.

Se eleito, o candidato promete atuar nas áreas sobre as quais possui mais experiência, como segurança pública e esportes.

"Vocês vão ver um vice muito atuante, ajudando o prefeito a tomar conta", afirmou Mello Araújo num outro vídeo compartilhado no Instagram, onde ele soma 76 mil seguidores.

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