Um tribunal de La Paz iniciará, nesta quinta-feira (17), o julgamento criminal contra a ex-presidente boliviana Jeanine Áñez por supostamente planejar um "golpe de Estado" em 2019 contra o então presidente Evo Morales.
Detida em uma prisão em La Paz, Áñez já foi condenada a 10 anos de prisão em junho de 2022 por assumir a presidência de forma inconstitucional.
Junto com a ex-presidente, de 57 anos, começarão a ser julgados o ex-governador de Santa Cruz Luis Fernando Camacho e outras seis pessoas, entre elas ex-ministros, ex-comandantes militares e policiais e um líder social.
O Ministério Público os acusa de "terrorismo, associação criminosa e uso indevido de influências" após os protestos violentos que forçaram a renúncia de Morales em 2019, acusado então de cometer uma suposta fraude nas eleições em que buscava uma terceira reeleição.
O MP pede a Áñez e aos demais réus entre 15 e 20 anos de prisão, dependendo do grau de participação no terrorismo, a acusação mais grave que enfrentam. Camacho é acusado como autor deste crime e Áñez como cúmplice.
O Ministério Público afirma ter provas para que os acusados sejam condenados pelos fatos que "levaram ao colapso da ordem constitucional e à saída prematura do governo" de Morales.
Em novembro de 2019, Áñez, senadora da oposição, assumiu a presidência da Bolívia dois dias depois de Morales e seu então vice-presidente, Álvaro García, renunciarem em meio a convulsões sociais.
Morales começou a governar em 2006. Foi reeleito em 2009, 2014 e 2019, quando buscou um quarto mandato até 2025.
"Fantasioso, ilegal, uma farsa"
Áñez, que permaneceu na presidência por um ano, descreveu nesta semana o julgamento denominado "Golpe de Estado I" como "ilegal, fantasioso" e uma "farsa".
Na sua opinião, o partido no poder decidiu prendê-la sem "nenhuma prova de nada".
Ela também rejeita o julgamento criminal ordinário e solicita que, na qualidade de ex-presidente, o principal tribunal do país examine o seu caso, com autorização prévia do Congresso.
A ex-presidente de direita enfrenta vários outros processos, todos relacionados com a crise de 2019, que deixou cerca de 20 mortos na repressão militar que se seguiu à mudança de governo.
O julgamento contra Áñez recebeu desde o início o apoio determinado do governo do presidente Luis Arce e Morales.
No entanto, a amarga disputa entre os dois pela candidatura presidencial do partido no poder nas eleições de 2025 poderia afetar o processo judicial.
Um tribunal em El Alto ordenou que Morales prestasse depoimento como testemunha por suposta manipulação política do processo contra Áñez.
O ex-presidente permanece resguardado na região cocaleira do Chapare, onde tem a sua base política, devido à possibilidade de o Ministério Público ordenar a sua prisão.
Morales está sendo investigado por estupro, tráfico e contrabando de pessoas, após o suposto abuso de uma menor de 15 anos com quem, segundo a acusação, teve uma filha em 2016.
O líder indígena, que rejeita o processo como "mais uma mentira", acusa Arce de orquestrar sua possível prisão.
Gustavo Flores-Macías, pesquisador da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, disse à AFP que a Justiça boliviana está imersa em altos e baixos políticos.
O sistema judicial encontra-se agora "com um nível mais elevado de manipulação política" em comparação com outros na região, observou.
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